Conversa ao Pé
do Fogo.
Um dia como
outro qualquer...
Não sou perfeito, tenho defeitos
e muitas vezes errado na forma de comentar ou escrever. Sempre achei que o
escotismo é fácil demais para praticar e realizar. Sempre soube que ele é dos
jovens e sempre entendi meu papel quando me tornei adulto. Ninguem discute que o
adulto está lá para ajudá-los na formação moral cívica e espiritual. Poderíamos
dizer que seu método é simples demais. Quando B-P viu os jovens ingleses praticando
seus ensinamentos nos seus fascículos “Scouting for boys” ele logo sentiu a
chama de seu tempo em Charterhouse um aventureiro que se sentia bem nos bosques
dos arredores. Suas ideias não tinham ainda sido pinceladas por psicólogos ou
pensadores como hoje apesar de que teve muita colaboração de amigos militares ou
não.
Dizer de sua experiência
na Ilha de Brownsea, onde aprendeu com as patrulhas Maçarico, Corvo, Lobo ou
Touro foi muito importante no que pensava ser um método não único, mas exclusivo
para a formação dos rapazes. O Escotismo para Rapazes foi à base de tudo. Se
considerarmos sua experiência na Guerra de Transvaal ou no cerco de Mafeking poderíamos
dizer que Frederick Roussel Burnham teve grande responsabilidade pelo seu
sucesso. Foi onde surgiu o Chapéu Stetson pela primeira vez e hoje no Brasil escondido
por falta de interesse dos nossos dirigentes da EB. Não adianta pensar que os
Ashantis os nativos que tanto o temiam o tenham apelidado de Impisa “O Lobo que
nunca dorme”. Aids To Scouting (ajuda a exploração militar) percorreu mundo.
Se nos primórdios
o escotismo era feito de forma simples, sem complicação, totalmente voltado
para os jovens os tempos e os adultos se encarregaram de mudar a antiga idéia
das atividades ao ar livre para uma escola de meninos que pouco difere das atividades
escolares ou na sua vida pessoal. O fazer fazendo, o sonho do acampamento, as
grandes aventuras estão agora estigmatizadas por normas e exigências. Os jovens
estão indo embora. Quase não ficam muito tempo no escotismo.
Dizem que o
escotismo no mundo de hoje globalizado não pode mais se prender as suas origens
do passado. O passado se foi e o presente é outro. Se no passado de ontem os
jovens eram mais acolhedores, mais sonhadores, mais participativos e mais
educados, eles ao seu modo ainda sonhavam em ser um explorador de horizontes,
um herói ou um conquistador de aventuras. Hoje os adultos lhe deram a pecha
diferente. Quando digo os adultos é porque só eles falam pelos jovens. Não
existem pesquisas, incentivo nada para que o jovem possa dar opinião no seu crescimento.
Nossos lideres não procuram ouvi-los quando querem modificar ou impingir um
novo programa para eles. Pensei que o Nucleo dos Jovens lideres teriam lugar
nas mudanças que são feitas. Primeiro não são tão jovens (de 16 a 27 anos) e
segundo ainda não vi nada importante que fizeram.
Compare você mesmo como esta modernidade está
impingindo na mentalidade da formação da juventude. Crianças politizadas,
fechando escolas, crianças que não conversam presos a uma telinha de um
celular. Crianças que não tem responsabilidades com horários chegando atrasados
até mesmo no seu crescimento quando se prestam a fazer um vestibular ou ENEM. Crianças
que chamam os mais velhos de você, de mano, de tio etc. E isto sob o aplauso
dos novos pensadores e psicólogos que vem na sociedade moderna o melhor caminho.
Se antes os
chefes eram apenas adultos crianças, capazes de se colocar ao mesmo nível dos
seus jovens, compreender a suas necessidades, aspirações e desejos sem deixar
de argumentar que a preocupação era com cada um individualmente, hoje nossos
lideres pensam de maneira diferente. Falar no escotismo simples sem pomposidade
ou grandiosidade, insistir no Sistema de Patrulhas que hoje é pouco divulgado, falar
no escotismo dos jovens feito para eles e não os adultos que cercam, falar em
saber ouvir e sentir o que pensam está tudo mudado. Os cursos hoje com raras exceções
tem currículos diferentes. Quem sabe está mesmo chegando a hora do Escotismo
Escola, o escotismo do SIGUE, o escotismo institucional nada que trezentos e poucos
reais por dois dias possa ajudar ao novo Chefe no seu conhecimento, sem
esquecer as várias formas de pagamento com cartões...
Enquanto isto
vamos vendo os jovens sentadinhos ouvindo o adulto sabe tudo, ou fazendo o
escotismo de filas como na escola para onde quer que vão ou até o escotismo de
Camping que muitos insistem em fazer. Enfim, este não é e nunca foi meu
escotismo. Agradeço a Deus pelas oportunidades que tive, de acampar centenas de
vezes, de aventurar-se por lugares desconhecidos, por poder conversar
abertamente com meu Chefe que não ficava a me dizer o que fazer. Ainda penso
naquele escotismo que muitos dizem ser ultrapassado. Pois é “Aids To Scouting”
ficou no passado.
Difícil voltar no tempo e fazer escotismo de
outras eras. Hoje o escotismo de demanda tem sua nova forma empresarial. Os
valores vem em primeiro lugar. Perspectivas
de mudança ainda não surgiu no horizonte. A aceitação de tudo sem pedir a
palavra ou emitir uma opinião nos tornou somente seguidores. Não posso afirmar
se Baden-Powell concordaria com tudo isto ou não. Afinal temos aí centenas de
chefes e dirigentes para contradizer suas ideias. Enquanto isto vemos um
escotismo que vai aos poucos fugindo de suas tradições e que poucos
participantes ainda guardam boas lembranças para propagandear ao mundo o que
fez, aprendeu e as vantagens de ter sido Escoteiro!