terça-feira, 12 de junho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Os velhos tempos de outrora...



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Os velhos tempos de outrora...

...”As estrelas desmaiam, concluiu o lobo Gris, de olhos erguidos para o céu. Onde me aninharei amanhã?... Porque dora em diante os caminhos são novos...”!

Como começar esta crônica? No começo ou no fim? Não sei. Dei-me conta que envelheci, minhas ideias meus conhecimentos ficaram em um passado distante. Sempre digo para mim no espelho: - Vado Escoteiro esqueceu que os tempos são outros, os velhos tempos de outrora ficaram no passado. Como sempre acontece procuro sempre um motivo para acreditar que ainda posso ajudar, sugerir, colaborar no escotismo que sempre fiz e sempre amei. Mas os tempos ôh os tempos! Ficaram para trás. Hoje já é o amanhã e eu fiquei parado no ontem.

Eis que me deu um estalo, gritei: - Eureca! Que tal um grupo só de gente que quer conversar e trocar ideias sobre o Movimento Escoteiro? - Brilhante! Pus-me a campo. Aprendi alguma coisa e lá estava eu montando um Grupo do WhatsApp Escotismo e Suas Histórias. Começou com trinta, oitenta, cento e vinte e agora cento e quarenta membros. Alguns entraram e saíram outros continuam. A turma é boa, conversa, troca ideias, sugestões de todos os tipos aparecem. Sempre tem um que entende de alguma coisa que eu não entendo.

Opa! Lá estou eu navegando, tentando voltar ao escotismo de campo, de aventuras, de descobertas, de noções de monitoria, de patrulhas, de matilhas, de... De... Tantas coisas que me perdi. Os participantes quando escrevo se calam. Ninguém me segue. Sou um poste pregando no deserto do escotismo moderno. Um me pergunta sobre portadores de deficiência, jovens de necessidades especiais. Tento responder. Sou leigo. Mas sou fechado por um motorista escoteiro mais conhecedor. E ele desfia respostas, dá exemplos e eu? Fico na berlinda. Ali não é minha praia.

Toco no tronco da sabedoria de BP. E os monitores? Quantos já fizeram acampamentos com seus monitores? Quantos por ano? Deu certo? Valeu? – Pluft! Ninguém responde. Um baixinho escreve: - Teve uma corte de honra distrital! Nossa? Corte de honra distrital? Calei-me. É tudo moderno. Começo novamente e logo meu tema fica na berlinda. Programas... Chefe Como fazer um programa para lobos baseado na mística do Rei Arthur? Putz grila! Empaquei.

Deixo a turma se esbaldar. Um ensina outro exemplifica, outro aplaude e a turma vai crescendo, alguns até já dizem que é o melhor grupo escoteiro de WhatsApp que participaram. Sorrio... O velho escoteiro para sua jornada. Tira sua mochila, abana “a quentura” com seu chapéu olha em volta, lembra-se da “Pinguela” do Rio Corrente. Bela pinguela. Bem feita, uns dez metros não mais. No meio um galho enorme empaca e serve de guia. Era o lugar perfeito para tirar o Vulcabrás, sentar, por os pés nas águas corrente do rio e se deleitar...

Estou lá agora, sentado, olhos semicerrados, á agua fria é gostosa demais. Peixinhos beliscam, deixo-os brincar... Sinto o vento soprando, não tenho cabelos lisos mas eles balançam uma ponta ali outra acolá! Deixo a mente voar pelo espaço, quem sabe olhar lá de cima a subida que ainda tinha que fazer para chegar na Fazenda Tapioca. Acampava sempre lá. Juvenal e Dona Helena sabiam receber: - Ei moçada! Ficam para o almoço? Olhos para a escoteirada da Patrulha, sinto saudades de todos, talvez não seja saudade, seja necessidade de viver tudo outra vez.

Á água se diverte em minhas canelas. Quantos sorrisos do Romildo, do Tadeu, do Joãozinho, do Chiquinho, do Rael e do Fumanchu. Velhas amizades, velhos sorrisos, saudades demais dos velhos motivos, saudades das coisas que se foram e não voltarão. Abro os olhos, lá está escrito no Whatsapp: Estou saindo do grupo. Acho que não gostou. Pena era um Velho Lobo que muito poderia contribuir, melhor que eu pois ele se adaptou aos novos tempos e eu? Eu não!

- Estou aqui escrevendo, minha mente está lá na “Pinguela” do Rio corrente. Ainda não abri o Whatsapp. Estou sem vontade. Será que posso ser útil em alguma coisa: É Vado, eu sei como se sente. Sente saudades e do carinho que cada amiga lhe dava, das momices dos contos dos velhos amores. Fecho os olhos... Tá na hora de parar de escrever. Ninguém ou quase ninguém lê tudo que escrevo. Extenso demais. Volto à mente para os novos amigos, tem hora que nem sei o que eles querem de mim. Mal os conheço, estão longe são vistos por uma maquinha que não era do meu tempo. Mas sinceramente? Tenho eles no coração.

WhatsApp... Oi! Tudo bem? Vamos falar do moderno? – Pô Chefe que moderno? Estou ocupado, fazendo um trabalho para meu caderno da Insígnia de Madeira. Pediram-me para falar sobre Montessori e suas ideias melhores que a de Baden-Powell. Pois é. Montessori. Eu me matei no Sistema de Patrulha, meu caderno voltou por não explicar bem sobre a corte de honra, e hoje? Hoje meus amigos são novos tempos, os meus? Ficaram lá atrás na “Pinguela” do rio Corrente!

Nota – Porque gostar ainda do Movimento Escoteiro? – Quem sabe pelo seu ar de saudosismo que não se perde nos horizontes, quem sabe pela retidão de muitos que ali ficaram estacas... Quem sabe por sentir que ainda existe em alguns a confiança da lealdade, mas antes de tudo na passagem pela “Pinguela” do rio corrente que ensinava a gente a acreditar... Que o escotismo é belo e lá eu terei sempre o meu lugar!