sexta-feira, 1 de junho de 2018

Crônicas do Velho Chefe Escoteiro. A locomotiva ficou para trás.



Crônicas do Velho Chefe Escoteiro.
A locomotiva ficou para trás.

Brigo com minha consciência. Leve graças a Deus. Ela me acusa por não ter feito melhor. Nem sei bem o que é melhor. Passei boa temporada sem escoteirar, escrevendo, dizendo como chegar ao caminho do sucesso e vejo que não foi meu melhor caminho. Sucesso? O meu? O Seu? Ou o Dele? Cada um de nós escolheu o seu sucesso. Quem sabe é por isso que fica a duvida se o ontem foi melhor.

Sento na janela do tempo, outra era, outro céu outra cantiga... Não, desculpe, não havia tanta divergência. Na tropa éramos como irmãos. Nem sabíamos que exista a UEB onde morava Zeus... O Deus principal, governante do Monte Olimpo. Nem sabíamos de Hera sua mulher a rainha do Olimpo. Será que foi Poseidon que nos deu o dom de pensar? Deixo para lá Atena, Ares, Deméter, Apolo e Artêmis. Para nós era bom marchar, pisar na terra onde nascemos e nem pensar que poderia haver no futuro um Lula, um Alkmin, um Meireles e um Soldado que se diz valente chamado Bolsonaro que nunca terá meu voto.

Voo nas asas da minha imaginação. A vida era bela, tudo era tão simples sem empulhação. Um Chefe amigo, um Chefe irmão. Inimigo? Alguns mas que nunca usaram uma arma, quem sabe os punhos e a cara feia em cima do sorriso. Tudo às claras. Ainda não havia Comissão de Ética. A nossa ética era a Lei Escoteira. Puro nos pensamentos nas palavras e nas ações... UEB? Fiquei sabendo que existia quando um Comissário Viajante passou na nossa Xangri-lá. Coitado, nunca mais voltou na bela terra dos escoteiros que não entendiam o poder do nada!

Mas o tempo danadamente não para... E eis que a lei do Karma vai batendo forte na mente do Velho Escoteiro. Como ela dizia mesmo? “Colhemos o que plantamos”. Faz curso, lê o que não entendia, conhece os ditames da organização. E escoteiramente aceita o que para ele seria uma maneira de manter a fraternidade. – Bem vindo! Minha casa é sua casa! Fraternidade... Existia sim. Ninguém era de ninguém e todos eram de todos. Eita saudade danada...

Mas a guerra dos vaidosos chegou. Ele sem perceber vê que criou inimigos. Pensou que eram todos amigos e se enganou. Moço, volte para sua terra, aqui não é o seu lugar. Nunca fui de dar um passo atrás. Meu bastão é meu guia. Enfrentei. Se ganhei ou perdi até hoje não sei. Me mantive caqueano, briguento pelas minhas ideias que sempre achei ser a de Baden-Powell. Mas quem sou eu para me igualar... Aos donos do lugar!

Me dou um descanso. Deixo meu Vulcabrás no armário. Da pena da minha Parker 51 dou um salto para o teclado... Da minha Remington e depois a Olivetti. Mas danação, que coisa boa, inventaram uma maquina, quadrada hoje esticada onde você escreve o que quer e manda suas idéias para as plagas distantes do planeta terra. Que bom. Recebo um abraço virtual dos amigos do novo e do antigo continente. Até mesmo de um da Oceania e outro da Antártica. Quem diria em Valadarense?

Aí começou a saga do novo que passou para o velho escoteiro. O menino, o boy, o garoto, o pirralho passou a ser massa de manobra. A importância era o adulto chauvinista, ou o pacifista, aquele que colocava o pé na Montanha de BP e chutava sua filosofia como se fosse o novo Deus Escoteiro. Deus? Ele se achava assim, ou ainda se acha. Tomaram conta do paralelo 6, se uniram ao paralelo 1 e se declararam donos de algum que nunca foram seus.

Adianto a cartilha do conto de São Nunca. Chego logo no fim da estrada. Não tem caminho a evitar só a seguir. Não tem obstáculo. Tudo está lá no PAXTU e para isso o velho escoteiro tem de reverenciar... Curvar... Aceitar as novas regras, as novas normas... Um pirralho de fraldas que nunca viu um nó feito de cipó, que nem sabe andar pelas trilhas da mata do Tenente, que nunca viu o cantar de um sabiá é hoje o tal, o coisinha, o chefão, são meia dúzia ou uma dúzia deles mandando de roldão.

Aí o Velho Escoteiro descobre que não é mais o menino de outrora. Aquele do chapelão, da ordem unida, da formatura com garbo, do grito de Patrulha dado com a força de Hercules e seu vozeirão. Eles ditam as regras criadas debaixo de suas asas pois ninguém viu ninguém sabe o porquê delas. Os seguidores não importam. Suão suas camisas nos sábados de sol, de chuva de calor e de frio. Metem a mão no bolso para a beleza dos Chefes de Plantão. Fazer o que?

E quem liga? E quem se importa? Estão com os olhos voltados para seus meninos que acreditam ainda em um novo Brasil. Hino Nacional? Hino a Bandeira? O Rataplã? Necas... Hoje eles sabem ou cantam funk, Tem sim o funk da escola, o Funk escoteiro. O hino, a canção feita de melodia aos poucos deixa de existir. E é nesta hora que fico pensando se vale a pena continuar a escrever... Para quem? Para os gulosos do poder? Eles nem sabem que o Velho Escoteiro existe...

Tiro a minha querida roupa caqueana. Esqueço aquela que usei chamada traje. Passo longe da tal Vestimenta... Ainda não posso comprar e nem pagar, cara demais prá mim. Melhor colocar o pijama... Você já era meu caro Chefe, não tem mais estrada para pisar nem lugar para acampar. O Fogo do Conselho virou um Fogo Fato que um dia te pegou nas teias da chapada do Gavin e não existe mais. Deixa passar a saudade, amanhã quem sabe eu volto, com novas cantigas, com novos versos de um escoteiro que sempre amou o que fez!



Nota – “Dos Restos de Velhos Tempos”! - Para exemplo ainda continua a Lua Nas noites por sobre os novos edifícios; Entre as coisas de cobre é ela a mais inutilizável.   Já as mães contam de animais, chamados cavalos, que puxavam carros. É verdade que quando se fala de continentes já não são capazes de acertar com os nomes: Pelas grandes antenas novas Já dos velhos tempos 
Se não conhece nada. Bertold Brecht