quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Coisas de um Velho Chefe Escoteiro. A Taruíra.



Coisas de um Velho Chefe Escoteiro.
A Taruíra.

                  Uma noite qualquer... Estirado na poltrona da sala, lembrei-me de quando tirava folha por folha do Mal me quer. - “Mal me quer bem me quer, bem me quer mal me quer”... Dizem que dá sorte. Não sei. Estava com os olhos fechados. Célia me alerta: - Marido prenderam a Luz! – Perdi essa parte. Não sou noveleiro. Dizem que os velhos da quarta idade adoram uma novela e não é o meu caso, ainda estou na terceira e não cheguei lá. Vi-me tonto vendo capítulo por capítulo. Interessei-me. Agora esse capítulo farsesco de prender a menina é coisa repetida. A tal Dona ricaça e mal querida armou um plano que conhecemos de longa data.

                  Olhei a TV. Lá estava o Delegado Calcinha prendendo a coitada. E foi então que aconteceu. Vi na parede da sala uma Taruíra, mais conhecida como lagartixa. Não sei por que, mas tenho uma deixa com elas. Presas na parede andam como se estivessem dançando um chá-chá-chá. Já prestei atenção nelas mil vezes. E se um dia uma caísse? Nunca caíram. Sei que tem pessoas que tem pavor desses bichinhos que andam pelo teto e pelas paredes. Não sabem que elas são inofensivas para os humanos.

                  Olhei de novo a tela da TV. O malandro conta para a ricaça que o delegado roubou a calcinha da empregada. Ele tem uma tara por calcinha. Confesso que sou inocente nesta depravação, se é que é assim, sei lá! Bah! Melhor olhar a lagartixinha. Ela estava a minutos parada. Acho que viu um pernilongo. Adoro quando elas dão o bote. Valeu chupador de sangue! Lí que elas não têm veneno e nem transmitem doença. Dizem também que elas são nossas aliadas, comem moscas, mosquitos baratas aranhas e graças aos céus: - Pernilongos!

                  Voltei para a TV. Um arranca rabo da madame do Bordel contra a Rezadeira da cidade. Gosto desta parte. Deixo de olhar a Taruíra. A menina do Caraté, sua mamacita e seu paizinho brigam com o cafetão que quer levá-la pelo mundo para lutar... Com homens ou mulheres não importa. Ela é boa de briga. Olho para a parede... A Taruíra estática. A menos de um palmo um lindo gordinho e gostoso pernilongo. Tinha chupado meu sangue tipo O Positivo há minutos atrás. Que calma, que tranquilidade. Parecia que não estava ali.

                   Marido, a Ricaça achou a entrada para a mina d’água! E agora? Pensei com meus botões, e agora... Deixei o novelo, ou melhor, a novela. Queria ver a Taruíra dar o bote no maldito pernilongo. Vai se empanturrar com sangue do Velho Chefe Escoteiro que nem sangue tem mais. Kkkk. Saltou de banda, pegou o pernilongo no ar! Engoliu de uma só vez. Vi o sangue espirrar na parede! Eita Taruíra durona! Volto na TV o marido gritando que filha dele não vai ser homem. Linda a menina. Enquanto isso o filho mostra suas qualidades de dançarino.

                   Olho a parede e a Taruíra sumiu. Pança cheia foi para casa levar um pouco de sangue tipo O positivo para sua família. Sangue escoteiro e dos bons. Célia levanta da poltrona. – O que foi? Perguntei. O telefone marido está tocando. Há esta hora? Quase vinte e duas e trinta, quem será? – Célia fica branca. Marido é o Bolsonaro! Outra vez? Já me ligou várias vezes para assumir o ministério que eu quisesse. Não quero nenhum repeti várias vezes. Presidente! Se der um jeito naquela cambada do CAN bato palma e te dou uma mãozinha no Planalto!

                   Já estava de papo cheio desta turma de Curitiba. Mudam, saltam, aproveitam, processam, cobram os olhos da cara e se dizem melhores que meu ídolo Baden-Powell. Desde os anos Sarney que venho dizendo aos presidentes que não engulo essa turma de Curitiba. Ops, escoteiramente falando. Bolsonaro foi até simpático, disse que tinha general para dar e vender. Ia mudar o Brasil! Tudo bem presidente, mas mude também a liderança escoteira nacional.  Basta um AI numero 6. Eita liderança que se batizou EB. Será o que? - Escoteiros do Brasil, Estado Brasileiro ou Exército Brasileiro?

                   Bateram no portão. Olhei pela janela. Eu sabia, eram eles. A turma de Curitiba e seus sequazes. Sempre aparecem como fantasmas para incomodar um escoteiro velhinho como eu. Já me proibiram postar no Facebook e agora querem me destruir! Que seja corri no porão peguei minha faca mundial, meu canivete suíço e meu bastão de 1,70 de altura por duas e meia polegada com ponteira de aço. Eles iam conhecer o mineirinho que dá uma boiada para não entrar em uma briga e um boi para sair correndo!

                   Marido, marido! Acorda! Já são seis da manhã. Você não ia treinar para a São Silvestre hoje as quatro no Ibirapuera com seus amigos do Facebook? Não combinou quando os visitou no Asilo dos Velhos? - Putz! Estava sonhando? Esqueci-me do meu treinamento. Sai rápido com minha bengala e ao dar a volta no quarteirão o Onyx Lorenzoni me acenava dizendo que era inocente. Poxa, todo mundo é inocente, até eu com meus contos. Kkkk. Abraços amigos e seguidores de Baden-Powell. Como foi que disse o poeta escoteiro? Dormir, sonhar, contar estrelas no céu e achar uma Taruíra para olhar!