quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O último adeus de Baden-Powell. De 1940 a 2018.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O último adeus de Baden-Powell.
De 1940 a 2018.

Prólogo: - Não sei a data nem o ano que BP escreveu sua ultima carta de despedida. Como Criador de ventos inexistentes, encontrei um e aproveitei para me reinventar ali, ao seu lado, em PAXTU, em uma tarde qualquer depois do natal, mais precisamente em 26 de dezembro de 1940. Seus dias estavam contados, em 13 dias ele subiria ao céu, em uma nuvem azulada, diferente das cores de neve que habitavam a terra. Em sua varanda, usando uma nova Parker 100, cuja elegância e sofisticação tinha comprado meses antes... Avancemos na história...

Baden-Powell. Olhou no relógio, eram dezessete horas. O sol se punha atrás das colinas do monte Kilimanjaro. Seus olhos miúdos cansados de tantas aventuras olhava a página simples onde teve a ideia de escrever suas últimas palavras aos escoteiros do mundo. Acreditava que precisava deixar uma mensagem de força e fraternidade entre eles.

- Caros Escoteiros.
 BP – “Se por ventura vocês tiverem visto a peça “Peter Pan”, deverão estar lembrados de que o capitão pirata faz antecipadamente seu último discurso, porque receava que, possivelmente, quando chegasse sua hora, não teria tempo de fazê-lo”.

- Baden-Powell piscou os olhos cansados... Olhou novamente seu jardim, não era sua velha Inglaterra, mas considerava sua nova morada como sua segunda Pátria. Ajeitou a caneta em suas mãos, e continuou:

BP – “Acontece quase à mesma coisa comigo e, embora neste momento, eu não esteja morrendo – Mas creio que este dia se aproxima, quero enviar a vocês uma palavra de despedida. Pensem que estas serão as últimas palavras que dirijo a vocês e, por isso, peço que as leiam e reflitam profundamente sobre elas”...

- Baden-Powell sentiu os braços cansados, queria fechar os olhos e dormir. Lembrou-se de Mafeking onde dormir era um sonho que não podia sonhar. Lembrou-se de Brownsea e viu os rostos dos meninos com quem acampou pela primeira vez. Nunca pensou que o movimento seria tão grande como agora. Levantou os ombros como a se exercitar para mais uma batalha, mas desta vez era usar não um sabre, mas sua nova Parker 100.

- BP. – “Eu vivi uma vida muito feliz. Por isso, desejo que cada um de vocês também tenha uma vida feliz. Acredito que Deus nos colocou neste mundo maravilhoso para que sejamos felizes e para que aproveitemos a vida. A felicidade não provém do fato de sermos ricos, nem de sermos bem-sucedidos em nossas carreiras e, tampouco de sermos complacentes com nós mesmos”.

- Baden Powell parou de escrever. Ouvia vozes no andar de cima. Deviam ser as crianças a brincarem de esconde-esconde ou quem sabe algum jogo de tabuleiro. Ele sabia que os jogos seriam parte importante na formação que ele pretendia dar aos rapazes com seu novo método do Escotismo. Afinal as crianças gostam de brincar e desejam cada vez mais jogos mais brinquedos...

- BP – “O primeiro passo rumo à felicidade é dado quando, ainda jovens, nos empenhamos em nos tornar saudáveis e fortes. Assim quando chegarmos à idade adulta seremos pessoas úteis ao mundo e poderemos aproveitar a vida! O Estudo da natureza mostrará que Deus criou o mundo repleto de coisas belas e maravilhosas para vocês desfrutarem das mesmas. Alegrem-se com o que receberam e façam bom proveito disso. Olhem para o lado brilhante das coisas, ao invés do seu lado sombrio”...

- Baden-Powell parou. Com os olhos cansados e pequenas lágrimas olhou uma névoa violeta subindo as alturas distantes onde o tempo vagou. Sentiu um cheiro de rosas no ar. É um perfume inebriante. Uma torre de arvores aparece nos olmos próximos, em resposta ao distante cantar de uma pomba. Uma abelha cantarola sonolenta por um mel que não encontrou. Tudo é paz em casa ao anoitecer.

- BP – “Contudo, o verdadeiro caminho rumo à felicidade está em fazer outra pessoa feliz. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar a hora de vocês, que possam partir felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas sim, fizeram o melhor que puderam”...

- Baden-Powell notou que a noite chegou. Era hora para descansar e honestamente sabia que estava meio cansado. Olhou para trás e deu um pequeno suspiro, em um dia carregado de recordações. Sabia que não foi um dia ocioso. De novo ouviu na janela superior risadas de gente jovem indo para a cama. Sabia que amanhã seu dia seria tão feliz como hoje...

- BP – “Para viverem e morrerem felizes tenham este pensamento como guia e, sem esquecer o lema “Sempre Alerta” sejam sempre fieis a Promessa escoteira e às suas regras, mesmo quando já forem adultos. Que Deus os proteja e os ajude a cumpri-las”.

- Baden-Powell. – Sorriu. Conseguiu terminar. Sabia que seu fim era próximo. Viveu como sempre quis viver sorrindo e sendo feliz. Não havia mais o brilho avermelhado do por do sol para dar luzes e sombras nas florestas que se estendiam abaixo. Uma névoa violeta subia as alturas distantes onde o tempo vagou... Era hora de dormir...

BP – Do vosso amigo,
Baden-Powell of Gilwell.