sábado, 7 de fevereiro de 2015

A evasão no escotismo.


Conversa ao pé do fogo.
A evasão.

                   Em todos os dicionários o significado de evasão seria: - Desistência, ação de abandonar alguma coisa. Poderia anexar mais explicações, mas acho que esta abrange tudo. Vez ou outra me deparo com alguém preocupado com a Evasão Escoteira. Ela existe. É enorme e ainda não foi motivo de uma ampla discussão entre todos os associados. Ela não apareceu agora, é antiga. Antes menor, mas hoje em numero assustadores. Fingimos que ela não existe que tudo vai bem obrigado. Quando alguns amigos comentam o tema nem sempre rende dividendos. Cada um já sabe por que ela acontece. A Evasão no escotismo está em todas as sessões, na chefia nos pais e diretores. Conta-se a dedo aqueles meninos ou meninas que ficaram no escotismo por mais de três anos. A média nunca passa de um ano. E os adultos voluntários? Não são tão significativos assim, mas vamos perdemos bons chefes e diretores a cada ano e nunca nos preocupamos a não ser sentir saudades de sua partida.

               Cada um tem um número mágico para dizer que tantos por cento se afastaram. Poucos se preocuparam realmente qual a porcentagem correta da evasão dos seus jovens e dos seus adultos. Todos que permanecem sempre afirmam que o escotismo é tudo, está na alma e no coração. Tem aqueles que sorriem ao dizerem que é uma filosofia de vida que nunca vão abandonar. Mas chega um dia que irão partir. Quando será este dia não dá para prever. Os motivos são muitos, mas me abstenho de dar minhas opiniões. Sou um Velho Escoteiro vivido e sei como é difícil para muitos adultos permanecerem em grupo, em equipe com as diversas personalidades dos demais que ali estão. O desânimo é maior quando vemos um voluntário antigo, já formado na escola Escoteira, Insígnia que conhece bem os transmites da liderança e suas normas se afastar. Ele investiu nele próprio, o escotismo a sua moda investiu também. Muitos tentaram formar uma concepção Escoteira para ele e quando estivesse pronto transmitir aos demais. Então ele vai embora. Para alguns explica os motivos para outros nem mesmo um adeus.

                 E os jovens? Estes são em maior número. No passado se dizia que ele entrou para o escotismo esperando encontrar aventuras, atividades no campo, explorar outros caminhos, acampar, viver em plena natureza como um herói que sempre sonhou ser. No entanto ele viu que não era nada daquilo que pensou e achou melhor ir parar em outras plagas que o escotismo não deu. Hoje no presente nem se sabe mais se é isto mesmo. Estão aí dezenas de adultos explicando os motivos, achando que precisam alterar tudo, que agora somos modernos e vivemos novos tempos. Afirma que é da tecnologia que eles estão atrás. Eles os lideres de hoje já sabem o que o jovem quer. Nunca foram atrás deles saber a verdade. Quem sabe mostrar-lhe os dois caminhos do escotismo do passado e do escotismo do presente. Afirmam que o passado é passado. Hoje estamos vivendo uma tecnologia que supera tudo aquilo que ele poderia sonhar como era antes.

                  Até hoje não tivemos uma cruzada para entender e fazer as mudanças certas ouvindo os jovens, ouvindo os adultos que saíram. Isto não é necessário alegam alguns. Eles dizem: - “Nós sabemos onde está o erro e vamos corrigir”. Os anos passam, as soluções mágicas modernas parece não trazer o sucesso esperado. As tropas e alcateias se ressentem com a pouca procura. Chefes e diretores tentam tudo para arregimentar jovens. Quando conseguem notam que nem todos permanecem. As patrulhas de três ou quatro viraram uma realidade em muitas tropas. Matilhas viraram uma página da história. Chefes uma minoria que ainda tem a fibra Escoteira. Os responsáveis sempre a dizer que a culpa é do Chefe. Ele não se preparou. Esqueceu-se dos cursos, esqueceu-se da biblioteca Escoteira, esqueceu seu assessor pessoal e errou. A culpa foi dele pelos jovens que um dia se foram para não mais voltar. A culpa é sempre dele. Os lideres deram o caminho e ele não seguiu. Dou risadas quando ouço isto.   

                Conta-se a dedo os jovens que saíram e um dia resolveram voltar. O mesmo para os adultos que dificilmente irão relembrar os momentos felizes que lá deixou. Por quê? Respostas tem muitas. Verdades poucas. Soluções todos tem, mas ir atrás, fazer uma pesquisa nacional, discutir o assunto com as unidades locais (grupos escoteiros e sessões) isto nunca aconteceu até hoje. Os lideres sempre tem a solução na mão. Basta dizer que vários deles me disseram que os jovens não gostavam do caqui e do azul. A vestimenta seria uma maneira de arregimentação dos arredios e daqueles que agora iriam ver outro escotismo, mais próximo, mais amável, mais dentro de suas pretensões modernas. Pelo menos fizeram uma pesquisa com estes que não são Escoteiros? Não, alguns chefes dizem que eles não entraram por causa do caqui que acharam feio. Sempre assim, mudar o estilo um pouco arrogante, aprender a dizer obrigado, tentar pelo menos ouvir as opiniões principalmente dos jovens ficou no esquecimento. Quantos foram às casas dos jovens que deixaram o movimento para ouvir? Só ouvir, pois sabemos que dificilmente ele irá voltar. Cansou de promessas e sabe que nada vai mudar.

                 E me pergunto quantos chefes que saíram foram visitados por alguma autoridade Escoteira? Quantos lhe disseram que ele faz falta, que ele pode dar muitas sugestões, pode colaborar para evitar esta grande evasão de adultos que hoje acontece? Perda de tempo, os lideres não se preocupam. Eles pensam que ninguém é insubstituível. Lembrei-me de um artigo de  Célia Spangher que foi muito feliz em analisar a palavra insubstituível. Um dia vou publicar aqui novamente. Eles os que se foram são mesmo insubstituível. Levaram anos aprendendo, uma grande experiência adquiriram e os deixaram ir. Ninguém se preocupou em pelo menos se aconselhar com eles nos novos caminhos a seguir que estão enfrentando. Os que se foram se foram se tornaram uns eternos desconhecidos, pois outros afoitos já tomaram seu lugar.

                 Nada que fizerem irá mudar este estado de coisa. Quem já leu o relatório do Doutor Jean Cassaigneau sabe que este não é o caminho. Seu relatório sobre o escotismo brasileiro atinge profundamente os erros que até hoje cometemos. A UEB não deu crédito, poucos levaram a serio suas palavras e suas orientações. Os “papas” estão aí para gritar um “Abre-te Sésamo”! Eles tem a solução. O relatório é de 2008. Passaram-se quase sete anos e o que vemos? O mesmo de decênios passado. Enquanto a UEB não ver que nada poderá ter o sucesso esperado sem grandes realizações em conjunto; Enquanto não deixar que todos os associados Escoteiros participem de um grande mutirão nacional para discutir onde erramos e onde podemos acertar, enquanto a UEB se achar a dona da verdade, a única a decidir e criar sem ouvir a grande maioria, nada conseguiremos. Os exemplos estão aí. Só não vê quem não quer enxergar. Todas as mudanças de normas, de programa de uniforme foi feita pelas mãos de poucos. Enquanto ela não der o valor devido a todos os associados principalmente os adultos o escotismo será o que é hoje. Erros atrás de erros e variações de efetivo sem um crescimento efetivo!  


Obs. Aqueles que ainda não tomaram conhecimento do relatório do Doutor Jean Cassaigneau é só me pedir por e-mail elioso@terra.com.br e terei a satisfação de enviá-lo.