Conversa ao
pé do fogo.
Eles
estão saindo do escotismo... Por quê? – Parte II
Apresentação
pessoal. Garbo e boa ordem.
Levamos dezenas de anos para
incutir na população brasileira o que somos e como somos. Muitas frases ficaram
celebres e até hoje citadas por boa parte da população e até na imprensa.
Vejamos algumas: Faça como o Escoteiro, ele têm uma só palavra. Os Escoteiros fazem
diariamente uma boa ação, isto é uma norma de conduta para eles. Esteja todos
os dias Sempre Alerta, não fique desprevenido. Faça como os Escoteiros, eles
estão sempre alegres. Seja como um Escoteiro, educado cortês e amigo. Melhore
sua aparência, faça como um garboso Escoteiro. Era comum ver os jovens em seus
uniformes a saírem para os campos, ou
mesmo desfilando em uma solenidade qualquer na cidade. Onde passavam eram
reconhecidos e aplaudidos. O Chapelão se tornou um símbolo logo desfeito por
diversos motivos. No passado as dificuldades eram inúmeras para se adquirir uma
peça Escoteira, mas sempre se via todos muito bem uniformizados. Os chefes eram
exemplos. Fazia gosto ver o porte, o orgulho em estar com um uniforme
Escoteiro. Na própria direção nacional os dirigentes eram perfeitos em seus
uniformes. Quem já teve um LP do Trio Irakitan vai se orgulhar em vê-los de
uniforme. Estão perfeitos nas suas calças curtas. Gostaria de ver um cantor ou
cantores famosos de hoje interpretando músicas Escoteiras e vestindo nosso uniforme ou vestimenta.
Aos poucos foram entrando outros
que não se solidarizaram com a calça curta. Começaram a vestir a comprida. Olhar
para eles era ver que destoava dos demais. Mesmo assim tínhamos no seio da
comunidade um enorme apoio. Éramos reconhecidos pelas autoridades educacionais.
Tivemos um ministro da república como Escoteiro Chefe, Dr. Guido Mondim. O
falecido Ex-Presidente José de Alencar se orgulhava do que escotismo que
participou. Uma época de grandes personalidades assumindo a liderança Escoteira
e jactando-se de terem sido Escoteiros. Onde anda um Almirante Benjamin Sodré?
Ou um Arthur Basbaum Proprietário das Lojas Americanas e Escoteiro Chefe? Ou
mesmo o Doutor Francisco Floriano de Paula um líder nato, que fez para o
escotismo o que muitos grandes homens podiam fazer. Poderia citar outros tantos
e cada estado da federação deve ter um deles para lembrar. Foi uma época em que
havia orgulho no ar nos corações Escoteiros. Nunca se colocaria um lenço sem
estar com todas as demais peças do uniforme. Nunca se saia para qualquer
atividade sem estar devidamente uniformizado. Não importava onde e como. Que
fossem acampar excursionar, fazer atividades aventureiras longínquas, o
uniforme vinha sempre em primeiro lugar.
Poderíamos ficar de camiseta
nos acampamentos nos tempos livres e sem o lenço, mas com as demais peças do
uniforme. Aprendíamos a lavar e passar a moda Escoteira. Nada servia de
desculpa na hora das inspeções de campo. Unhas, cabelo, sapato engraxado, tudo
era olhado. Época que todos tinham nos bolsos lenços e um pente pequeno. Todos
tinham um orgulho da sua vestimenta ou uniforme. Infelizmente ou felizmente a
modernidade tão apregoada começou a ter seu lugar ao sol. Criou-se o traje que
antes era chamado de uniforme social. Do social que deveria ter sido veio o
desleixo por parte de alguns. Vestia-se as cores que cada um gostava. A cobertura
era qualquer uma, uma verdadeira confusão de estar ou não portando um uniforme
Escoteiro. Havia discussões e discussões de escotistas que devíamos mudar. Sempre
os novos que entravam e desfiavam uma serie de motivos para isto. O mote era
que devíamos ter uma só postura e sermos todos iguais.
Nunca se viu alterações
nos Escoteiros do Mar e do Ar. Ali impera o garbo e a boa ordem e até hoje isto
acontece. Alguns anos atrás nos foi apresentado à vestimenta. Muitos apostavam neste
novo uniforme. Havia inclusive comentários que muitos jovens não se aproximavam
do escotismo por achar o caqui démodé. A vestimenta serviria para dar uma nova
apresentação condigna do Escoteiro e da Escoteira na comunidade. Se tudo
tivesse sido feito as claras, com consultas e transparência, se tudo tivesse
feito para uma perfeita uniformização poderia ter sido uma boa ideia. Mas fizeram
tudo sem consultas, esconderam a sete chaves sua forma e confecção. Vários
tipos foram criados. Até hoje não entendo por que disto. Se tem uma região fria
e outra quente bastava mangas curtas e compridas, calças idem. Ainda me
pergunto por que aquele desfile de modas para apresentar uma vestimenta com
mais de desesseis modelos. Seria uma forma bombástica da implantação de uma
nova era?
A UEB fez e faz de tudo para
que esta vestimenta seja levada a sério. Vejam o que disse um formador, um Velho
Lobo calejado por anos e anos de serviços a União dos Escoteiros do Brasil sobre
a vestimenta: - Estão saindo adultos e crianças! Sabe qual e o nosso temor? Que
parem de entrar... Se os pais olharem os Escoteiros com o vestuário novo, que
como exemplo cito a Missa Escoteira no mês anterior, não irão permitir que os
filhos participem. Vi ali uma bagunça generalizada. Cada um mais “esculachado”
do que o outro. Vão assim acabar com a nossa imagem. Se os chefes não derem
exemplo e não orientarem explicando a diferença fundamenta da ordem vai virar
bagunça! Não são palavras minhas. Meus comentários já foram ditos em outros
artigos aqui. A UEB não poderia ter sido mais explicita na sua norma de uso? Já
que não levou em conta os demais associados na implantação poderia ser mais
comedida nas escolhas pessoais. O que está feito não tem volta, mas ainda dá
tempo para corrigir. Compete aos dirigentes fazerem isto. Suprimam esta
quantidade de peças absurdas. Determinem como se deve se apresentar os
associados com a vestimenta. Calça curta com meia curta de diversas cores não
explicita o orgulho do uniforme Escoteiro e qual a cobertura a ser usada.
Levamos anos e anos para
criar um hábito de comportamento com o caqui. Um uniforme que até hoje é reconhecido
de norte a sul do Brasil. A maioria dos novos associados aderiram à vestimenta.
Queira ou não ela já é o traje oficial da UEB. Mas do jeito que ela é
apresentada eu tenho minhas dúvidas se em vez de arregimentar jovens e
voluntários se não os está afugentando. Não tenho dados, mas foi a partir da
implantação da vestimenta que houve uma debandada de muitos chefes antigos do
movimento. Será que podemos nos orgulhar quando formos a uma atividade social para
se apresentar a sociedade brasileira, como eles dirão com esta parafernália de
escolhas pessoais? O que eles irão pensar de nós? Por outro lado eu fico em
dúvida se ela aguenta uma forte atividade aventureira de jovens escoteiros em
excursões e acampamentos. Lembremos que estamos perdendo para outros folguedos,
outras organizações, outras formas de diversão de muitos jovens que abandonam
as fileiras escoteiras. Um país com a nossa dimensão, com mais de duzentos mil
habitantes não pode ficar quase em último lugar proporcionalmente em número de
membros praticantes do escotismo nas Américas. Não se trata de uma competição e
nem tampouco uma corrida de primeiro lugar. Afinal dos dez países que iniciaram
o escotismo fora da Inglaterra em 1910, o Brasil está incluído. Temos que
pensar na nossa autopreservação.
Esqueçamos
o mote que o lugar apropriado para discordar e apresentar soluções são nas
Assembleias. Esqueçamos o mote que sempre a culpa são dos chefes. O caminho
percorrido até agora não foi dos melhores. Eu sempre gosto de repetir o que
disse John Thurman no seu artigo os sete perigos. (escrito em 1955). Ele foi
durante muito tempo Chefe de Campo de Gilwell Park: - Os únicos capazes e
possíveis de pôr o escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Se
nos tornarmos arrogantes, complacentes e nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas -
poderemos arruinar o Movimento.
Amanhã mais um capítulo da série - Eles estão saindo do escotismo... Por
quê? Até lá discutam, comentem compartilhem, todos precisam saber que nós os
chefes também sabemos pensar e ter opiniões! – Até lá!