Conversa ao pé do fogo.
Eles estão saindo do escotismo... Por quê? – Parte IV.
O adeus sem volta dos chefes e diretores voluntários do
escotismo.
Uma
vez eu escrevi um artigo cujo título foi A Legião dos Esquecidos. Comentava da
saída de voluntários do movimento Escoteiro que nunca mais foram procurados
pelos nossos dirigentes. O que fizeram ou os sacrifícios que muitas vezes
lutaram para preservar o bom nome do escotismo e ao mesmo tempo sua luta para a
formação da juventude, não passava de obrigação por parte deles. Foram
esquecidos. Nem uma carta, um e-mail nada que pudessem saber que alguém se
lembrou deles. Nossos dirigentes não se importam com quem foi embora. Quem sabe
não se importam nem com quem está na linha de frente. Pergunta-se porque
saíram? Porque deixaram o escotismo? Se eles um dia adotaram o escotismo como
filosofia de vida e seu amor ao escotismo hoje nem lembrados são. A
participação do adulto no movimento Escoteiro não é fácil. O sacrifício e
enorme. Luta-se pela sobrevivência, luta-se para ser reconhecido e se não fosse
o sorriso da criança nada mais teria valor. Muitos ainda insistem, mas a falta
de apoio não só dos órgãos Escoteiros como da comunidade é fato comum. Os
grupos bem estruturados não se ressentem disto, os pais são trabalhados para
participar e sabem de suas responsabilidades. Eles dão sustento à continuidade
em todas as áreas do Grupo Escoteiro. Ainda bem que tem chefes bem formados na
escola Escoteira. Assim fica mais fácil.
Existe uma gama de chefes que mesmo continuando na ativa se ressentem do
tratamento recebido pelas autoridades Escoteiras, e até mesmo de membros do
próprio grupo. Nem sempre recebem sorrisos e elogios. Se não fizerem um pedido burocrático
para um diploma de mérito ou uma condecoração, ou outra forma de agradecimento
eles nunca serão lembrados. O papel em primeiro lugar. Um telefone? Um e-mail?
– Olá Chefe, obrigado por estar conosco. Isto não existe. Os que estão chegando
ainda estão com aquela motivação própria dos que chegam para ajudar, para somar
esforços. A partir do momento que aprendem como funciona a engrenagem da
associação, começa a vontade de por o boné e sair por ai cantando a canção da
despedida. Eles aprenderam que a Lei e a Promessa diz muito, mas poucos da
liderança a cumpriam. Sabiam que não estavam atrás de medalhas, de elogios, mas
o tratamento sempre deixa a desejar. Outros acreditam que a disciplina é esta e
não questionam. Alguns se escondem nos seus puros pensamentos que ajudar a
juventude vale qualquer esforço e acreditam mesmo que fatos no dia a dia de sua jornada
Escoteira demonstrem o contrário.
Faltam-me dados completos para afirmar os
motivos que levaram chefes voluntários a abandonar o Movimento Escoteiro. O que
escrevo muitas vezes me foi passado por chefes que me escrevem que me telefonam
ou mesmo quando posto um artigo e lá esta entre comentários os ressentimentos
de muitos. Estão errados? Os mais comedidos ou os mais esclarecidos sempre
defendem o indefensável. Eles ainda acreditam que precisamos andar com nossas
próprias pernas e vencer as adversidade. Concordo em parte. Mas para que temos
uma liderança? Para que eles estão lá a dirigir ao seu modo o escotismo que
acreditam? Valorizam por acaso os voluntários? Colaboram com eles? O que vejo é
receber e nada em troca. O voluntário é cobrado de varias formas, inventam
normas para ele, fazem dele um mortal qualquer que na legislação de nosso pais
tudo tem de ser provado. Provar que é leal? Que tem palavra? Isto então pode
ser obtido em um cartório local? O papel com firma reconhecida prova tudo da
sua lealdade ao escotismo?
Não falo dos grupos bem estruturados. Eles tiveram a sorte de ter
lideres bem formados, conhecedores, com um passado Escoteiro e sabedores como
agir. Mas eles são poucos, e muitas
vezes fechados dentro de sí mesmo. Seus exemplos não são fáceis de seguir. Os
grupos menores ou os mal estruturados vão tentando sobreviver e seus chefes
lutam com tremenda dificuldade. Não é fácil começar um Grupo Escoteiro. A sede
própria é um sonho para poucos. Um cantinho hoje pode ser o despejo de amanhã. Como
o movimento peca por não ter credibilidade e ao mesmo tempo por falta de apoio,
o diretor hoje pode retirar a sede Escoteira que foi cedida pelo diretor de
ontem. Nem o papel assinado tem valor. Vereadores mudam seu teor. Prefeitos não
ligam. O escotismo não é reconhecido pelas autoridades. O Chefe se vê perdido.
Busca uma ajuda que não tem. E ele então pergunta: - Onde estão nossos lideres?
Sabemos
que não há respaldo por parte das autoridades politicas e empresariais. Como a
nossa estrutura não é pequena, manter tudo isto custa dinheiro, tempo e isto
poucos Grupos Escoteiros conseguem. Na maioria nem mesmo o apoio dos pais eles
conseguem. Temos como norma sermos apolíticos. Isto é bom. Mas ao mesmo tempo
não temos o apoio que precisaríamos para dar aos chefes voluntários condições
de conduzir suas sessões ou mesmo o grupo como um todo. Não temos
representatividade no seio da comunidade. Muitos dos nossos chefes voluntários
se mantem com sua própria condição financeira. O curso muitas vezes distante
tem taxas que nem todos podem pagar. Pais, mães e outros que se aventuraram na
senda Escoteira sabem que em primeiro lugar vem sua família e depois o
escotismo. Mas a verdade mesmo é que a maioria paga do próprio bolso sua
manutenção no escotismo e muitas vezes dos seus jovens.
Muitos reclamam por falta de apoio dos distritos, regiões ou mesmo pela
direção nacional. A estrutura Escoteira está alicerçada em cima de um Estatuto,
que não da o poder democrático a todos. “Lembro-me de uma parábola de Cristo
onde ele dizia que muitos serão chamados, mas poucos os escolhidos”. O poder
está em mãos de poucos. Sabemos da prepotência
de muitos, o sonho de ser alguém, a dominação por uma disciplina quase imposta
sem nenhuma chance de dar ao Chefe voluntário, o que qualquer organização ou
associação prezaria: - A Democracia. A defesa desta maneira autoritária é uma
arte que muitos que estão na liderança defendem. Esquecem que somos um
movimento de amadores e querem de um dia para noite nos transformemos em
profissionais. Temos salário? Que disciplina é esta que não dá a todos a
oportunidade de discordar, de sugerir e votar?
Se esta for uma razão da evasão
de muitos chefes e diretores voluntários é preciso mudar. Não podemos ter uma
direção que não pensa em ajudar e colaborar com seus voluntários. Se decretos e
normas resolvessem o Brasil seria um paraíso. Que procurem de uma maneira
valorizar o trabalho dos voluntários em suas unidades Escoteiras. Se não
existem profissionais pagos para tentar resolver os problemas deles, que pelo
menos escrevam, sugiram, mas lembrando sempre que cada caso é um caso e o Acre
é diferente do Rio Grande do Sul. Os cursos devem se voltar mais para estes
fatos e não os burocráticos cursos de hoje que acham no Chefe um representante
profissional em muitas áreas que eles não dominam e nem devem dominar. Esta
debandada deve se melhor estudada. Sei que não podemos confiar nas autoridades.
O quase fracasso do Escotismo nas Escolas foi um exemplo que muitos já sabiam
que ia acontecer. Esta frente Parlamentar até hoje foi um blefe. Precisamos
mostrar nosso reconhecimento ao novato voluntário e claro o antigo também.
Precisamos ouvir e dar uma resposta que o satisfaça.
Um
Chefe meu amigo e que está lá no céu sempre me dizia: Chefe Osvaldo é o
escotismo quem precisa de você e não o contrário. Mas e então? Porque tantos
lutam por uma causa tão valida, e nunca
são reconhecidos por parte de nossas autoridades Escoteiras? Para tudo é
preciso ser subserviente, implorar e aceitar o que não acham válido. Todo
caminho para o sucesso tem um começo. Os primeiros passos não podem acontecer
com um só. Ou todos partem para uma solução ou então mais cedo ou mais tarde irão pertencer a
Legião dos Esquecidos. E chega de explicações que não deram certo. A evasão é
uma realidade, explicar o inexplicável não trará o retorno dos que se foram.
Não esqueçam
comentem, compartilhem, precisamos de união, novas ideias, envolver o maior número
de chefes voluntários nesta discussão. Sabemos que uma andorinha só não faz
verão!