Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
O adeus sem
volta de 6.000 Escoteiros!
Poucos souberam, poucos
comentaram e poucos se importaram. A UEB não explicou, não procurou dar aos
seus associados o que aconteceu de verdade nesta enorme evasão Escoteira. A
maior que o Brasil Escoteiro já conheceu. Está lá, no relatório da UEB de 2014.
Isto mesmo, de ano para o outro sumiram quase seis mil associados. É comum
isto? Afinal não havia uma constante vigília para que os números fossem sempre maiores?
A própria WOSM (Organização mundial do Movimento Escoteiro) não tinha um
planejamento para alcançarmos cem milhões em todo mundo nos próximos anos? Pois
é aqui no Brasil não. Quem acompanhou o trocadilho de sempre, que estávamos
crescendo, que sete ou oito por cento de aumento de associados tirava-se de
letra todos os anos. Quem acompanhava os relatórios sabia como era feito este
aumento quantitativo. O qualitativo não, este estava de mal a pior. Só não via quem
não queria ver. Sabíamos do Projeto Escotismo nas Escolas em dois estados. Estávamos
torcendo para dar certo. Um deles sempre mostrava um numero ano a ano. Quem
sabe este seria o caminho?
O pior de tudo é ver no
relatório de 2014 que não existe nenhuma explicação do motivo. A UEB como
sempre não presta conta dos seus erros. Ela nem admite falar nisto. Pelo menos
não explicou e só deu a entender que crescemos em 2014. Se alguém se preocupou
em ver que se em 2013 tínhamos 83.000 e agora 77.000 alguma coisa estava
errada. Tivemos alguns escotistas que viram logo o engodo, que algum estava
errado. As estatísticas que sempre informavam ramo a ramo, grupo a grupo e
estado a estado desapareceu do relatório de 2014. Tudo mudado para ninguém
fazer comparativos com anos anteriores e saber onde como e porque a evasão foi
maior. Quem acompanha os dirigentes da UEB na sua megalomania, uma mania de
grandeza e superioridade, uma obsessão de realizações grandiosas, que se acha
melhor em tudo e nunca consulta seus associados, não é transparente, muda o que
quer mudar sem dar satisfações, não entendeu. Faltou mesmo um pouco de
humildade em reconhecer que errou. Mas será que os lideres que fizeram tudo
isto são capazes de se desculpar perante a nação Escoteira?
Acho difícil. O próprio
relatório contradiz tudo isto. Fotos lindas, o tal de dizer eu fiz isto, eu fiz
aquilo, só faltou dizer que nós temos agora o melhor escotismo do mundo! Desde
que me entendo por escotista que noto este sinal de grandeza, de poder, de
ambição por parte dos dirigentes Escoteiros que fizeram um escotismo a sua moda.
Acharam que só eles tinham idéias brilhantes e fizeram de tudo para mudar.
Recordar aqui os passos dos últimos cinquenta anos não sei se seria benéfico.
Seis mil se foram. Quantos mais irão não sei. A UEB se tornou uma caixa forte
que quem está dentro não quer sair e quem está fora não entra. Claro que
tivemos eleições, mas será que os que surgiram agora irão ver os erros crassos
que os outros cometeram? Afinal muitos deles lá continuaram. Muitos tentam
explicar o que outros tantos já sabem. Sempre a culpar chefes que não dão um
escotismo a altura aos seus jovens e por isto procuram outros meios para se
divertirem. Sempre assim, a culpa é do Chefe o dirigente não tem culpa.
Eu poderia dizer uma boa
dezenas de motivos da evasão que acontece conosco. Poderia dizer da falta de
bom escotismo que os cursos deveriam suprir e não suprem, a preocupação quase exclusiva
da formação de chefes nos conhecimentos das normas da UEB, do palavreado
institucional usado, das mudanças nos programas, nas mudanças em tradições de
distintivos que eram sagradas para muitos. Passaram a exigir muito sem dar nada
em troca. Muitos conhecidos deram adeus porque estão há anos no movimento Escoteiro
nunca foram ouvidos ou consultados e novas exigências são apresentadas para
eles. As declarações, autorizar direitos de imagem e outros fizeram muitos
desistir. É mesmo impensável que um Escoteiro tivesse que provar em cartório as
exigências feitas pela UEB. O primeiro artigo da lei foi colocado em duvida. O Escoteiro
tem ou não tem uma só palavra? Não há mais confiança. Agora um conhecedor de
leis que acredito eu não viveu o escotismo quando jovem aplica normas que acha
válido para um voluntário participar da Associação. Como se voluntários
estivessem em cada esquina acenando para participar.
Alguns grupos bem
estruturados que tem escotistas bem formados vão bem. Mas eles são poucos e não
servem como exemplo para a grande maioria dos grupos no Brasil. Se o Amapá, o
Acre, o Amazonas e outros estados longínquos não tem o suporte e a estrutura
dos estados mais poderosos e ricos da federação o que fazer? Penso eu que tem
duas possibilidades: Dar a eles o suporte que precisam ou então fechar os
grupos nestes estados. Seria isto mesmo a fazer? A UEB como escreveu o Doutor Dr. Jean Cassaigneau antigo Secretário Geral
Adjunto da Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME) no seu relatório solicitado
pela própria direção é um TREM QUE NÃO ANDA. Sua estrutura interna
consome energia e recursos materiais e humanos numa disputa artificial de
posicionamentos, enfraquecendo a imagem interna e externa do Movimento. O nosso
amigo Cassaigneau falou tudo. Seu relatório é um primor para explicar esta
evasão que ninguém quer explicar. E olhe que ele disse isto em 2007.
Acredito que está na hora de
humildade, chega dos Velhos Lobos sabidos, dos Politicamente Corretos a
correrem em defesa a explicar o inexplicável. Que os lideres da UEB façam isto.
Que procurem meditar que a carruagem só anda com uma boa parelha onde todos se
entendem. Infelizmente não é isto que acontece conosco. Os antigos, aqueles que
sempre disseram que o jovem entrou no escotismo pensando que seria isto mas
encontrou aquilo já se foram. Os novos ainda não se tocaram que estamos
caminhando para a satisfação de poucos e os muitos que são os jovens que
precisam do escotismo estão a desistir no meio do caminho. Eu sei que tem
muitos chefes, pioneiros e até seniores e guias que poderiam dar excelentes
sugestões, discutir ver onde a estrada é melhor para alcançar o Caminho para o
Sucesso. Mas isto seria muito difícil dizem os Grandes Artífices do escotismo
nacional. Pensar em fazer grandes mutirões, discutir sem tempo determinado por
meses, de norte a Sul, do Leste e do Oeste onde todos participariam, sugerindo
discutindo e vendo as ideias crescer é uma hipótese remota. Só para eles claro.
Sei que ainda temos os que
se acham os tais, que fazem e desfazem do nosso bom escotismo que BP nos
deixou, que se acham importantes demais para pedir desculpas pelos erros
cometidos. Erros? Só 6.000? Que erros? Eles dirão. Pois é. Assim caminha o
nosso escotismo. Já vi tanto erros e tantos acertos nos meus 66 anos de
escotismo que fico a imaginar o porquê tantos que poderiam colaborar estão
desistindo no meio do caminho. Para que enfrentar a prepotência, o autoritarismo,
a tirania o déspota mandão que se acha iluminado por Deus? Eles desistiram no meio
do caminho. Tinham um sonho como eu tenho, um milhão de Escoteiros com jovens
bem formados, ficando pelo menos cinco a dez anos no movimento, se orgulhando
dele e um dia quando estiverem na liderança da nação, o escotismo iria mudar.
Precisamos de ex-Escoteiros, homens dignos da nação para dar um novo caminho ao
verdadeiro escotismo do Baden-Powell.