domingo, 3 de maio de 2015

O adeus sem volta de 6.000 Escoteiros!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O adeus sem volta de 6.000 Escoteiros!

               Poucos souberam, poucos comentaram e poucos se importaram. A UEB não explicou, não procurou dar aos seus associados o que aconteceu de verdade nesta enorme evasão Escoteira. A maior que o Brasil Escoteiro já conheceu. Está lá, no relatório da UEB de 2014. Isto mesmo, de ano para o outro sumiram quase seis mil associados. É comum isto? Afinal não havia uma constante vigília para que os números fossem sempre maiores? A própria WOSM (Organização mundial do Movimento Escoteiro) não tinha um planejamento para alcançarmos cem milhões em todo mundo nos próximos anos? Pois é aqui no Brasil não. Quem acompanhou o trocadilho de sempre, que estávamos crescendo, que sete ou oito por cento de aumento de associados tirava-se de letra todos os anos. Quem acompanhava os relatórios sabia como era feito este aumento quantitativo. O qualitativo não, este estava de mal a pior. Só não via quem não queria ver. Sabíamos do Projeto Escotismo nas Escolas em dois estados. Estávamos torcendo para dar certo. Um deles sempre mostrava um numero ano a ano. Quem sabe este seria o caminho?

               O pior de tudo é ver no relatório de 2014 que não existe nenhuma explicação do motivo. A UEB como sempre não presta conta dos seus erros. Ela nem admite falar nisto. Pelo menos não explicou e só deu a entender que crescemos em 2014. Se alguém se preocupou em ver que se em 2013 tínhamos 83.000 e agora 77.000 alguma coisa estava errada. Tivemos alguns escotistas que viram logo o engodo, que algum estava errado. As estatísticas que sempre informavam ramo a ramo, grupo a grupo e estado a estado desapareceu do relatório de 2014. Tudo mudado para ninguém fazer comparativos com anos anteriores e saber onde como e porque a evasão foi maior. Quem acompanha os dirigentes da UEB na sua megalomania, uma mania de grandeza e superioridade, uma obsessão de realizações grandiosas, que se acha melhor em tudo e nunca consulta seus associados, não é transparente, muda o que quer mudar sem dar satisfações, não entendeu. Faltou mesmo um pouco de humildade em reconhecer que errou. Mas será que os lideres que fizeram tudo isto são capazes de se desculpar perante a nação Escoteira?

                 Acho difícil. O próprio relatório contradiz tudo isto. Fotos lindas, o tal de dizer eu fiz isto, eu fiz aquilo, só faltou dizer que nós temos agora o melhor escotismo do mundo! Desde que me entendo por escotista que noto este sinal de grandeza, de poder, de ambição por parte dos dirigentes Escoteiros que fizeram um escotismo a sua moda. Acharam que só eles tinham idéias brilhantes e fizeram de tudo para mudar. Recordar aqui os passos dos últimos cinquenta anos não sei se seria benéfico. Seis mil se foram. Quantos mais irão não sei. A UEB se tornou uma caixa forte que quem está dentro não quer sair e quem está fora não entra. Claro que tivemos eleições, mas será que os que surgiram agora irão ver os erros crassos que os outros cometeram? Afinal muitos deles lá continuaram. Muitos tentam explicar o que outros tantos já sabem. Sempre a culpar chefes que não dão um escotismo a altura aos seus jovens e por isto procuram outros meios para se divertirem. Sempre assim, a culpa é do Chefe o dirigente não tem culpa.

                  Eu poderia dizer uma boa dezenas de motivos da evasão que acontece conosco. Poderia dizer da falta de bom escotismo que os cursos deveriam suprir e não suprem, a preocupação quase exclusiva da formação de chefes nos conhecimentos das normas da UEB, do palavreado institucional usado, das mudanças nos programas, nas mudanças em tradições de distintivos que eram sagradas para muitos. Passaram a exigir muito sem dar nada em troca. Muitos conhecidos deram adeus porque estão há anos no movimento Escoteiro nunca foram ouvidos ou consultados e novas exigências são apresentadas para eles. As declarações, autorizar direitos de imagem e outros fizeram muitos desistir. É mesmo impensável que um Escoteiro tivesse que provar em cartório as exigências feitas pela UEB. O primeiro artigo da lei foi colocado em duvida. O Escoteiro tem ou não tem uma só palavra? Não há mais confiança. Agora um conhecedor de leis que acredito eu não viveu o escotismo quando jovem aplica normas que acha válido para um voluntário participar da Associação. Como se voluntários estivessem em cada esquina acenando para participar.

                  Alguns grupos bem estruturados que tem escotistas bem formados vão bem. Mas eles são poucos e não servem como exemplo para a grande maioria dos grupos no Brasil. Se o Amapá, o Acre, o Amazonas e outros estados longínquos não tem o suporte e a estrutura dos estados mais poderosos e ricos da federação o que fazer? Penso eu que tem duas possibilidades: Dar a eles o suporte que precisam ou então fechar os grupos nestes estados. Seria isto mesmo a fazer? A UEB como escreveu o Doutor Dr. Jean Cassaigneau antigo Secretário Geral Adjunto da Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME) no seu relatório solicitado pela própria direção é um TREM QUE NÃO ANDA. Sua estrutura interna consome energia e recursos materiais e humanos numa disputa artificial de posicionamentos, enfraquecendo a imagem interna e externa do Movimento. O nosso amigo Cassaigneau falou tudo. Seu relatório é um primor para explicar esta evasão que ninguém quer explicar. E olhe que ele disse isto em 2007.

                  Acredito que está na hora de humildade, chega dos Velhos Lobos sabidos, dos Politicamente Corretos a correrem em defesa a explicar o inexplicável. Que os lideres da UEB façam isto. Que procurem meditar que a carruagem só anda com uma boa parelha onde todos se entendem. Infelizmente não é isto que acontece conosco. Os antigos, aqueles que sempre disseram que o jovem entrou no escotismo pensando que seria isto mas encontrou aquilo já se foram. Os novos ainda não se tocaram que estamos caminhando para a satisfação de poucos e os muitos que são os jovens que precisam do escotismo estão a desistir no meio do caminho. Eu sei que tem muitos chefes, pioneiros e até seniores e guias que poderiam dar excelentes sugestões, discutir ver onde a estrada é melhor para alcançar o Caminho para o Sucesso. Mas isto seria muito difícil dizem os Grandes Artífices do escotismo nacional. Pensar em fazer grandes mutirões, discutir sem tempo determinado por meses, de norte a Sul, do Leste e do Oeste onde todos participariam, sugerindo discutindo e vendo as ideias crescer é uma hipótese remota. Só para eles claro.


                   Sei que ainda temos os que se acham os tais, que fazem e desfazem do nosso bom escotismo que BP nos deixou, que se acham importantes demais para pedir desculpas pelos erros cometidos. Erros? Só 6.000? Que erros? Eles dirão. Pois é. Assim caminha o nosso escotismo. Já vi tanto erros e tantos acertos nos meus 66 anos de escotismo que fico a imaginar o porquê tantos que poderiam colaborar estão desistindo no meio do caminho. Para que enfrentar a prepotência, o autoritarismo, a tirania o déspota mandão que se acha iluminado por Deus? Eles desistiram no meio do caminho. Tinham um sonho como eu tenho, um milhão de Escoteiros com jovens bem formados, ficando pelo menos cinco a dez anos no movimento, se orgulhando dele e um dia quando estiverem na liderança da nação, o escotismo iria mudar. Precisamos de ex-Escoteiros, homens dignos da nação para dar um novo caminho ao verdadeiro escotismo do Baden-Powell.