Ainda existem sonhos escoteiros?
O belo que a natureza tem.
Estão a me dizer que os sonhos agora são
outros. Repetem a todo o momento que o mundo da simplicidade, da natureza, da
fonte de água limpa e do canto dos pássaros que um dia foi um pedaço do céu e a
voz de Deus para os escoteiros, hoje são poucos que conseguem ouvir. Quem sou
eu para julgar que os jovens não têm mais o estilo de apreciar gostar e amar a
natureza vivendo cada momento, cada pensamento, tudo que recebemos de Deus e da
natureza a vida. Já me disseram que o exemplo, o aprendizado o estilo e o
hábito nos faz amar e sentir a natureza em todo seu esplendor. Um poeta dizia
que é acreditando nas rosas que as fazemos desabrochar. Já nos perguntamos qual
o propósito dos pássaros cantarem, pois o canto é o seu prazer uma vez que
foram criados para cantar? Devemos voltar à mente humana sem se inquietar com a
extensão dos segredos dos céus? A diversidade do fenômeno da natureza é tão
vasta e os tesouros escondidos nos céus tão ricos que quando chega à primavera
e com ela o espetáculo do desabrochar das flores tudo se comprova: - Vale a
pena cultivar o melhor e assim florescer para a vida.
Quantos de nós chefes nos voltamos para levar
aos nossos jovens a beleza e o encantamento da natureza? Será que ainda vivemos
para dar aos jovens sonhos de uma vida no campo, deixar que eles viagem pelas
estrelas, pelo firmamento e sentir o aroma da floresta em flor? Do cheiro da
terra, de apreciar o silencio e o ronronar da mata? Quantos de nós ensinamos
aos nossos jovens a dormir sob o manto da noite, ouvir o vento e tentar
entender porque ele viaja nos trazendo a brisa, deixar que ele nos leve para
longe. Ah! Dormir sob as estrelas, uma barraca cheia de beleza que sempre fica
armada no firmamento. Como é bom dormir sentindo o tempo e o vento ao nosso
lado, acordar com o lusco fusco da manhã, rosto molhado do orvalho do
amanhecer. Os pássaros acordando, cantando, voando em bandos para mais um dia
de esplendor.
Quem sentiu a fresca nevoa subindo de um
riacho, correndo entre cascatas, água fria que brota da serra, assustar sem se
sentir ameaçado com um lobo guará que aparece, um olhar firme como a dizer: -
Somos irmãos tu e eu! Não importa o tempo, se soubermos amar a natureza amamos
a liberdade, a tempestade o frio e o calor. Mesmo com seus perigos a selva nos
ensina e nos mostra o som da chuva, o clarão dos raios que pipocam no céu. O
medo do trovão acaba o vento acalma, os grilos repicam canções de ninar. O pisca-pisca
dos vagalumes é uma doce visão para nunca mais esquecer. O cantar da cigarra, o
ribombar surdo, ressoando fortemente na queda de águas cristalinas de uma
cachoeira encantada. Viajar, pés no chão a caminhar olhando cada passo que nos
leva para as criações do Criador. Um animal que passa, um beija flor que para
no tempo a ver onde pode ter o seu caule da vida.
Nada se perde tudo se transforma quando se
ama a natureza. As delicias de uma sombra embaixo de uma árvore centenária,
ouvir o ranger dos seus galhos ao ver e sentir o vento passar. Procurar através
de suas folhas uma nesga do sol ou pássaro cantante invisível que canta tão
belamente. É lindo sentir a harmonia, a estética da mata que foi feita para
nosso deleite de sombras e cantos invisíveis só para os que não querem
acreditar. Bom demais ver os insetos apressados, um frescor diferente do aroma
das flores silvestres tudo é lindo tudo parece dizer que a natureza quer falar
com você. E o cheiro da terra? Impossível descrever. Coisas de velhos mateiros
que aprenderam a viver com a natureza no respeito que é devido de um Escoteiro.
Acampe, em montanhas, em vales, em serras
ou várzeas onde os animais pastam, onde a busca da sobrevivência faz parte da
vida daqueles que são os donos da natureza. Acampar em uma praia deserta é
extraordinário. Sons maravilhosos do mar ao subir ou descer da maré uma obra
tão bem feita que sabemos que ali mora o Redentor. O bater de asas de um
albatroz, de uma gaivota a se exibir no ar, de um trinta-réis ou de um Atobás.
Se tiver sortes quem sabe aparece uns tesourões gritando no espaço a procura de
um cardume que lhe dará o alimento do dia. Ah! Sonhar com a natureza, viver com
a natureza, sentir todo seu esplendor entrando em seus poros e fazendo sentir o
espetáculo que um dia Deus nos deu e nada cobrou. É como as tempestades que
deixam cair às folhas verdes assustadas ainda no outono que um dia brotaram no desabrochar dos lindos campos, suas
essências... Deixadas como folhas em vendavais. Voando, vagando, sem destino;
por entre pensamentos, como mãos que tocam almas, fazendo das harpas sons
siderais.
Não há como esquecer o som do regato,
dos peixinhos que pulam a procura de um inseto, no coaxar de um sapinho, do
lindo som de uma cachoeira fantástica, do bater de asas de papagaios
coloridos. Os sons das abelhas e dos
beija flores a procura do néctar nas flores, de olhar uma campina verdejante e
ver o vento tocar as folhas do capim, das flores silvestres e elas como se
fosse uma onda verde vão e vem no horizonte. São tantos os sons da natureza que
é impossível dizer que Deus não está ali. Sons e sons. Da noite do dia. Do
nascer e do por do sol. Sons da chuva, da terra molhada, do riacho manso que
corre para o mar. Sons das ondas, das gaivotas, dos falcões, dos macacos
guinchando nos galhos como se estivessem a rir de nós. Sons das estrelas, da
lua, do sol. Sons imperdíveis da nevoa da madrugada. Quantas saudades daqueles
dias que o som da natureza me invadia e tomava conta do meu ser. Um som como se
estivesse ouvindo melodias nunca antes tocadas por nenhuma orquestra deste
mundo. Sons da natureza!