Crônicas
de um Chefe Escoteiro.
Estarei eu
no caminho certo? E você?
Quer
saber? Não sei. Tem hora que sim e tem hora que não. Eu tive uma vida diferente
e no escotismo me diverti e aprendi como muitos que hoje labutam pelo seu
engrandecimento. Mas sempre fui um contestador. Sou um espiritualista convicto
e nossa filosofia nos explica bem o “Livre Arbítrio”. Sei que traçamos uma meta
todas as vezes que aqui viemos, mas para isto somos lembrados que podemos
seguir o caminho que escolhermos diferente daquele que planejamos. Sempre
amigos Escoteiros me perguntam se pessoas como eu que somos formadores de
opiniões acreditamos que o que fazemos é para um crescimento e um
reconhecimento do escotismo, e não uma forma de prejudicar o que alguns tão
nobremente vêm fazendo. Bom questionamento. Se pensar que deverei dar o
primeiro passo não devo pensar se eles também estão no caminho certo ou se
estão prejudicando o crescimento e reconhecimento. Um bom evangelista não pode
pensar assim.
Temos que
primeiro pensar em nossas ações, os outros serão julgados pelo que fizeram e
não por mim. Tenho que ser responsável pelos meus atos e responder quando
chegar a hora. Uma busca na história do mundo nos mostra que nenhuma
organização pode crescer isolada, sem aceitar aqueles que pensam diferente. A
verdade da ação não está nos escritos e nem na palavra. Outro dia li o que
Paulo Coelho escreveu sobre a verdade: - “Certos
discípulos vivem me perguntando onde está a verdade”, disse Maal-El. “Então,
certo dia, resolvi apontar para uma direção qualquer, tentando mostrar que o
importante é percorrer um caminho, e não ficar pensando sobre ele”. “Ao invés
de olhar para a direção que eu apontava, os discípulos começaram a examinar meu
dedo, tentando descobrir onde a verdade estava escondida”.
“Quando as pessoas procuram um mestre, deviam estar em busca de experiências que possam ajudá-las a evitar certos obstáculos. Mas, infelizmente, a realidade é outra: estão usando a lei do menor esforço, tentando encontrar respostas para tudo.” “Quem deseja beneficiar-se do esforço do mestre para poupar suas forças, nunca chegará a lugar nenhum, e acabará por decepcionar-se.”.
Eu acredito nas vantagens do Movimento Escoteiro. Talvez ele
não me desse à fortuna, o sucesso empresarial que muitos tiveram, mas me deu a
alegria de viver de ser feliz e poder participar de aventuras que em outro
lugar nunca teria. No entanto me tornei um contestador. Sempre fui assim.
Alguns dizem ou diziam que sou fato do contraditório, um rebatedor do jogo
correto. Porque não me alinhar com a corrente que marcha pensando estar no
caminho certo? Huxley disse que em tempos normais, nenhum individuo são pode
concordar com a ideia de que os homens são iguais. O Código Samurai afirma que
a perfeição é uma montanha impossível de escalar que deve ser escalada um pouco
a cada dia. Nosso movimento tem escalado há tempos esta montanha. Demora demais
para chegar ao topo. Acho que tenho o direito de pensar que existem outras
trilhas e que nos levarão ao outro lado e a forma correta de se chegar mais
rápido ao que pretendemos.
Eu gostaria de pensar que o outro lado do eu pensassem como
Voltaire: - Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas
defenderei até a morte o direito de você dizê-las. As palavras do nosso Líder
são claras quanto a isto. Ele defendeu a democracia até o fim. Não me podem
tirar o direito de contestar e tentar mostrar onde estão os erros que eu por
acaso acho que existem. Nosso movimento tem uma finalidade tão séria que não
pode pensar que é de alguns poucos. Os milhares que dele participam deveriam
ter uma forma de se sentir também proprietários com ações voz e voto. Eu luto
de forma diferente. Às claras. Dentro das minhas possibilidades tento vender
aos outros meu pensamento. Tão difícil esta venda. A uma proibição forte, uma
lei que fizeram e que eu não fiz. Chamam-na de Disciplina e Lealdade. Por ela
temos de aceitar as regras do jogo. Jogo que me foi imposto sem me dar o
direito de contestar. Dizem que quem participa tema obrigação de obedecer. Eu
não dei opiniões. Como Confúcio eu vou aos poucos batalhando. Ele dizia que se
transportarmos um punhado de terra todos os dias, nós faremos uma montanha.
Porque estou dizendo tudo isto? Porque é necessário que eu
faça uma reflexão dos meus atos. Afinal estão a dizer que sou um Formador de
opiniões e tenho que tomar cuidado com minhas palavras. Pode ser, mas até hoje
são poucos os amigos que acreditaram nas minhas palavras. Se como disse Cora
Coralina eu fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando
flores e ainda não vou ver se meu objetivo foi alcançado. De uma coisa tenho
certeza, toda a oposição é válida. Dizem os críticos que Governo, oposição e
democracia se houver unanimidade é burra! Se os nossos irmãos Escoteiros
acreditam que a nossa associação é uma democracia, ela sem uma oposição
competente e credível é uma fraca democracia. Frágil e doente. Sem ela os
dirigentes podem fazer como acreditam. Dizem os poetas que sem oposição o
governo tende a governar como quer, o padrão de competência será definido pelo
próprio governo e não há memoria de nenhum governo se ter demitido por ter
feito uma má avaliação de si próprio.
Finalmente tenho que acreditar que possa estar colaborando
para o desenvolvimento do nosso movimento de outra forma. Não posso sair a
campo para dizer a todos o melhor caminho. Não tenho mais condições de sair “a
escoteira” por aí, não tenho mais condições. Afinal o melhor caminho não é o
que aponto. O melhor caminho seria o que democraticamente a unanimidade dos associados
iriam apontar. Engana-se quem acha que opositores são perigosos para a
organização. Dizia Disraeli que nenhuma organização pode ser sólida por muito
tempo se não tiver uma oposição temível. Confirmemos Heráclito que dizia – A
oposição produz a concórdia. Da discórdia surge a mais bela harmonia. Fiquemos
por aqui com algumas palavras do nosso fundador:
Tem gente que é um gansinho
daqueles quem vão
atrás, nas pegadas do pai ganso vai seguindo o
filho atrás.
"Não se contente com o
que, mas consiga descobrir o porquê e como."
“O
homem não é apenas um plano, é vida uma espécie de barco que todo mundo tem que
levar a bom termo.”
"Nunca
um homem que nunca cometeu erros fez nada."
O
Cuco-humano é geralmente uma espécie de gente superior que, numa questão, só vê
o lado que lhe interessa e o de mais ninguém. É um homem interessado em si
próprio, que quer apenas impor a sua vontade ao mundo; aproveita-se do trabalho
de gente mais humilde ou então afasta os outros que possam estar a caminho de
conquistar as coisas que ele deseja.
Você
vai encontrar o Cuco-humano sob várias formas: fanáticos, políticos
demagógicos, pedantes intelectuais, esnobes sociais e outros extremistas e até
no escotismo.
Quanto
a estes Cucos a dois perigos:
-
Um é que você pode ser iludido a seguir a sua liderança.
-
O outro é que você pode se tornar num Cuco.