quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Dizer palavrão não é próprio de Escoteiros.


Conversa ao pé do fogo.
Dizer palavrão não é próprio de Escoteiros.

                      Já publiquei vários artigos sobre o tema. Palavrão! Tenho visto muitos jovens escoteiros e chefes escrevendo comentando ou postando temas cheios de palavrões. Sinceramente não gosto. Não gosto mesmo. Não acho próprio para quem se diz membro de uma associação que tem uma lei e uma promessa. – Chefe! Todo mundo fala! – Pois é, mas eu não sou todo mundo. Sempre acreditei no respeito, no cavalheirismo, e minha caráter não me deixa aceitar passivamente tais atos principalmente para um movimento que se diz cheio de brios e éticas. - Mas Chefe! Até o Presidente fala! O Lula é bom em palavrão!– Não sou Presidente, não votei no Lula, não sou Doutor, não sou religioso para trazer as hostes da bem aventurança. Mas quando ouço alguém dizer um próximo a mim enrubesço e fico pensando... Afinal meus ouvidos que ouvem tantas coisas lindas e belas é obrigado a ouvir isto?

                      Na minha família o olhar de meu pai e de minha mãe quando falávamos um palavrão era como uma bomba na sala. Educadamente nos dizia que nunca mais devíamos falar e sim pedir desculpas. Quando Escoteiro era questão de honra na patrulha e na tropa não falar palavrão. Sempre em patrulha ou em Corte de Honra o Chefe fazia questão de lembrar-nos da lei e da promessa. Em acampamentos com outras patrulhas de diversas cidades, muitas delas não tinham papas na língua. Se o cozinheiro errasse coitado. Era palavrão para todo lado. Fazíamos questão de lembrar que isto não era próprio de escoteiros.

                     Sem faltar com o respeito nós adultos somos responsáveis para dar o exemplo. Os jovens nos copiam em tudo. Se em uma família o palavrão é comum, os filhos farão o mesmo. Eu sempre digo que respeito é bom e eu gosto. Uma vez um Chefe comentou que nos acampamentos nacionais, regionais e distritais, sejam os de aventuras ou Jamborees os palavrões andam soltos. Chefes rindo e dizendo os mais cabeludos palavrões. Chefes? Tenho lá minhas duvidas se são realmente chefes. Afirmo que o respeito é a maneira mais simples de educar. Sei que o respeito é uma norma internacional. Aceita inclusive por imperadores e reis. Sei que dizem hoje ser natural, pois todo mundo diz e fala. Não abro mão. É falta de respeito e educação. Não sou obrigado a ouvir o que não quero. Que adianta dizer que estamos formando homens e mulheres probos, decentes, leais, virtuosos e íntegros se não damos o exemplo que esperam de nós?

                    Não sei até onde hoje estão levando a sério a nossa Lei e Promessa. Não discrimino ninguém seja de onde for. Com a consciência tranquila afirmo que ninguém, mas ninguém mesmo tem o direito de dizer palavrões principalmente junto a crianças e os mais velhos. Só porque dizemos que iremos fazer o melhor possivel não nos dá o direito de dizer o que queremos. Se está escrito que o Escoteiro é limpo de corpo e alma, se pensamos que ele é puro nos pensamentos palavras e ações podemos dizer que se não fizermos o Melhor Possivel para tentar acertar não estaremos aptos a chefiar meninos que muito esperam de nós. Chefe! Não somos santos! – Sei que sim. Só no céu ou nas moradas do universo que cada doutrina tem santos. Aqui na terra em mundo de expiação e provas temos a obrigação de melhorar sempre.  

              Disseram-me que um grande escritor já escreveu o dicionário do palavrão brasileiro. Teve até noite de autógrafos. Um herói para muitos. Para mim não. Herói é outra coisa. Herói é o que fala e escreve sobre o amor, o respeito, a ética, o caráter, do aperto de mão sincero, do sorriso verdadeiro e saber que ele tem no coração Escoteiro a famosa dita: Espírito Escoteiro. Não me venham dizer que o palavrão é normal, pois não é. Já me disseram tantas coisas da modernidade que eu fico pensando se vale a pena ser moderno. Uma vez, há muitos anos visitei amigos que participavam de um grupo Escoteiro. Como sempre estava barbeado, banho tomado, lenço bem dobrado, meião nos “trinques”, sapato engraxado e unhas aparadas. Queria mostrar meus respeitos com os jovens que ali estavam. Jogavam futebol. Meu Deus! Quanto palavrão! O Chefe ria a vontade. Olhei para ele sério – Você acha graça? Isto é escotismo para você? Futebol? Palavrões? Dizer o que?

             Li um artigo de uma jovem mãe cujo nome não me lembro. Adorei o que ela escreveu. Fez-me ver que não estou sozinho nesta cruzada. Disse ela: - Outro dia li uma nota em uma coluna e contava que a quadra de tênis de um condomínio na Barra tinha sido interditada não por problemas de estrutura, obras nem nada, mas pela falta de educação dos frequentadores. De tão desbocados, eles – crianças, adolescente, jovens – começaram a incomodar tanto os vizinhos à quadra que o jeito foi fechá-la. Já tem um tempo que venho observando isso e me impressionado. Gente é meu ouvido que está ficando velho e chato ou as crianças andam desbocadas demais? Vejo crianças de sete, oito, dez anos falando palavrões que eu só fui falar na vida adulta e ainda assim me arrependo de ter adquirido esse hábito pouco fino. Tenho amigos que falam palavrões com os filhos normalmente e isso me faz lembrar-se do quão desbocado era meu pai. Só que meu pai nunca dirigiu um palavrão a mim ou a minha irmã e jamais admitiu que falássemos. Às vezes me sinto incomodada em locais públicos, como a praia ou o saguão de um cinema, em que adultos falam palavrões aos berros, sem a menor cerimônia, como se não houvesse crianças em volta. 

               - Continua ela: - Aí outro dia ouvi uma psicóloga que tem coluna numa rádio de notícias dizer que isso tem a ver com o código de cada família e que os pais podem conversar com os filhos e estabelecer as próprias regras, tipo esse palavrão pode, esse não pode. Sei lá, achei isso meio complicado e, considerando que uma hora não se tem mais controle sobre o vocabulário dos filhos mesmo, acho mais prático proibir enquanto crianças e adolescentes e estabelecer o limite do tolerável quando jovens e adultos. Mas que não quero ver minha filha na pracinha ou no play xingando os amigos ou berrando palavrões a esmo, ah, não quero mesmo.


                 Cada um tem seu livro arbítrio para dizer, falar, pensar e agir como acredita ser correto. Se isto acontece prefiro ficar longe, pois não vou sujar minha audição com o que não gosto e não aceito no Movimento Escoteiro ou fora dele.