Conversa ao pé do fogo.
Dizer palavrão não é próprio de Escoteiros.
Já publiquei vários
artigos sobre o tema. Palavrão! Tenho visto muitos jovens escoteiros e chefes escrevendo
comentando ou postando temas cheios de palavrões. Sinceramente não gosto. Não
gosto mesmo. Não acho próprio para quem se diz membro de uma associação que tem
uma lei e uma promessa. – Chefe! Todo mundo fala! – Pois é, mas eu não sou todo
mundo. Sempre acreditei no respeito, no cavalheirismo, e minha caráter não me
deixa aceitar passivamente tais atos principalmente para um movimento que se
diz cheio de brios e éticas. - Mas Chefe! Até o Presidente fala! O Lula é bom
em palavrão!– Não sou Presidente, não votei no Lula, não sou Doutor, não sou
religioso para trazer as hostes da bem aventurança. Mas quando ouço alguém
dizer um próximo a mim enrubesço e fico pensando... Afinal meus ouvidos que
ouvem tantas coisas lindas e belas é obrigado a ouvir isto?
Na minha família o olhar
de meu pai e de minha mãe quando falávamos um palavrão era como uma bomba na
sala. Educadamente nos dizia que nunca mais devíamos falar e sim pedir
desculpas. Quando Escoteiro era questão de honra na patrulha e na tropa não
falar palavrão. Sempre em patrulha ou em Corte de Honra o Chefe fazia questão
de lembrar-nos da lei e da promessa. Em acampamentos com outras patrulhas de
diversas cidades, muitas delas não tinham papas na língua. Se o cozinheiro
errasse coitado. Era palavrão para todo lado. Fazíamos questão de lembrar que
isto não era próprio de escoteiros.
Sem faltar com o respeito nós adultos somos responsáveis para dar o
exemplo. Os jovens nos copiam em tudo. Se em uma família o palavrão é comum, os
filhos farão o mesmo. Eu sempre digo que respeito é bom e eu gosto. Uma vez um Chefe
comentou que nos acampamentos nacionais, regionais e distritais, sejam os de aventuras
ou Jamborees os palavrões andam soltos. Chefes rindo e dizendo os mais
cabeludos palavrões. Chefes? Tenho lá minhas duvidas se são realmente chefes. Afirmo
que o respeito é a maneira mais simples de educar. Sei que o respeito é uma
norma internacional. Aceita inclusive por imperadores e reis. Sei que dizem hoje
ser natural, pois todo mundo diz e fala. Não abro mão. É falta de respeito e
educação. Não sou obrigado a ouvir o que não quero. Que adianta dizer que
estamos formando homens e mulheres probos, decentes, leais, virtuosos e
íntegros se não damos o exemplo que esperam de nós?
Não sei até onde hoje estão levando a sério a nossa Lei e Promessa. Não
discrimino ninguém seja de onde for. Com a consciência tranquila afirmo que
ninguém, mas ninguém mesmo tem o direito de dizer palavrões principalmente
junto a crianças e os mais velhos. Só porque dizemos que iremos fazer o melhor
possivel não nos dá o direito de dizer o que queremos. Se está escrito que o
Escoteiro é limpo de corpo e alma, se pensamos que ele é puro nos pensamentos
palavras e ações podemos dizer que se não fizermos o Melhor Possivel para
tentar acertar não estaremos aptos a chefiar meninos que muito esperam de nós.
Chefe! Não somos santos! – Sei que sim. Só no céu ou nas moradas do universo
que cada doutrina tem santos. Aqui na terra em mundo de expiação e provas temos
a obrigação de melhorar sempre.
Disseram-me que um grande escritor já escreveu o dicionário do palavrão
brasileiro. Teve até noite de autógrafos. Um herói para muitos. Para mim não.
Herói é outra coisa. Herói é o que fala e escreve sobre o amor, o respeito, a
ética, o caráter, do aperto de mão sincero, do sorriso verdadeiro e saber que
ele tem no coração Escoteiro a famosa dita: Espírito Escoteiro. Não me venham
dizer que o palavrão é normal, pois não é. Já me disseram tantas coisas da
modernidade que eu fico pensando se vale a pena ser moderno. Uma vez, há muitos
anos visitei amigos que participavam de um grupo Escoteiro. Como sempre estava barbeado,
banho tomado, lenço bem dobrado, meião nos “trinques”, sapato engraxado e unhas
aparadas. Queria mostrar meus respeitos com os jovens que ali estavam. Jogavam
futebol. Meu Deus! Quanto palavrão! O Chefe ria a vontade. Olhei para ele sério
– Você acha graça? Isto é escotismo para você? Futebol? Palavrões? Dizer o que?
Li
um artigo de uma jovem mãe cujo nome não me lembro. Adorei o que ela escreveu.
Fez-me ver que não estou sozinho nesta cruzada. Disse ela: - Outro
dia li uma nota em uma coluna e contava que a quadra de tênis de um condomínio
na Barra tinha sido interditada não por problemas de estrutura, obras nem nada,
mas pela falta de educação dos frequentadores. De tão desbocados, eles –
crianças, adolescente, jovens – começaram a incomodar tanto os vizinhos à
quadra que o jeito foi fechá-la. Já tem um tempo que venho observando isso e me
impressionado. Gente é meu ouvido que está ficando velho e chato ou as crianças
andam desbocadas demais? Vejo crianças de sete, oito, dez anos falando
palavrões que eu só fui falar na vida adulta e ainda assim me arrependo de ter
adquirido esse hábito pouco fino. Tenho amigos que falam palavrões com os
filhos normalmente e isso me faz lembrar-se do quão desbocado era meu pai. Só
que meu pai nunca dirigiu um palavrão a mim ou a minha irmã e jamais admitiu
que falássemos. Às vezes me sinto incomodada em locais públicos, como a praia
ou o saguão de um cinema, em que adultos falam palavrões aos berros, sem a
menor cerimônia, como se não houvesse crianças em volta.
- Continua ela: - Aí outro dia ouvi uma psicóloga que tem coluna numa
rádio de notícias dizer que isso tem a ver com o código de cada família e que
os pais podem conversar com os filhos e estabelecer as próprias regras, tipo
esse palavrão pode, esse não pode. Sei lá, achei isso meio complicado e,
considerando que uma hora não se tem mais controle sobre o vocabulário dos
filhos mesmo, acho mais prático proibir enquanto crianças e adolescentes e
estabelecer o limite do tolerável quando jovens e adultos. Mas que não quero
ver minha filha na pracinha ou no play xingando os amigos ou berrando palavrões
a esmo, ah, não quero mesmo.
Cada um tem seu livro arbítrio para dizer, falar, pensar e agir como
acredita ser correto. Se isto acontece prefiro ficar longe, pois não vou sujar
minha audição com o que não gosto e não aceito no Movimento Escoteiro ou fora
dele.