sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Quando termina a motivação Escoteira.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação Escoteira.

                     O escotismo como qualquer associação onde voluntários se interagem, é comum haver falta de sintonia levando muitas vezes o voluntário pedir demissão e na maioria dos casos nunca mais voltar. São muitos relatos reais de chefes que passam por isto. É difícil aconselhar. Cada caso é um caso. Quem não passou por esta fase? Tem hora que você desanima. Dá vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o caminho que estão seguindo não leva ao sucesso. Temos muitos chefes motivadores, mas existem casos que não adianta e nem frases motivadoras ajudam. Aquela motivação quando entramos já não é mais a mesma. O escotismo é interessante. No início tudo são flores, sorrisos, promessas, alguns até deixam as amizades que tinham em troca das novas que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais chegados se espantam com tanto carisma, com tanta demonstração de alegria que ele acredita ter alcançado um novo patamar de uma nova vida. Eles dizem que agora tem uma nova filosofia de vida. Seria assim mesmo?

                  Muitos grupos tem estrutura arcaica e na sua maioria dirigida por um líder que fica anos e anos no poder. Se ele este líder não sabe liderar e se for daqueles que pensa ser insubstituível é difícil extirpar o mal, se é que existe algum mal. Na maioria dos grupos bem estruturados existe uma democracia consistente onde um Conselho de Chefes realizado mensalmente, aparam arestas e isto traz a paz e a tranquilidade. Mas convenhamos nossa estrutura infelizmente é servil e dificilmente aceita ser contestada. Dizem os poetas que o que mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a teimosia de não reconhecer os próprios erros.  Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Cada caso difere do outro e não fácil superar. Afinal temos nossa família, nossa atividade profissional e até amigos fora do escotismo. Então quando aparece a falta de ética, de amor, de sinceridade, transparência e lealdade dos que se dizem irmãos de todos tudo se complica. Nesta hora sentimos que a falta de entendimento nos dá vontade de seguir outro caminho.

                 Se notarmos bem a matemática Escoteira é simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Somando as reuniões de sede, acampamentos e excursões quem sabe podemos chegar ao máximo há quinhentas horas anuais. Pensemos que na maioria das vezes temos nove meses de atividade por ano, pois muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se eu estiver certo dedicamos cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem aqueles mais abnegados com o dobro de horas doadas ao Movimento Escoteiro. Para uns uma eternidade para outros muito pouco. Mas porque então o desanimo? Penso que existem vários motivos, mas para mim o principal deles é a decepção com o ser humano. Quando começamos pensamos que o escotismo é um mar de rosas, que a Lei e a Promessa são levadas a sério por todos que participam dele. Muitos se dizem líder e seria esta a liderança que esperamos? Liderar é saber ser liderado e isto não é tão fácil. O pior são aqueles déspotas, que com o tempo a gente se sente ameaçado por uma força opressora que muitas vezes não tem mais retorno.

                Faz-nos muita falta um aperto de mão carinhoso e sincero. De um abraço fraterno, de um sorriso gostoso de uma palavra de carinho principalmente daqueles que convivem no mesmo ambiente já que ali deveria ser a nossa segunda família. Tem aqueles que nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos, mas têm aqueles outros que nos veem como indesejáveis, subservientes, dispensáveis, e se pudesse diriam: - Você está aqui para servir e não ser servido! E nesta hora que vem aquele desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às favas. Há sempre uma força para nos segurar. O nó na garganta demora a desaparecer. A promessa que fizemos nos atou nos sonhos escoteiros e então acreditamos que devemos dar a volta por cima. Mas chega um dia e ele vai embora. Afinal pensou que o escotismo seria uma fraternidade de irmãos e não foi. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos de adultos voluntários e foram desconhecidos como tal.

                  Dizem que nosso movimento é obediente e disciplinado. As diretrizes nos são impostas pela associação de maneira quase sempre ditatorial. Nunca somos consultados e sempre exigidos. A liderança se acha dona da verdade seja ela nos mais altos escalões ou nas unidades Escoteiras. Muitas vezes somos ameaçados, somos exigidos e nem lembramos que não temos salário e se estamos ali é para ajudar. A associação peca por não valorizar o voluntário. Ela às vezes esquece que não está lidando com funcionários pagos. No Escotismo Brasileiro somos voluntários para tudo. Para organizar uma sessão, um grupo, correr atrás para suprir necessidades e no final das contas muitos gastam do seu próprio bolso pensando em ajudar. Isto tem reconhecimento? Que eu saiba não. Esperar um elogio uma ação qualquer de um superior é quase impossível. Nosso movimento é o único que o voluntário paga para ajudar e colaborar. Uma utopia sem tamanho.

                       Seria tão bom se fossemos realmente o que preconiza o escotismo. Uma fraternidade, confiança, lealdade e acreditar na palavra de cada um. Difícil alguém nos dizer que somos importantes e até mesmo nos agradece seja formal ou informalmente. Não digo que somente um certificado de gratidão ou uma condecoração seja essencial. Isto teria de ser espontânea e sem o caráter burocrático. Ninguem que eu saiba recebeu de seu distrito, região ou mesmo a UEB uma cartinha parabenizando pelos anos prestados ao escotismo, ou melhor, quando do seu aniversário anual. Vamos esquecer o ano novo o natal que vem embutido em um site e se quisermos tomar consciência temos que ir até lá. Será que faltam recursos para uma correspondência? Poderia ser até um e-mail individual, mas não. Os recursos que nossos órgãos conseguem são para outras necessidades. Para o voluntário se espera seu pagamento anual ou taxas nos programas que são realizados por nossos dirigentes.


                     Eu costumo dizer que devemos lutar pelo que acreditamos. A estrada Escoteira é cheio de pedras e espinhos para atravessar. Sem alguém para nos dar apoio é difícil prosseguir. Sei que são milhares entrando e outros milhares saindo. Uma rotatividade cruel. Muitos no auge dos seus conhecimentos vão embora. Sei que não existe solução mágica. Precisamos de uma UEB uma Região Escoteira mais próxima do voluntário. Sem eles não somos nada e nada faremos por esta juventude tão necessitada de uma ajuda na sua formação moral.