quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Conversa ao pé do fogo. A Santa Inquisição Escoteira.


Conversa ao pé do fogo.
A Santa Inquisição Escoteira.

                       Será santa mesmo? Há alguns anos eu escrevi assim. Falei do que pensava da atuação dos dirigentes com suas criações, deixando para trás o que há de mais belo no escotismo que é a fraternidade o respeito e a lealdade. Quando a UEB criou o Manual Prático de Atuação, com mais de sessenta páginas foi o começo de uma perseguição aos membros que ela considerava indisciplinados e que não obedeciam a suas normas e regulamentos. A partir daí houve uma verdadeira caça as bruxas. Não só a alguns membros, mas também aqueles insatisfeitos que resolveram ter a sua própria associação nos moldes que pensaram que deveria ser.

                       Foram processos, gastos advocatícios, registros no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) de tudo que ela achava ser a proprietária. Registrou o nome escoteiro, Escotista, Jamboree, registrou tudo que poderia ser usado pelas suas congêneres que não estavam sob suas ordens. Dizem que chegou ao ponto de registrar o nome Bandeirante, desbravador e um grupo do Rio Grande do Sul. Foi um fracasso. Perdeu em todas as instancias até agora. Isto serviu para algumas regiões tomarem o mesmo rumo. Querendo ter o poder em mãos também fizeram o mesmo ameaçando, vigiando e até mesmo colocando bajuladores que se diziam escoteiros para ver o que o processado estava escrevendo nas redes sociais. Seria este o escotismo que eles pensavam fazer?

                     Muitos doutores em escotismo (o deles) tentaram explicar o porquê tudo isso. Explicações sem fundamento esquecendo as leis brasileiras que dão direito a muito dos seus questionamentos. Quando escrevi o artigo a “Santa Inquisição Escoteira” por sinal um tribunal religioso criado na Idade Média para condenar aqueles que eram contra aos dogmas utilizados pela Igreja e principalmente para os que quisessem processar uma nova religião poucos se revoltaram. Os estatutos foram escritos de forma a dar poder a estes “dirigentes” e eles se aproveitam sabendo que o menor deslize terá contra sí a força das normas criadas por eles mesmos.

                      Tal atuação não ficou restrita pelos donos do poder. Regiões Escoteiras com seus “Pafuncios” (Tolo, bobo, sem noção, sem cultura escoteira) investidos no “poder do nada”, passaram também a fazer perseguições, admoestações e até mesmo contratando advogados para darem curso nas exigências feitas aos “culpados”. Isto por acaso é o escotismo criado por Baden-Powell? Ele criou algum manual disciplinar ou mesmo deu procuração a alguém para fazer escotismo diferente do que ele criou? A UEB e suas Regiões tem tanto poder assim a ponto de esquecer alguns artigos da Lei que eles um dia juraram perante a Bandeira e a Deus?

                    Como pode alguém suspender um Chefe, que labuta que pratica e está todos os sábados nas reuniões, que gasta do seu próprio bolso em beneficio de muitos jovens só porque discordou ou mesmo proferiu o que pensava deste escotismo que estão fazendo? Será que eles acreditam ter o “poder absoluto” para determinar o que possa ser dito ou comentado? Que Democracia é esta? Sem direitos de discordar de expressar opinião fora das normas por eles criadas?

                   Se eu não estou satisfeito com as diretrizes estatutárias e regimentais, se eu não tenho nenhuma condição de alterar ou sugerir (apesar de que insistem em dizer que sim) não posso me rebelar? Não posso discordar desta associação que está fazendo um escotismo que não foi o que aprendi? Sou obrigado a pedir demissão e procurar outra associação para que possa me dar bem? Liberdade de expressão? Democrático isto? Se eu fiz uma promessa como lobo e escoteiro, perco meus direitos e tenho de mudar de nome? Aventureiro? Bandeirante? Explorador? Tradicional? O que prometi não tem mais valor? Obrigam-me a dizer que eu tenho de Servir a União dos Escoteiros do Brasil e ela não serve ninguém?

                      Enquanto países escoteiros tentam se entender, ou unificando ou respeitando as individualidades, aqui é diferente. Processos correm de norte a sul. Batem no peito dizendo que ela é a única com registro na WOSM. E daí? Será que este é o escotismo que queremos? Uma “chusma” de voluntários bondosos, carneirinhos, disciplinados, seguindo a fila dos donos do poder? Não se pode mais discordar? Enquanto o Brasil luta para ser mais democrático, contra essa corrupção desenfreada vêm estes “pafuncios” a ditarem normas para que todos obedeçam a suas ordens sem relutar?

                     Coloco-me na pele de um Chefe Escoteiro que tenta mostrar aos jovens de sua tropa ou alcateia que somos fraternos, amigos e irmãos dos demais escoteiros. E eis que eles ficam sabendo que fui suspenso, admoestado e possivelmente expulso. Será o exemplo para serem obedientes e disciplinados? Onde está minha autoestima, minha vontade em ajudar e acreditar que poderia estar colaborando com a juventude do meu país? Minha promessa não tem valor? E minha lei só vale para eles e não para mim?

                     Eu não sou santo. Nesta minha vida escoteira vi coisas do arco da velha. Passei por poucas e boas no escotismo, mas francamente nunca vi tamanha desfaçatez. Nunca vi um Chefe que luta por ajudar, que gasta do próprio bolso ser admoestado, ameaçado, suspenso e até mesmo vigiado pela sua postura ou modo de falar. Pergunto-me quem paga por tudo isso. Será você que tem seu registro na nobre associação? Você concordou? Foi consultado?    

                     Lembro que a inquisição atraia milhares de cristão nos julgamentos e outros milhares se divertiam quando os condenados eram sacrificados na fogueira. A cidade em peso presente. Quem sabe um dia os Grupos escoteiros serão obrigados a soltarem foguetes quando condenarem seus chefes. Seu nome será inscrito na história dos insurretos? Não acredito em “olho por olho, dente por dente”. Este não é o melhor caminho. Ainda me seguro na tradução do decimo primeiro artigo da lei escrito por Baden-Powell: - O Escoteiro é puro nos seus pensamentos, nas suas palavras e nas suas ações!


Nota - Precisava ficar repousando. Hoje o mar não está para peixe. Mas não deu. Tenho aquele espírito Robin Wood sempre querendo estar junto aos perseguidos e aos humildes que vez ou outra são menosprezados. Eita escotismo danado! Quando aprenderemos que somos um movimento de fraternidade, leal, cortes, irmão dos demais e quando iremos aprender que o dialogo é a maior arma de um ser humano? Deixa prá lá. A turma da “moita e do poder” não vai entender. Abraços fraternos... Pelo menos!