Conversa ao pé do
fogo.
A Santa Inquisição
Escoteira.
Será santa mesmo? Há
alguns anos eu escrevi assim. Falei do que pensava da atuação dos dirigentes
com suas criações, deixando para trás o que há de mais belo no escotismo que é a
fraternidade o respeito e a lealdade. Quando a UEB criou o Manual Prático de
Atuação, com mais de sessenta páginas foi o começo de uma perseguição aos
membros que ela considerava indisciplinados e que não obedeciam a suas normas e
regulamentos. A partir daí houve uma verdadeira caça as bruxas. Não só a alguns
membros, mas também aqueles insatisfeitos que resolveram ter a sua própria
associação nos moldes que pensaram que deveria ser.
Foram processos, gastos
advocatícios, registros no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)
de tudo que ela achava ser a proprietária. Registrou o nome escoteiro, Escotista,
Jamboree, registrou tudo que poderia ser usado pelas suas congêneres que não
estavam sob suas ordens. Dizem que chegou ao ponto de registrar o nome
Bandeirante, desbravador e um grupo do Rio Grande do Sul. Foi um fracasso.
Perdeu em todas as instancias até agora. Isto serviu para algumas regiões
tomarem o mesmo rumo. Querendo ter o poder em mãos também fizeram o mesmo
ameaçando, vigiando e até mesmo colocando bajuladores que se diziam escoteiros
para ver o que o processado estava escrevendo nas redes sociais. Seria este o
escotismo que eles pensavam fazer?
Muitos doutores em
escotismo (o deles) tentaram explicar o porquê tudo isso. Explicações sem
fundamento esquecendo as leis brasileiras que dão direito a muito dos seus
questionamentos. Quando escrevi o artigo a “Santa Inquisição Escoteira” por
sinal um tribunal religioso criado na Idade Média para condenar aqueles que
eram contra aos dogmas utilizados pela Igreja e principalmente para os que
quisessem processar uma nova religião poucos se revoltaram. Os estatutos foram
escritos de forma a dar poder a estes “dirigentes” e eles se aproveitam sabendo
que o menor deslize terá contra sí a força das normas criadas por eles mesmos.
Tal atuação não ficou restrita
pelos donos do poder. Regiões Escoteiras com seus “Pafuncios” (Tolo, bobo, sem noção, sem cultura escoteira)
investidos no “poder do nada”, passaram também a fazer perseguições,
admoestações e até mesmo contratando advogados para darem curso nas exigências feitas
aos “culpados”. Isto por acaso é o escotismo criado por Baden-Powell? Ele criou
algum manual disciplinar ou mesmo deu procuração a alguém para fazer escotismo
diferente do que ele criou? A UEB e suas Regiões tem tanto poder assim a ponto
de esquecer alguns artigos da Lei que eles um dia juraram perante a Bandeira e
a Deus?
Como pode alguém suspender um
Chefe, que labuta que pratica e está todos os sábados nas reuniões, que gasta
do seu próprio bolso em beneficio de muitos jovens só porque discordou ou mesmo
proferiu o que pensava deste escotismo que estão fazendo? Será que eles acreditam
ter o “poder absoluto” para determinar o que possa ser dito ou comentado? Que Democracia
é esta? Sem direitos de discordar de expressar opinião fora das normas por eles
criadas?
Se eu não estou
satisfeito com as diretrizes estatutárias e regimentais, se eu não tenho
nenhuma condição de alterar ou sugerir (apesar de que insistem em dizer que
sim) não posso me rebelar? Não posso discordar desta associação que está
fazendo um escotismo que não foi o que aprendi? Sou obrigado a pedir demissão e
procurar outra associação para que possa me dar bem? Liberdade de expressão?
Democrático isto? Se eu fiz uma promessa como lobo e escoteiro, perco meus
direitos e tenho de mudar de nome? Aventureiro? Bandeirante? Explorador? Tradicional?
O que prometi não tem mais valor? Obrigam-me a dizer que eu tenho de Servir a
União dos Escoteiros do Brasil e ela não serve ninguém?
Enquanto países
escoteiros tentam se entender, ou unificando ou respeitando as
individualidades, aqui é diferente. Processos correm de norte a sul. Batem no
peito dizendo que ela é a única com registro na WOSM. E daí? Será que este é o
escotismo que queremos? Uma “chusma” de voluntários bondosos, carneirinhos,
disciplinados, seguindo a fila dos donos do poder? Não se pode mais discordar?
Enquanto o Brasil luta para ser mais democrático, contra essa corrupção
desenfreada vêm estes “pafuncios” a ditarem normas para que todos obedeçam a suas
ordens sem relutar?
Coloco-me na pele de um
Chefe Escoteiro que tenta mostrar aos jovens de sua tropa ou alcateia que somos
fraternos, amigos e irmãos dos demais escoteiros. E eis que eles ficam sabendo
que fui suspenso, admoestado e possivelmente expulso. Será o exemplo para serem
obedientes e disciplinados? Onde está minha autoestima, minha vontade em ajudar
e acreditar que poderia estar colaborando com a juventude do meu país? Minha
promessa não tem valor? E minha lei só vale para eles e não para mim?
Eu não sou santo. Nesta
minha vida escoteira vi coisas do arco da velha. Passei por poucas e boas no escotismo,
mas francamente nunca vi tamanha desfaçatez. Nunca vi um Chefe que luta por ajudar,
que gasta do próprio bolso ser admoestado, ameaçado, suspenso e até mesmo vigiado
pela sua postura ou modo de falar. Pergunto-me quem paga por tudo isso. Será você
que tem seu registro na nobre associação? Você concordou? Foi consultado?
Lembro que a inquisição
atraia milhares de cristão nos julgamentos e outros milhares se divertiam
quando os condenados eram sacrificados na fogueira. A cidade em peso presente.
Quem sabe um dia os Grupos escoteiros serão obrigados a soltarem foguetes quando
condenarem seus chefes. Seu nome será inscrito na história dos insurretos? Não
acredito em “olho por olho, dente por dente”. Este não é o melhor caminho.
Ainda me seguro na tradução do decimo primeiro artigo da lei escrito por Baden-Powell:
- O Escoteiro é puro nos seus pensamentos, nas suas palavras e nas suas ações!
Nota -
Precisava ficar
repousando. Hoje o mar não está para peixe. Mas não deu. Tenho aquele espírito
Robin Wood sempre querendo estar junto aos perseguidos e aos humildes que vez
ou outra são menosprezados. Eita escotismo danado! Quando aprenderemos que
somos um movimento de fraternidade, leal, cortes, irmão dos demais e quando
iremos aprender que o dialogo é a maior arma de um ser humano? Deixa prá lá. A
turma da “moita e do poder” não vai entender. Abraços fraternos... Pelo menos!