Conversa ao
pé do fogo.
Uma inspeção
de Gilwell.
Chefe Tolon.
- Conversei com Miguel o Pioneiro que
se prontificou a ser meu Assistente no Acampamento de verão. Quatro dias
aproveitando o feriado do dia da Bandeira. Formamos uma boa dupla. Não era o
primeiro, Miguel já tinha colaborado outras vezes. Aprendeu rapidamente como se
portar em um acampamento escoteiro e dando todos seus conhecimentos aos
patrulheiros e monitores. Os grandes jogos, os jogos noturnos, o adestramento
de ver sem ser visto e até mesmo a técnica de montar grandes pioneirías foi
muito bem assimilada. O que mais me preocupava, entretanto era a Inspeção de
Gilwell feita impreterivelmente as nove da manhã nos campos de Patrulha.
Minha preocupação era com a Patrulha Lobo
Cinzento. Nos dois primeiros dias ficou em último lugar. Eles nunca souberam
seus pontos. Usávamos a técnica de Gilwell e assim só aquelas que atingiam o
padrão para o Troféu Eficiência de Campo sabiam que alcançaram os 250 pontos
exigidos. Não havia primeiro lugar. Bastava conseguir os pontos necessários. Miguel
foi perfeito. Honesto na contagem, honesto na inspeção ponto a ponto. A Lobo
Cinzento não conseguia acompanhar. Já sentia o desanimo estampado em cada
patrulheiro.
Josivaldo o Monitor da Lobo Cinzento.
- Olhei para Polegar o Sub Monitor e ele
olhou para mim com os olhos tristonhos. Segundo dia e não conseguíamos a
classificação. Eu sonhava com o Troféu Eficiência. Via nas outras patrulhas o
orgulho da bandeirola feita de couro marrom com dizeres “Patrulha Padrão”. No
primeiro dia sabia que não íamos conseguir. Foi tudo muito corrido e com três
patrulheiros novatos era difícil acompanhar as demais.
Já estava cansado de falar a mesma
coisa. Não queria dizer quem fora culpado. Isto não era papel do bom Monitor.
Eu sabia que ninguém consegue trabalhar em equipe se não aprender a ouvir. E
ninguém vai aprender a ouvir se não aprender a se colocar no lugar dos demais
patrulheiros. Eu entendia perfeitamente que todos são peças importantes no
trabalho em Patrulha. Cada um representa uma parcela do resultado final, se um
falha, todos devem se unir para acertar novamente.
Polegar o Sub Monitor da Lobo
Cinzento.
- Eu estava desanimado. Era meu
primeiro acampamento como Sub e jamais pensei que seriamos tão ruins assim para
conseguirmos o “Troféu Eficiência”. Lembrei-me do meu pai quando dizia, filho o
talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos. Era minha Patrulha
sem tirar nem por. Conversei muito com Josivaldo. Ele reuniu a Patrulha diversas
vezes. – Gente, ele dizia – Só com dedicação, motivação, visão e o talento de
cada um podemos ganhar alguma coisa. É hora de cada um dar sua contribuição. “Não
podemos voltar derrotados”
Miguel o Pioneiro Assistente.
- Me sentia bem como Assistente do Chefe
Tolon. Educado, cortês, leal se dedicava ao extremo na formação da tropa.
Conversei com ele sobre a Lobo Cinzento. Não poderíamos ajudar? Ele sorriu e
disse: - Miguel se quer ir rápido vá sozinho. Se quer ir longe vá em grupo!
Eles precisam dar o primeiro passo. Todos devem entender que são responsáveis.
Aprender a se colocar em primeiro lugar não é egoísmo nem orgulho. É amor
próprio. Eles precisam se entender.
- Chefe Tolon.
- Avistou naquela manhã todas as
patrulhas na porta do seu campo, Cantando sorrindo em frente ao pórtico de
entrada. Viu a Lobo Cinzento diferente dos outros dias. Será que se entenderam
e mudaram o rumo? Ele gostaria muito que eles se classificassem, mas teriam as
mesmas condições das demais patrulhas. Ajudar no possível sim, ajudar além do
que merecem não. Chamou Miguel que tomava um cafezinho no campo da chefia. Eles
tinham o seu. Ali se divertiam com suas refeições, pioneirías e o programa de campo.
Faltavam cinco minutos para as nove. Começaram a caminhada. Pontualidade britânica
ele dizia sempre.
Josivaldo o Monitor da Lobo Cinzento.
- Foi uma ótima conversa. Começou
elogiando. Sabia que sem uma boa motivação ele não iria conseguir nada. –
gente, - ele dizia – O que cada um de nós devemos fazer em primeiro lugar, é
respeitar as nossas próprias convicções se acreditarmos nela. Se isto não for possível
nada vai mudar. Ele notou a diferença durante o jantar onde cada um correu a
construir pequena artimanhas e engenhocas, fazendo uma varredura no campo e
todos depois do jantar correram até o riacho para dar um bom trato no vasilhame
e material de sapa. Não passaram do horário. Era proibido. Dormiram bem e
acordaram as seis em ponto.
Formados em frente ao Pórtico que
apelidaram de “Verdade é Amor”, esperaram a chegada da chefia. Inspecionados no
uniforme, apresentação e sorrisos ele acompanhou o Chefe na inspeção de campo.
Não iriam falhar, os uniformes foram lavados os sapatos engraxados. Todos
estavam de posse do seu lenço e pente. As facas e canivetes devidamente limpas
e talqueadas. Quando os chefes partiram eles se abraçaram. – Ele disse: Turma,
podemos até perder, mas se isto acontecer iremos perder com honra.
Miguel o Pioneiro Assistente.
- A bandeira tinha sido hasteada.
Petisco da Puma fez a oração. Ele tentou esconder seu contentamento. Via as patrulhas
sorridentes esperando o resultado final. Ultimo dia. Quando o Chefe Tolon
Chamou Josivaldo Monitor da Lobo Cinzento para receber seu troféu, todas as
patrulhas correram para abraçá-lo e aos demais patrulheiros. Com o sorriso leve
do Chefe Tolon e de Miguel o Pioneiro Assistente a Patrulha Lobo Cinzento
sentiu que nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o
desejo de vencer.
Nota – Sobre uma inspeção de Gilwell:
- É muito melhor arriscar coisas
grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que
formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito,
porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.
A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem
se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é
abundante. E termino dizendo: Sem bom monitores não existem boas
patrulhas.