segunda-feira, 28 de maio de 2018

Conversa ao Pé do fogo. Orgulho de sua Pioneiría.



Conversa ao Pé do fogo.
Orgulho de sua Pioneiría.

             Não existe maior alegria para um Escoteiro ou uma Escoteira ao terminar sua Pioneiría dar uns passos atrás e olhar com carinho sua obra. Um sorriso brota, os olhos brilham e dá uma vontade de tirar foto, filmar e mostrar para todo mundo. – Fui eu quem fiz! Fui eu quem fiz! Repete. Pode alguém aparecer e dizer que está mal feita, podem dizer o que quiser, mas ele ou ela estão ali orgulhosos pela construção que dedicaram horas, calos nas mãos, suor e mosquitos a enlouquecer qualquer um. Nesta hora é que todo o escotismo brota no coração. Bate aquela chama que nos dá orgulho em pertencer ao movimento.

             Os jovens quando entram para ser escoteiros logo de cara ouvem esta palavra mágica. Pioneirías. O que é isto? Perguntam. Construções rusticas feitas com nós, amarras e costuras diversas diz o Monitor. E ele fica com aquilo na cabeça. Doido para acampar e fazer uma. Depois não importa se o vento a jogou ao chão, ele vai ter “causos” e muitos para contar. De um simples banco um dia ele vai dizer aos seus netos que construiu uma linda poltrona reclinável e que bastava fechar os olhos e ela balançava ao sabor do vento. Os netos irão ouvir com orgulho e sonhar também em fazer o que seu avô fazia.

             Dizem e contam por aí que Pioneiría tem técnica. Já vi artigos, livros, desenhos todos escritos. Eu mesmo publiquei vários. – Técnicas de Pioneiras. Tenho lá minhas dúvidas. Quando as fiz não tinha livros nem desenhos. Eram criadas da imaginação. Um pau ou bambu aqui, outro ali, umas amarras com sisal ou cipó e elas iam brotando conforme as necessidades. De vez em quando vejo fotos de algumas, lindas, esplêndidas, algumas obras de carpinteiros/engenheiros e não de jovens escoteiros. Dias e dias para fazer. Não sei se tem graça. A graça meus amigos é o Escoteiro ou Escoteira fazer. Chefe! Xôô! Se manda. Não fale, não fique ai olhando. Não dê palpites. Deixa-os crescerem! Faz parte do nosso método!

             Para mim vale mais uma pequena amarra dada por um jovem que uma casa em cima de uma árvore que não tem finalidade no adestramento progressivo e que foi feita pelo Chefe/engenheiro. Ao dar a Amarra de acabamento ou fazer um simples Volta do Fiel é o inicio de tudo. E a Costura de Arremate? Simplesmente maravilhosa! Quando visitava acampamentos escoteiros no passado, ficava orgulhoso em ver no campo de Patrulha, como um simples sisal ou cipó cercava o campo. Ninguém pulava ou entrava por ali. A entrada era pelo pórtico. Rústico, simples sem aquelas belezas que vemos em fotos ou em grandes acampamentos escoteiros e sempre feitas pelos chefes. – Sempre Alerta Patrulha! Licença para entrar? Todos respeitavam.

              E durante a inspeção de campo pela manhã, ver uma mesa simples, um toldo mesmo que enrugado, bancos para sentar um fogãozinho suspenso, um lenheiro, um porta ferramentas, fossas de líquidos e detritos com tampas, mais ao fundo um WC bem feito ou mal feito, um tripé para o lampião, chapéus, um porta bastão e por aí afora eu me orgulhava. Nunca gostei de chefes que em vez de ajudar prejudicavam a Patrulha. Tudo limpo alguns levavam no bolso palitos, papeis para jogar ao chão e dizer: Não estava tão limpo. É correto? O que dirá a Patrulha? - Chamei a atenção de muitos e até em cursos que dirigi apareciam chefes assim. Vejam bem, eram formadores! – Formando quem?

              E quando o cerimonial de bandeira terminava, era bom comentar e elogiar as patrulhas pelo seu esforço. Nunca criticar em publico. Um porta canecas de um galho seco valia mil pontos. Tudo era comentado sem citar quem foi o melhor. Claro, na pontuação as patrulhas que atingissem o padrão solicitado recebiam seu totem de eficiência. Entregar a bandeirola de eficiência, cumprimentar o Monitor e toda a Patrulha, era bom demais! Que orgulho! Vê-los sorrindo! Pioneirías! Ah! Como são belas quando feitas por eles.

             Pioneirías! Quem já fez nunca esquece. Mesmo aquelas que o vento malvado jogou ao chão. Mesmo aquelas que umas vacas invadiram o campo e pisaram em tudo. Mesmo aquelas que um dia passamos uma noite sentados nos bancos sobre a proteção do toldo, pois a chuva torrencial encheu de água e barro as barracas. Lembranças. Belas lembranças de pioneirías que brotaram na mente do escoteiro.

               Quantas pioneirías eu vi e quantas admirei. Água encanada por bambus no campo da Patrulha? Uma ponte pênsil, uma jangada, um lindo pórtico com torre de observação, barracas suspensas, elevador privativo, são tantas que eu mesmo gostaria de voltar no tempo e fazer outras que não fiz. Quando vejo o escoteiro fazendo uma escada de cordas ou cipó, o caminho do Tarzan, um ninho de águia, uma passagem suspensa de bambus ou madeira de lei que digo para mim mesmo: Jovem! – Foi uma simples amarrada diagonal, meus parabéns, você fez o sonho de todo escoteiro, Bravôo!

Nota – Kipling escreveu o sonho do escoteiro: - “Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido”. E você escoteiro ou escoteira, construiu a Pioneiría dos seus sonhos?