quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Era uma vez... Um planeta azul chamado Terra!


Lendas Escoteiras.
Era uma vez... Um planeta azul chamado Terra!

               A vista era maravilhosa, debaixo daquele enorme castanheiro que sempre teve frutos e em um banco simples de madeira feito como uma pioneiria eterna estava sentado nosso mestre Lord Baden-Powell. Ele gostava de todas as tardes ficar ali, olhando seu planeta azul que se destacava no infinito entre milhares de estrelas brilhantes e as lembranças sempre a aflorar na sua mente. Aquela Colônia que tão singelamente batizaram de “Fraternidade” era uso fruto dos Escoteiros que um dia partiram para as estrelas. Lord Baden-Powell fazia questão de receber com um sorriso com um aperto de mão um abraço forte todos que chegavam da terra. Sorrindo dizia que armassem a barraca no campo mais verde, nas campinas mais florida ou vales dourados, onde o jorro de uma nascente ou cascata acontecia, e árvores frutíferas que proliferavam. Cada um escolhia seu próprio campo Escoteiro. Absorto em seus pensamentos Lord Baden-Powell não viu chegar seu amigo Kenneth Maclaren. Amigos de longa data desde a Guerra do Transvaal e do primeiro acampamento em Browsea, eles grandes amigos sempre se reuniam ali.

                Recebi seu recado General – Disse Kenneth. Lord Baden-Powell o olhou com carinho. Sabia que ele teve muitas propostas de outras colônias no céu, mas recusou todas. Era um amigo de verdade. – Sabe Kenneth, disse Baden-Powell, gostaria de um favor seu – Diga e eu o farei meu amigo General! – Baden-Powell riu e prosseguiu. Tem vários anos que não vou a terra e não sei como vai o escotismo por lá. Você sabe que eu quase não viajo mais e nem sei se posso ajudar os Escoteiros terrenos. Se você tiver condições tire uma semana e faça um périplo na terra observando. Tente ver como está o método e o aprender fazendo que deixei e se o sistema de patrulha está como sempre pensamos que fosse. Veja também se eles se lembram daquela gostosa tradição que um dia ensinei a todos. – Seu pedido é uma ordem general. Irei nesta semana mesmo. Kenneth se despediu não sem antes deixar lembranças a Lady Olave St. Clari Soames, a esposa de BP. Logo que ele partiu Lord Baden-Powell avistou uma tropa de chefes em curso comandada por seu outro grande amigo Chefe John Thurman. Ele sabia que John um antigo diretor de Gilwell Park era mestre em cursos deste tipo. Havia ali em sua colônia muita gente boa. Claro que problemas existem, mas ele sabia como contorná-lo.

                   Na semana seguinte foi procurado pelo amigo Kenneth. – Já de volta? Disse BP. Já General. E olhe não trago boas notícias. BP sorriu de leve. Vamos até ao nosso ponto de reunião. Você sabe que eu amo sentar embaixo daquele castanheiro. – Eu sei General, eu sei. O senhor fez questão de fazer uma réplica de um que existia em Mafeking. Lembro que o senhor adorava ficar lá sentado pensando sobre a guerra. Lord Baden-Powell sorriu. - Sente-se aqui comigo e me conte tudo! – Para dizer a verdade General não tenho muito para contar. Desde a última vez que lá estive em nosso planeta azul que o escotismo não é mais o mesmo. Estão fazendo grandes modificações. Existe uma liberdade tal que mais parece uma indisciplina assistida. Países que se dizem modernos abrem mão em varias questões que em sua época não iriam acontecer. Uma liderança mundial chamada de WOSM ou OMME tem aprontado poucas e boas. Eles não produzem nada de bom para um escotismo simples e sem riquezas.

                  BP. Já sabia deste pormenor. Não havia como mudar. – Bem continue meu amigo Kenneth, disse Lord Baden-Powell. Olhe General rodei vários países, mas demorei mais no Brasil. Francamente? Sei que o senhor nunca esteve lá e fez muito bem. Eu até que gostei de muitos chefes novos no escotismo, são voluntários de valor e tentam ao seu modo educar a mocidade. Pena que lutam só. As autoridades brasileiras desconhecem o movimento. Dizem que eles vendem biscoitos e ajudam a atravessar idosos nos sinais de trânsito. Muitas cidades aproveitam deles para plantar árvores, limpar praças, ajudar nas calamidades e carregar viveres para os necessitados. Até aí tudo bem, boas ações dos Escoteiros são sempre bem vindas. Mas acampamentos? Poucos. Muito poucos. Eles dão enorme valor aos encontros nacionais e internacionais. – Me diga falou BP sabe se o escoteirinho de Brejo Seco foi em algum deles? Nem pensar General. Tudo é muito caro e viajar de um estado a outro o custo é enorme. Contaram-me que os lideres gostam disto, sempre tem os que se sacrificam e pagam. A associação Escoteira sempre tem apoio de algumas empresas e o lucro é certo. Verdade ou não quase nunca fazem prestação de contas nestas atividades. Os mais pobres e humildes não tem vez. Lá a palavra de ordem é: - Escotismo é para ricos! - BP pensou: - Coitado do escoteirinho de Brejo Seco.

                 – Olhe General, a direção escoteira brasileira se apropriou de muitos termos e programas que o senhor fez. Registrou tudo como se eles fossem os donos. Surgiram outras associações e elas são tratadas a ferro e fogo. Todas levadas às raias dos tribunais de justiça. Mas olhe, o tempo vai ensinar a eles que o escotismo é feito de fraternidade como é feito aqui em nossa Colônia. Do nosso uniforme que usamos lá na terra foi tudo alterado. Os novos dirigentes acreditam que mudar o passado é melhorar o presente e fazer um grande escotismo no futuro. Criaram novas cores e quer saber general? São mais de dezoito tipos de uniforme a escolher. Uma pequena parte aderiu ao nosso caqui e outra a tal vestimenta que eles criaram. Quer saber general? É comum colocar o lenço e se dizer Escoteiro. Tem muita coisa general. Muita mesmo. Eles agem sem consultar ninguém. Não há transparência do que fazem. Pesquisas? Nunca existiram. Felizmente boa parte dos chefes são pais novos e desconhecem as tradições e acreditam que eles caminham na trilha do sucesso.

                  Lord Baden-Powell olhou melhor o seu planeta azul. Rezou muito. Pediu ao senhor que desse força a todos e que o escotismo fosse reconhecido no mundo para que se faça uma grande fraternidade mundial. Lady Olave estava chegando com  John Thurman. Este sorriu e disse – Eu já sabia General. Em 1954 antes de vir para cá, deixei para eles uma mensagem onde escrevi com todos os meus conhecimentos adquiridos. O chamei de os Sete Perigos. Disse tudo que poderia acontecer. Falei sobre administração, sobre centralização, Seriedade demasiada, falei sobre exclusividade transparência e austeridade. Disse o que o senhor pensava sobre o escotismo entre os pobres. Falei da sua simplicidade e do prazer do rapazes que faziam um escotismo simples. E terminei dizendo que os únicos capazes e por o escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Finalizei dizendo que se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.


                 Lord Baden-Powell de supetão perguntou ao seu amigo Kenneth: Sabe me dizer se o Osvaldo Escoteiro já chegou? – Não General, ele ainda vai ficar na terra por mais alguns anos. Ele acha que pode ajudar ainda nos erros que cometem. Mas eu acho difícil, ele não tem nenhuma condição de ser ouvido por todos. BP não disse mais nada. Não havia o que dizer. O melhor era se dirigir ao grande cerimonial de Bandeira que todas as tardes acontecia em sua colônia. Pelo menos ali a disciplina, a fraternidade e o respeito era comemorado em todos os dias da semana. – Parou cumprimentou a todos na enorme ferradura e ao comando de arriar a bandeira fez sua saudação Escoteira com orgulho. Sabia que tudo iria mudar e que mudasse para o bem. Rezou pedindo que todos se lembrem de que o escotismo não tem dono, que ele tem uma função única para rapazes e moças do mundo. Olhou de novo o planeta azul ajoelhou e pediu ao Senhor que fizesse da Terra um mundo feliz entre os Escoteiros!