terça-feira, 21 de abril de 2015

Quer saber? Eu adoro desfilar.



Crônicas de um Velho Escoteiro.
Quer saber? Eu adoro desfilar.

                      Bom demais. Só quem já passou por isto sabe o orgulho, o frenesi de estar ali desfilando, marchando, cantando, ou então tocando em um instrumento qualquer nos desfiles que para muitos se tornaram histórias. Não sei se era uma paixão enorme por ser Escoteiro, por ter passado uma semana engraxando o Vulcabrás, polindo as estrelas de metal, polindo o cinto e dobrando o lenço Escoteiro de olho no seu chapéu de abas largas. Sempre com a mente voltada para o dia especial. Cada desfile tinha um sabor diferente. As palmas do público quando pipocavam a gente sentia um entusiasmo próprio de ser Escoteiro e brasileiro. Não dá para esquecer o palanque, o alto, o direita volver, a saudação à autoridade, o corneteiro brilhando no seu toque, o retorno e ainda dar uma colher de chá aos bairros mais distantes fazendo lá também seu périplo de orgulho em desfilar. Época de enfrentamento de bandas, de fanfarras, a do colégio, a da Escola Estadual, o Ginásio dos padres, e o Berica. O Berica? Gente eu não me esqueço dele. Tinha uma fanfarra comprada com seu dinheiro. Fazia questão de desfilar com ela em um Grupo Escolar. Tinha até uma cantoria conhecida de todo mundo que dizia: Arreda Grupo, que o Ginásio vem, que catinga de macaco, que o Berica tem! Kkkk.

               Eram tempos que ficávamos treinando ordem unida duas três vez por semana. Nestas épocas os acampamentos, as atividades aventureiras diminuíam de intensidade e davam lugar aos treinos, onde todos acorriam no campinho do Zefir Futebol Clube. Eram mães, pais, avós, tios tias, vizinhos e onde a meninada pequena ficava com os olhos brilhando a olhar o treino e sonhar que um dia seria um de nós. Ah! Saudade lembrada, saudade sentida, saudade hoje e para o resto da vida. São saudades eternas. Em um aniversário da cidade ganhamos mais cinco tambores, quatro tarois, quatro bumbos e cinco cornetas. Haja “embocadura” para tocar todas elas. Foi presente do Tiro de Guerra, amigo nosso de longa data. Quando chegou minha hora de servir a pátria eles me receberam de braços abertos. Claro, com uma corneta! Risos. Então voltemos à festividade. Nossa “banda” tinha mais de quarenta instrumentos. Ninguém tinha igual. Formados na sede esperávamos o Munir nosso Maestro e Guia Monitor para dar a ordem de: Grupo! Firme! Em frente, marche!

               Tivemos no passado um fato que marcou. Quer saber? Não fomos bons Escoteiros, mas até hoje eu guardo tudo na memória. O prefeito chamou a Banda de Colatina para desfilar na cidade. Treinada pelos Fuzileiros Navais. Respeitada em todo vale do Rio Doce. Munir nosso maestro e Guia da Tropa gritou: - Vocês são Escoteiros ou monte de “merda”! – Deus do céu, agora era para valer. Lá fomos nós com o orgulho próprio que BP nos deu. Ao passar uma banda pela outra foi como se uma bomba tivesse explodido. Quase houve brigas, mas enfrentamos sem medo. O prefeito não gostou. Reclamou com o Chefe João chefe do grupo. Na partida deles fizemos uma delegação e fomos lá pedir desculpas. Eles riram, e oh! Que vontade de sair no tapa com eles! No vagão enquanto o trem partia gritavam: - Quer apanhar? Vão a Colatina.
             
                Soube que o prefeito pagou todas as despesas, pois muitos instrumentos quebraram. O tempo passou e nós fomos a Colatina várias vezes. Um grupo irmão se fez lá. Ficamos de castigo por três meses. Não podíamos acampar, não podíamos excursionar, nossas bicicletas estavam enferrujando (uma maneira de dizer). Que saudades da minha mochila, da minha barraca, de fazer uma pioneiria, de cantar em volta de um fogo. Mas Chefe João era duro e queda. O tempo passou e tudo foi esquecido. Esquecido? Nunca vi tantas enquetes da briga nos fogos de conselho. E nas conversas ao pé do fogo? Tinha Escoteiro que rolava no chão de tanto rir. No Sete de Setembro o prefeito não nos deixou desfilar. Deixou que tomássemos conta dos grupos escolares e mais nada. Paciência. Se errarmos nós temos que aprender com nossos erros. O “diabo” maior foi ver a banda de Colatina desfilando e rindo de nós. Acho que merecemos.

                 Sei que hoje somente os saudosos chefes de cidades do interior ainda pensam assim. Eles sabem que a meninada gosta e nas suas cidades todos se orgulham em desfilar. Nunca esqueci quando cheguei em Sampa. Um chefão paulista da gema olhou para mim como se fosse Deus e disse: - Só andando. Passos orgulhosos sem marchar! – Por quê? Eu perguntei. – Porque Escoteiro não marcha, não somos militares. – Um perfeito “bobiota”. Mistura de bobo com idiota. Nem liguei e até marchei com mais força. Lembro que lá por volta de 1980 um destes “bobiotas” de novo falou para não marcharmos. Nada de marchar. Caramba! O que ele sabe ou entende sobre isto? O que ele sabe dos pais e amigos dos meninos que foram ali para assistir? O que ele sabe do orgulho dos jovens em desfilar marchando e sorrindo pelo que estão fazendo? Não sei por que estes “bobiotas” acham que marchar é errado –  Um Chefe me disse um, isto é militarismo! Não somos militar! – E dai? Quantos meninos sonham com isto? Querem tirar o sonho dos jovens Escoteiros e Escoteiras? Já vi alguns que nem alto, nem direita volver, nem firme e descansar dizem mais. Isto é ser militar.

                        Cacilda para não dizer outra coisa. Pelo menos ensinam aos militares que o Brasil é grande, que temos orgulho, que servir a pátria é uma honra. Idiotas estes chefes que nada entendem. Gostaria de levá-los para o campo. Se não querem marchar devem ser bons em técnicas Escoteiras. Afinal marchei muito e gostaria, portanto de vê-los no campo.  Mostrar técnicas Escoteiras que eles nunca viram mostrar artimanhas e engenhocas que  eles ficariam estupefatos em ver. Mostrar como se trabalha com cipó, como se virar com comida mateira colhida na floresta. Mostrar em um jogo noturno que o Morse é bom demais. Mostrar que ser Escoteiro não é aprender o que querem que aprendamos hoje. Que este palavrório de novos tempos é papo furado. Ser Escoteiro é muito mais que isto, é o sonho de um grande homem que criou um escotismo e era um militar. É ter orgulho é paixão pelo Brasil, é cantar o Rataplã de cabeça erguida. Em se sentir bem em uma patrulha e saber que ali somos todos irmãos.


            Época em que nós meninos acreditávamos no brilhantismo de desfilar, lembrar-se de um Don Pedro I em seu cavalo branco mesmo que não seja a insurgir-se com Portugal. E na bandeira ao final do desfile todos formados na sede. Cantando com a dignidade de um infante o hino Nacional. Ali lobinhos Escoteiros e sênior sorriam orgulhosamente cantando o Rataplã. Nunca esqueci. Os chefes ao final vinham em fileira cumprimentar a cada um. Um aperto de mão gostoso, um sempre alerta saudoso – Parabéns obrigado pela sua contribuição com a pátria. Gente isto fazia um bem danado. Agora não pode. Dizem que é militarismo. Bendito BP um milico que se orgulhava de marchar com seus Escoteiros. E viva o Brasil e abaixo a tirania!