Conversa ao
pé do fogo.
Sou um
simples Escoteiro e não um escritor.
“Fantástica
história”. Viajei nela como não fazia desde criança. Parabéns pela excelente
criatividade e pelo tom nostálgico da narração. Não pude deixar de ler outros
contos também. De agora em diante seu blog estará gravado nos “meus favoritos”
para que possa prestigiar, ou seria saborear seus “causos”.
Acho que ele não sabe. Sou um Escoteiro
e não um escritor. Meti-me nesta seara pensando em transmitir o que sei aos que
gostariam de conhecer. Entretanto nem sei se vale a pena. Poucos acho eu estão
lendo. Tem hora que penso que meus amigos gostam mais das fotos que acompanham
meus escritos. Já vi alguns comentando o que nada tinha a ver com o conteúdo. Resigno-me
em voltar a minha condição de Escoteiro, ou melhor, um Velho Escoteiro. Algumas
vezes ofereço meus préstimos aqueles que sentem alguma dificuldade na sua seara
Escoteira. A minha maneira tento ajudar e os resultados? Não sei. Já ofereci
ajuda a grupos próximo onde me escondo. Nem resposta deram. BP tinha razão.
Setenta anos estudando, fazendo, participando e lembrando e os mais novos
preferem passar pelo mesmo caminho onde muitas vezes não acertamos.
Baden Powell no livro Guia
do Chefe Escoteiro menciona textualmente “os objetivos do Movimento (...) para
serem sentidos em sua verdadeira grandeza, devem ser avaliados por seus efeitos
no futuro e por um prazo nunca inferior a 10 anos. Esta é a real unidade de
medida que deve ser usada no Movimento”. Assim, nossa responsabilidade como
educador é garantir a permanência do jovem por um lapso de tempo suficiente
para que possa extrair do Escotismo os efeitos benéficos. Isto acontece? É claro
que não. Ainda não existe uma preocupação em saber qual o tempo de permanência dos
jovens no escotismo de hoje. A própria direção nacional se mantem no anonimato
e nunca em tempo algum nos deu através dos seus registros onde estamos e como
estamos na permanência Escoteira na associação. Alguém se preocupa? Quantas vezes
falei sobre evasão e ouve por acaso comentários ou mesmo sugestões?
Eu sei que sou um Escoteiro
e nunca um escritor. Escrevo mas sabendo que a metodologia que uso não produz
resultados. Meus contos sempre têm um motivo, uma interpretação de como deveria
ser o movimento Escoteiro. Meus artigos muitas vezes são ferinos em suas
palavras, mas resultados sobre o que disse não acontecem. Dez anos? Passar pelas
fileiras Escoteiras por dez anos? É BP, isto é uma utopia hoje. Conta-se a dedo
de jovens que permanecem por dez anos. Chefes voluntários sim. Vejo que muitos
que se diziam amigos virtuais foram parar em outras paragens. Sou duro com o
que escrevo principalmente pela mudança sem nenhuma base, sem nenhuma consulta,
sem envolver todos os que poderia sugerir. Finalmente sem uma transparência que
fazem de quase todos os associados seguidores obedientes sem ação. Se sentem
felizes com o que está aí, pois não tiveram a oportunidade de ver um escotismo
autêntico como deveria ser.
Nota-se um esquecimento
quase por completo sobre as bases que são primordiais ao escotismo de BP. Sistema
de Patrulhas, vida ao ar livre, aprender a fazer fazendo, conquistar o jovem
pelas artes mateiras, pelo acampamento e pelas ideias deles. Não vejo isto em
grande parte do escotismo nacional. A própria liderança discute o movimento
como se fossemos formados por pedagogos, psicólogos, todos portadores de
diplomas universitários. Os cursos estão voltados mais para as preocupações que
um ou outro acredita que devem constar nas unidades didáticas, esquecendo
completamente as bases do que BP implantou quando fez surgir o movimento Escoteiro.
Quase não se vê mais falar nos cursos em programas que deveriam existir, pois
sempre existiram desde Browsea. Não sei se hoje o que se estuda e aprende em
Gilwell Park também é aplicado aqui.
Há uma preocupação geral
com os voluntários, uma palavra que nunca foi usada no passado, mas como dizem
os lideres é necessário para evitar amanhã uma contenda jurídica não planejada
e que pode acontecer. Ontem uma patrulha pedia autorização aos pais e ao Chefe e
sorridente saia para acampar. Hoje não. Hoje ela sai quando muito uma ou duas
vezes por ano, acompanhada de lobos, seniores pioneiros e uma equipe enorme de
pais que lá vão dar o apoio necessário. Os lideres de sessões hoje estão satisfeitos.
Ainda não voltaram os olhos e a mente para ver se o objetivo que se propuseram era
este mesmo. Uma evasão enorme, uma falta de conhecimento das técnicas Escoteiras,
um receio enorme quando se vai acampar. A parafernália burocrática e jurídica fazem
muitos desistirem de sair para ao campo.
Eu acho que sou mesmo um
Escoteiro e não um escritor. Dei uma olhada no programa da nossa Atividade maior
do nosso escotismo brasileiro, O Congresso e a Assembleia Nacional. Quanto
palavreado difícil. Tem razão John Thurman que no alto de sua sabedoria
escreveu a mais de sessenta anos que devemos abolir a tal seriedade demasiada.
Para ele o escotismo é algo sério, contudo uma das grandes coisas é a alegria
de participar dele, tanto os dirigentes como os rapazes e moças. Completa que
em alguns países existe o perigo de se pensar em termos educacionais ou psicológicos
e com isto perdemos nossa condição de amadores. Ele diz ainda: - todos sabem
que como amadores somos bons, mas como profissionais somos péssimos. Afinal
somos uma parte complementar na vida do rapaz; complementar na escola, dos
pais, da igreja, e, mais tarde, do trabalho.
Eu escritor? Nunca. Escoteiro? Sim de coração.
Como dizia BP somos um movimento que cresce a cada dia e isto devido justamente
a sua simplicidade e ao prazer dos rapazes que tem sido contínuo. Bem BP disse
isto há muito tempo. Hoje já não mais é assim. Se John
Thurman fosse vivo veria que suas palavras se foram com o vento – “Os únicos
capazes e possíveis de pôr o escotismo a perder são os próprios chefes e
dirigentes”. Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar
por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos
arruinar o Movimento. Pois é, como Escoteiro eu sei disto, como escritor não sei
me fazer entender. Muitos quando leem o que escrevo vão para outras plagas. Não
querem pensar, nem mesmo seguir o que BP dizia que devíamos olhar além da ponta
de nosso nariz.
“Há gente que
é um gansinho no modo em que vai atrás,
Dos outros
que vão à frente: nem sabe para onde vai...
Nas pisadas
do pai ganso, vai pisando o filho atrás:
Ele nunca
fará nada que não tenha feito o pai”.