terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O profissional Escoteiro e o Projeto 2.000


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O profissional Escoteiro e o Projeto 2.000
         
                       De vez em quando ouço comentários de chefes dizendo que seria bom se todos nós na ativa fossemos profissionais escoteiros. Quem sabe uma lei federal nos colocando como professores ou educadores e o estado onde estivermos atuando se encarregaria dos nossos soldos? Putz! Um salário de professor compassaria? Escotismo uma vez por semana ou mais? Quantas horas de trabalho semanal? Acampamentos teriam horas extra e adicional noturno? Brincadeiras a parte ainda não pensei nesta hipótese. Fico com o Chefe amador. Dizem que assim somos bons e quando nos tornamos profissionais somos péssimos. Houve uma época que alguns Grupos Escoteiros no Brasil que possuíam uma boa estrutura em seus quadros criaram profissionais para assessorá-los na burocracia e também na arrecadação de fundos. Sei de muitos que deram certo tanto que a UEB na época criou o curso de Profissionais Escoteiros. Este curso ainda existe e não sei quantos já estão na ativa e que participaram de tais cursos.

                       Os países mais avançados que praticam escotismo no mundo tem seus profissionais escoteiros. Sem eles não poderiam dar continuidade aos seus programas e assessorar os grupos necessitados. Nos estados Unidos qualquer unidade escoteira pode contratar um destes profissionais para conduzi-los a um acampamento, a uma excursão em locais inóspitos e até mesmo na preparação do Líder (Chefe) nas suas atividades Escoteiras. Comentam que lá supera em 5.000 o número de profissionais escoteiros. Na Inglaterra Bear Grylls ficou famoso pelas suas apresentações em documentários na TV como se tornou um profissional Escoteiro dando uma nova conotação de marketing Escoteiro do escotismo inglês. No Brasil dizem que já temos mais de 30 profissionais atuantes na direção nacional e nas regiões Escoteiras. Sei que a UEB contratou e está contratando alguns profissionais não só para liderar o escritório nacional como para trabalhar em arrecadações e marketing Escoteiros diversos. Ainda tenho duvidas da profissionalização destes novos participantes escoteiros nesta função.

                      Ainda não sei se temos um RH, ou melhor, um Recursos humanos para exercer este papel. Afinal seria dele a função de desenvolver as áreas especificas da função: - Recrutar, avaliar, treinar, escolher e manter seus funcionários e colaboradores motivados. Já temos esta estrutura? O que sei é que muitas vezes apesar de procurarem estes profissionais através de jornais no final o amigo do amigo chefe sempre é escolhido. Não vamos ignorar o papel do profissional no desenvolvimento do escotismo. Nenhum plano seria viável se realizado por voluntários. Se desde os primórdios tivéssemos nos preocupados na formação de bons profissionais e se claro eles pudessem sugerir, trocar ideias e raciocinar por eles próprios poderíamos hoje estar situação vantajosa no Marketing Escoteiro nacional. Como somos uma associação bem diferente de uma empresa mesmo que gerida nestes princípios, ainda existem por parte de muitos voluntários escoteiros, duvidas desconfiança e até mesmo uma ponta de ciúme por um ser pago para fazer escotismo e o outro não.

                      Eu tive uma experiência diferente no passado e que hoje quem sabe seria vista com outros olhos no profissionalismo Escoteiro. Refiro-me ao Projeto 2.000, que nos foi oferecido pelo CIE (Conselho Interamericano de Escotismo – hoje se não me engano chamado de Oficina Scout Interamericana) e que despertou duvidas, criticas e claro inveja por parte de alguns que achavam que devíamos permanecer sempre como voluntários sem quaisquer ônus nas suas atividades escoteiras. Corria o inicio da década de setenta e recebi uma carta do Escoteiro Chefe através do seu profissional Escoteiro, que iriamos receber a visita de Um Profissional Escoteiro do CIE sobre o Projeto 2.000. Devíamos analisar, entender e se achássemos que pudesse dar resultados a UEB na época estaria disposta a colaborar na sua fase inicial que demandava registros e pagamentos sociais empregatícios.

                      O Profissional do CIE pessoa educada e simples foi gentil em ficar conosco vários dias explicando e dando sugestões como seria relevante para nós a implantação do projeto. Afinal não gastaríamos nada e toda a despesa com o profissional Escoteiro assim como suas necessidades burocráticas iniciais seriam pago por eles. O salário na época era razoável. Como a oferta de empregos era pequena eu sabia que haveria muitos chefes interessados. Isto me preocupou, mas eu tinha comprado à ideia de aceitar a oferta. O Projeto 2.000 tinha este nome porque em uma determinada região ele seria implantado por um prazo mínimo de dois anos. Neste interim o responsável profissional pelo projeto deveria organizar 15 Grupos Escoteiros e no final conseguir 2.000 membros atuantes. Após este período o plano incluía também que o distrital ou profissional fosse aos poucos fazendo seu próprio salário com o apoio das autoridades locais e empresariais. Era um plano bem estruturado. Um programa vasto. O profissional Escoteiro deveria ser alguém de curso superior e um líder Escoteiro.

                      Se implantado pelo menos em dez estados em dois anos elevaríamos em mais de 20.000 novos membros ao escotismo nacional. Poderia ser o embrião de uma grande expansão escoteira triplicando nosso efetivo em cinco anos (naquela época andávamos por volta de 40.000 membros). O Profissional do CIE nos deu exemplos dos resultados em alguns países sul americanos e na Europa. Enfim a descrença da Diretoria Regional e de muitos figurões escoteiros na época tive que aceitar as ponderações e recusamos o projeto. Chegamos a passar dois dias acampados só para tentar ver quem poderia ser nosso profissional. Se implantado seria uma escolha difícil. Tínhamos centenas de chefes desempregados e aceitar alguém assim sem as especificações necessárias o resultado não seria razoável. Distritais se revoltaram por não ter nenhuma ajuda financeira. Diziam que os profissionais do Projeto 2.000 se sentiriam superiores. (a velha cisma que somente os voluntários podem dirigir o escotismo). Claro, coisas de amadores.


            Até hoje não me esqueço deste projeto e fico pensando se ele não teria revolucionado o escotismo na época. Não sei se ele seria bem aceito hoje, talvez sim, pois a UEB determina, manda, realiza planos sem consultar a ninguém. Se nossa direção tem um esquema brilhante para a escolha de profissionais escoteiros desconheço. Se ainda existe o compadrio nestes casos não posso afirmar. De uma coisa eu sei. Para termos qualidade e quantidade precisamos de muitos bons profissionais escoteiros. Para mim eles são muito bem vindos.