Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
O
profissional Escoteiro e o Projeto 2.000
De vez em quando ouço
comentários de chefes dizendo que seria bom se todos nós na ativa fossemos
profissionais escoteiros. Quem sabe uma lei federal nos colocando como
professores ou educadores e o estado onde estivermos atuando se encarregaria dos
nossos soldos? Putz! Um salário de professor compassaria? Escotismo uma vez por
semana ou mais? Quantas horas de trabalho semanal? Acampamentos teriam horas extra
e adicional noturno? Brincadeiras a parte ainda não pensei nesta hipótese. Fico
com o Chefe amador. Dizem que assim somos bons e quando nos tornamos
profissionais somos péssimos. Houve uma época que alguns Grupos Escoteiros no
Brasil que possuíam uma boa estrutura em seus quadros criaram profissionais
para assessorá-los na burocracia e também na arrecadação de fundos. Sei de
muitos que deram certo tanto que a UEB na época criou o curso de Profissionais
Escoteiros. Este curso ainda existe e não sei quantos já estão na ativa e que
participaram de tais cursos.
Os países mais avançados
que praticam escotismo no mundo tem seus profissionais escoteiros. Sem eles não
poderiam dar continuidade aos seus programas e assessorar os grupos
necessitados. Nos estados Unidos qualquer unidade escoteira pode contratar um
destes profissionais para conduzi-los a um acampamento, a uma excursão em
locais inóspitos e até mesmo na preparação do Líder (Chefe) nas suas atividades
Escoteiras. Comentam que lá supera em 5.000 o número de profissionais escoteiros.
Na Inglaterra Bear Grylls ficou famoso pelas suas apresentações em
documentários na TV como se tornou um profissional Escoteiro dando uma nova
conotação de marketing Escoteiro do escotismo inglês. No Brasil dizem que já
temos mais de 30 profissionais atuantes na direção nacional e nas regiões
Escoteiras. Sei que a UEB contratou e está contratando alguns profissionais não
só para liderar o escritório nacional como para trabalhar em arrecadações e
marketing Escoteiros diversos. Ainda tenho duvidas da profissionalização destes
novos participantes escoteiros nesta função.
Ainda não sei se temos um
RH, ou melhor, um Recursos humanos para exercer este papel. Afinal seria dele a
função de desenvolver as áreas especificas da função: - Recrutar, avaliar,
treinar, escolher e manter seus funcionários e colaboradores motivados. Já
temos esta estrutura? O que sei é que muitas vezes apesar de procurarem estes
profissionais através de jornais no final o amigo do amigo chefe sempre é
escolhido. Não vamos ignorar o papel do profissional no desenvolvimento do
escotismo. Nenhum plano seria viável se realizado por voluntários. Se desde os
primórdios tivéssemos nos preocupados na formação de bons profissionais e se
claro eles pudessem sugerir, trocar ideias e raciocinar por eles próprios
poderíamos hoje estar situação vantajosa no Marketing Escoteiro nacional. Como
somos uma associação bem diferente de uma empresa mesmo que gerida nestes
princípios, ainda existem por parte de muitos voluntários escoteiros, duvidas
desconfiança e até mesmo uma ponta de ciúme por um ser pago para fazer
escotismo e o outro não.
Eu tive uma experiência
diferente no passado e que hoje quem sabe seria vista com outros olhos no
profissionalismo Escoteiro. Refiro-me ao Projeto 2.000, que nos foi oferecido
pelo CIE (Conselho Interamericano de Escotismo – hoje se não me engano chamado
de Oficina Scout Interamericana) e que despertou duvidas, criticas e claro
inveja por parte de alguns que achavam que devíamos permanecer sempre como
voluntários sem quaisquer ônus nas suas atividades escoteiras. Corria o inicio
da década de setenta e recebi uma carta do Escoteiro Chefe através do seu
profissional Escoteiro, que iriamos receber a visita de Um Profissional
Escoteiro do CIE sobre o Projeto 2.000. Devíamos analisar, entender e se
achássemos que pudesse dar resultados a UEB na época estaria disposta a
colaborar na sua fase inicial que demandava registros e pagamentos sociais
empregatícios.
O Profissional do CIE
pessoa educada e simples foi gentil em ficar conosco vários dias explicando e
dando sugestões como seria relevante para nós a implantação do projeto. Afinal
não gastaríamos nada e toda a despesa com o profissional Escoteiro assim como
suas necessidades burocráticas iniciais seriam pago por eles. O salário na
época era razoável. Como a oferta de empregos era pequena eu sabia que haveria
muitos chefes interessados. Isto me preocupou, mas eu tinha comprado à ideia de
aceitar a oferta. O Projeto 2.000 tinha este nome porque em uma determinada
região ele seria implantado por um prazo mínimo de dois anos. Neste interim o
responsável profissional pelo projeto deveria organizar 15 Grupos Escoteiros e
no final conseguir 2.000 membros atuantes. Após este período o plano incluía também
que o distrital ou profissional fosse aos poucos fazendo seu próprio salário
com o apoio das autoridades locais e empresariais. Era um plano bem estruturado.
Um programa vasto. O profissional Escoteiro deveria ser alguém de curso
superior e um líder Escoteiro.
Se implantado pelo menos em dez estados em
dois anos elevaríamos em mais de 20.000 novos membros ao escotismo nacional.
Poderia ser o embrião de uma grande expansão escoteira triplicando nosso
efetivo em cinco anos (naquela época andávamos por volta de 40.000 membros). O
Profissional do CIE nos deu exemplos dos resultados em alguns países sul
americanos e na Europa. Enfim a descrença da Diretoria Regional e de muitos
figurões escoteiros na época tive que aceitar as ponderações e recusamos o
projeto. Chegamos a passar dois dias acampados só para tentar ver quem poderia
ser nosso profissional. Se implantado seria uma escolha difícil. Tínhamos
centenas de chefes desempregados e aceitar alguém assim sem as especificações
necessárias o resultado não seria razoável. Distritais se revoltaram por não
ter nenhuma ajuda financeira. Diziam que os profissionais do Projeto 2.000 se
sentiriam superiores. (a velha cisma que somente os voluntários podem dirigir o
escotismo). Claro, coisas de amadores.
Até hoje não me esqueço deste projeto e fico pensando se ele não teria
revolucionado o escotismo na época. Não sei se ele seria bem aceito hoje, talvez
sim, pois a UEB determina, manda, realiza planos sem consultar a ninguém. Se nossa
direção tem um esquema brilhante para a escolha de profissionais escoteiros
desconheço. Se ainda existe o compadrio nestes casos não posso afirmar. De uma
coisa eu sei. Para termos qualidade e quantidade precisamos de muitos bons
profissionais escoteiros. Para mim eles são muito bem vindos.