Conversa ao pé do fogo.
Quem fala muito engole mosca viva!
Eu tinha saído
para minha caminhada matinal. Andava como sempre despretensiosamente. Nem
observei ao meu lado um carro preto com quatro homens mal encarados. Todos de óculos
escuros. Boa bisca não são pensei. O carro parou. Agarraram-me e me jogaram na
poltrona trazeira. Deram-me um “treco” ruim para cheirar. Desmaiei. – Acordei zonzo
em uma saleta com pouca luz. Não estava amarrado, mas na minha frente cinco
seguranças. – O que fiz meu Deus! Perdoe meus pecados! A luz ficou mais forte e
uma porta se abriu. Em carne e osso o Renan e o Cunha. Danou-se pensei. Agora
estou frito. – Tentei argumentar que era um Velho Escoteiro que nem tinha lugar
onde cair morto. Salário mínimo Excelência! – Precisamos de você! Falou o
Renan. – Olhei para ele assustado, de mim? Mas sou um zero a esquerda! Não
respiro direito, não tenho voz e anda claudicando precisando de uma bengala que
nem posso comprar Senhor Simpatia Presidente do Senado. Ele me olhou com aquele
Velho sorriso de deboche e cutucou o Cunha. – Não te falei? Esta escoteirada do
passado é só gogó! O Cunha fechou a cara. – Comigo não tem disso não. Ou ele
faz o que eu mandar ou o entrego para o Moro dizendo que é um dos chefões da
Petrobrás. – Deus meu! Sou inocente gritei! Pensei no Juiz Moro quem sabe ele
já foi Escoteiro e me ajuda? Comecei a rezar. – Renan gritou – Deixa de
papagaiada, preste atenção nas instruções, precisamos de um velho Escoteiro metido
a besta como você! Sabemos que na infância foi perito em ver sem ser visto!
- Mas Doutor
Renan! Isto é passado. Já fui um bom explorador, já entrei em grutas enormes,
matas fechadas, já prendi bandidos nos jogos escoteiros, pois sempre fui
mocinho. Mas hoje estou matando cachorro a grito, sou um traque, uma bombinha
que nem tiro tem! – Senhor Osvaldo disse o Cunha raivoso. Não vou lhe chamar de
Chefe Osvaldo, é muita pompa, você de Chefe é um réptil que fica na sola dos
meus pés! – Cheguei à conclusão que desta vez não ia escapar. O Renan ainda
dava para enganar, mas o tal do Cunha era osso duro. – Afinal o homem esbanjava
dólares na Suíça. - Doutor Cunha! Eu disse. Juro que não vou dizer para ninguém
que o senhor tem cara de tanajura! Vou jurar que o Senhor não é amigo do
Delcídio, que o Senhor é inocente e não sabe de nada! É coisa da oposição! Completei.
O senhor sabe que não conheço ninguém no
Supremo e minhas amizades passam longe do Cerveró. O André Esteves do Pactual
nem sabe que existo. Afinal eu devo o Bradesco o Itaú e a Caixa. Vivo numa pendura
danada! Olhe se quiser vou declamar no fogo do conselho que Dona Dilma tem uma
quedinha por vossa excelência! Olhe, conte comigo nas eleições vou votar em
Vossa Excelência para Presidente do Brasil! - Benavides! Ele gritou. Era outro
deputado puxa saco que estava ao seu lado. – Pegue este Chefe de araque e lhe
dê uns cascudos!
Comecei a
chorar. Pare Velho babão e chorão disse o Deputado que se julgava o tal. Olhei
para ele de esguelha. Afinal estava com meu uniforme caqui, aquele tradicional
lindo de morrer e meu chapelão Escoteiro. Tinha de dar exemplo, o que diriam os
da vestimenta me vendo tremer e chorar? – Benavides se aproximou e deu uma
enorme pisada no meu pé. Dei um berro de dor. Maldito puxa saco disse baixinho.
Sua alma está encomendada daqui com vida vou chamar o Zé Caixão meu amigo e Escoteiro.
Ele sabe onde “bota” um olho “bota” uma bala! Quero ver você de longe nas “prefundas
dos infernos” pisando no pé do capeta! – Calma Benevides, disse o Renan.
Precisamos dele vivo! - Vivo? Daquele jeito eu já estava morto. Gritei por
Baden-Powell pedindo socorro. Os dois começaram a rir. Benavides o malvado me
olhou e disse: - Aqui se aquele Velho babão metido a general aparecer, o
entrego de uma vez por todas ao Procurador Geral de Justiça! O Doutor Janot vai
dar um jeito nele e em você! – Cala a boca Benevides, disse o Cunha naquela
pose de líder Escoteiro participante do CAN. Você sabe que eu não gosto dele e
se passar na minha frente vai virar linha de tiro de treinamento no exército!
Renan sempre
naquela calma, naquele sorriso matreiro parecia mais um Antigo Escoteiro
daqueles que deram no pé e juraram que não voltam mais. - Cruz Credo! Pelas
barbas do Profeta! Onde foi que amarrei minha égua? – Renan sorrindo (o danado
sempre sorri) pôs a mão em meu ombro. É fácil chefão. Você entra no Palácio,
rapta a Dilma e trás ela para nós aqui! Acho que os dois ficaram malucos. Como
eu um pé rapado, sem eira nem beira, sem forças e sem respiração iria raptar Madame
Dilma, presidenta do Brasil? – Não fique com medo Escoteiro de araque, disse o
Cunha. Seja homem, parece um mariquinhas do Facebook escrevendo historinhas! Se
porte com um Badeniano, a UEB disse que vai fazer de você farinha de mandioca
para comida dos tubarões da Lapônia! Uai! Pensei, não é onde mora Papai Noel? Lá
não tem mar! A coisa tava preta! Eu pensei. Concordei quem sabe ao subir a
rampa os Dragões me metem na cadeia e eu escapo depois?
E eis que me vi
de bengala e tudo subindo a rampa do Palácio do Planalto. Espantei-me ao ver a
Presidenta vir correndo me abraçar. – Chefe Osvaldinho bonitinho, descobrimos o
plano dos Congressistas. Sabemos que foi obrigado. Vamos fingir que você me
rapta e me leva para Granja do Torto. Não serei eu que o senhor vai levar.
Minha amiga a “bunita” Graça Foster se ofereceu para ficar no meu lugar. Quer
redimir-se da barafunda que aprontou na Petrobrás! Quer ficar longe da
roubalheira! – Ri baixinho. Ela acha que acredito? – Pensei com meus botões,
não dou sorte com mulheres. As bonitas me adoram de longe e as feias ricaças
querendo me abraçar! Putz! – Sem dizer nada concordei. Vi o Mercadante batendo
palmas. – Dizia baixinho – Desta vez este chefinho de araque desaparece no ar.
Vai voar com as gaivotas que vivem no além. O tal Adams advogado geral da união
ria sem parar. A Ideli Salvati fingia que não era com ela. Ainda bem que dona
Presidenta escolheu a Graça e não ela.
Entregaram-me
Graça Foster amarrada em um tapete vermelho. Deram-me um carrinho de pedreiro
para levá-la até os congressistas. Ao descer a rampa um grito se ouviu, Aécio
Neves, Fernando Henrique, Serra e Alkmim lutavam ferozmente com o Renan, o
Cunha seus asseclas e de lambuja o Color! Joguei a Graça Foster no lago e me
mandei. Olhei para trás e centenas de dragões da Independência apontando seus
fuzis e atirando até no que não viam. Fechei os olhos e entreguei minha alma a
Deus! Acorda marido! Acorda! Para com esta gritaria. Afinal você é um homem ou
um rato? Olhei para a Célia engasgado, Mulher, é melhor ser um rato que ficar a
mercê destes congressistas. Levantei, fui respirar ar puro e disse para ela: -
Nas próximas eleições não vou votar em ninguém. Tenho 74 anos e tenho este
direito. Célia bateu palmas, conte comigo amor da minha vida! Ah! Eita mulher
nota dez!