quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Voluntários Escoteiros.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Voluntários Escoteiros.

                  Voluntário é uma palavra mágica. Só no Google encontrei 13.000 resultados. As ONGs correm atrás. Centros de jovens de todas as estirpes estão lá tentando conseguir um. Existem diversos sites mostrando entidades bem perto de você procurando um voluntário. Gostei do convite da Casa Vó Benedita. – “Sua maior doação é seu amor e afeto”. Perfeito. Lá estava também o convite das bandeirantes. Ela a FBB abre o jogo logo no início: - Ser voluntário é doar seu tempo, trabalho e talento para causas de interesse social e comunitário, e com isso, melhor a qualidade de vida da comunidade.  São centenas de milhares de órgãos de todos os tipos pedindo voluntários – Doe seu tempo e não vai se arrepender – Conheça o Sertão e ajude a salvar vidas – Quer transformar o mundo? Venha nos ajudar a fazer isto. É bonito demais o que escrevem e quem sabe a maioria trata seus voluntários com cortesia e honradez. Uma venda de ideias perfeita.

                     No tempo que fui Chefe, quando as diligências corriam do norte ao sul não existiam voluntários. Bem a palavra no bom sentido. Pois sempre fomos voluntários desde que B-P teve esta estupenda ideia criando o escotismo. Naquela época a maioria de nós aprendeu que ser Chefe é o que devíamos ser para retribuir tudo aquilo que recebemos como lobos e escoteiros. Depois alguns dirigentes começaram a escrever que ser Chefe não é profissão e assim não devíamos cobrar dos jovens quando crescessem. Cada um devia escolher o seu caminho. Acredito nisto. Os tempos foram mudando e agora já não existiam tantos a darem sua contribuição ao escotismo como antes. Afinal permanecer continuamente como lobo Escoteiro, Sênior e Pioneiro ficou no passado. Ficar mais de um ano no escotismo tornou-se algum extraordinário.

                    Foi então que apareceram os voluntários no escotismo. Acho que a partir da década de setenta. Os que vieram dos lobos, Escoteiro e seniores começaram a rarear. Ainda havia Grupos Escoteiros que podiam se dar a este luxo. Li certa vez que ser voluntário tinha muito valor no curriculum profissional. As multinacionais valorizavam muito. Sabemos todos que nos Estados Unidos isto é muito significativo. Houve uma época que diziam que para ser astronauta tinha de ter sido Escoteiro. Esta frase correu mundo. No início só eram aceitos os que tivessem recebido o “Eagle Scout” o equivalente ao Escoteiro da Pátria Brasileiro. Com a falta de chefia técnica, os cursos se multiplicaram para dar condições aos recém-chegados. A maioria dos pais esperando seus filhos no final das reuniões preferiu participar. Claro que o escotismo tem uma filosofia que encanta e sua maneira de atividades conquista muitos pretendentes.

                      Durante as décadas seguintes um bom número de voluntários já participava a pleno vapor. A cada ano aumenta o número de adultos participando. Outro dia fiz uma matemática e vi que dava um voluntario para cada cinco jovens. Ótimo isto. Sabemos que não é assim, portanto tem muitos que não atuam nas sessões com os jovens. Calculo que mais de quarenta por cento destes adultos estão em outras funções. (?). Enquanto isto a UEB contabilizou mais de cem cursos com quase 22.000 mil alunos/ano só no Brasil (número aproximado). Para quem gosta de estatística isto é um prato cheio. Mas os resultados não aparecem. Acredito que nem 8% dos Grupos brasileiros em um total de 1.250 tem uma boa estrutura administrativa. Os demais sofrem com o abandono dos lideres em suas atividades anuais sem ter a quem recorrer nas horas difíceis.

                       Nossa direção peca por não estar ao lado do voluntário. Ele não recebe uma cartinha quando chega, no seu aniversário nem um bilhete recebe parabenizando pelo dia. De vez em quando ela escreve em seu site palavras significativas, mas isto perde muito no contato mais pessoal mais humano. Uma associação que comparativamente tem um enorme potencial não sabe aproveitar. Por falta de dados concretos não sabemos quantos desistem e quantos se aproximam anualmente do escotismo. Sabemos que a evasão é fantástica. Se os motivos são conhecidos desconheço qualquer pesquisa a respeito. Em todas as associações os voluntários são os primeiros a serem elogiados, agradecidos e parabenizados. No escotismo não. Aqui para receber um agradecimento pelos anos de atividade é preciso fazer um processo, solicitar e pagar a homenagem. A UEB não vai até o voluntário, só o contrário acontece.

                         O voluntário vai aos poucos assimilando e se o Grupo Escoteiro que pertence tem a índole de uma família fraterna tudo vai bem ele continua. Caso contrário ele prefere sair, pois achou que ali não seria útil para a formação de jovens. As normas, as exigências que poderiam ser consideradas normais passam a ser um entrave, pois não ouve uma catequese e uma valorização do individuo. Nem sempre nos cursos ele é bem recebido. Alguns formadores querem mostrar seus conhecimentos e o fazem de maneira antipática. Quando dá por si vai ver que o gasto mensal nem sempre compensa. São taxas e taxas. Se o Grupo Escoteiro não tem uma estrutura boa, ele passa a pagar taxas ao grupo, seu registro anual, atividades nacionais, regionais e distritais. Conheço casos que ele paga a taxa de acampamentos e atividades e ainda cobre alguma jovem que não pode pagar. Interessante, acredito que só no escotismo o voluntário paga para ser um.

                         Logo vem a desilusão. Milhares entram e milhares saem. Com isto os jovens perdem em continuidade, pois as atividades deixam de ser atrativas. Ele o voluntário passa a pensar que o escotismo hoje para ser realizado só para os que tem boas condições financeiras. No próprio site da UEB ela convida para muitas atividades. Todas com taxas para quem organiza e uma para ela própria. Tem aqueles que se divertem e vão em todas, mas maioria sabe que nunca irão participar. Quando entra dá a impressão que tudo ali é maravilhoso, tudo parece ser um País que não o Brasil. Infelizmente não temos dados da evasão de jovens e adultos. Por falta de pesquisa e informações os motivos passam a ser conforme a experiência de cada um. Já dizia Baden-Powell que a prática do Escotismo atrai jovens de todas as classes e camadas (altas e baixas, ricos e pobres) e igualmente inclui, também, os que tenham defeito físico... Ele inspira o desejo de aprender. Para nós, entretanto isto hoje não é verdadeiro.


                         Quando acordamos para valorizar os voluntários, dar a eles a ferramenta necessária para praticar o escotismo (conforme as ideias de Baden-Powell) sem a sofisticação que apresentam hoje, então teremos o êxito e o caminho do sucesso esperado. Hoje não. A facilidade com que se arregimenta um voluntário faz dele um ser infinitamente inferior ao que se espera. Valorizar não é só escrever dando sugestões aos Grupos Escoteiros. Quando valorizarmos mais aqueles que querem colaborar, ouvindo-os democraticamente, dando valor ao seu trabalho sem demagogia então iremos atingir o esperado. Quantos mais irão sair para acordar nossos dirigentes?