Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Voluntários Escoteiros.
Voluntário é uma palavra mágica. Só no Google encontrei 13.000
resultados. As ONGs correm atrás. Centros de jovens de todas as estirpes estão
lá tentando conseguir um. Existem diversos sites mostrando entidades bem perto
de você procurando um voluntário. Gostei do convite da Casa Vó Benedita. – “Sua
maior doação é seu amor e afeto”. Perfeito. Lá estava também o convite das
bandeirantes. Ela a FBB abre o jogo logo no início: - Ser voluntário é doar seu
tempo, trabalho e talento para causas de interesse social e comunitário, e com
isso, melhor a qualidade de vida da comunidade.
São centenas de milhares de órgãos de todos os tipos pedindo voluntários
– Doe seu tempo e não vai se arrepender – Conheça o Sertão e ajude a salvar
vidas – Quer transformar o mundo? Venha nos ajudar a fazer isto. É bonito
demais o que escrevem e quem sabe a maioria trata seus voluntários com cortesia
e honradez. Uma venda de ideias perfeita.
No tempo que fui Chefe, quando as
diligências corriam do norte ao sul não existiam voluntários. Bem a palavra no
bom sentido. Pois sempre fomos voluntários desde que B-P teve esta estupenda
ideia criando o escotismo. Naquela época a maioria de nós aprendeu que ser
Chefe é o que devíamos ser para retribuir tudo aquilo que recebemos como lobos
e escoteiros. Depois alguns dirigentes começaram a escrever que ser Chefe não é
profissão e assim não devíamos cobrar dos jovens quando crescessem. Cada um
devia escolher o seu caminho. Acredito nisto. Os tempos foram mudando e agora
já não existiam tantos a darem sua contribuição ao escotismo como antes. Afinal
permanecer continuamente como lobo Escoteiro, Sênior e Pioneiro ficou no
passado. Ficar mais de um ano no escotismo tornou-se algum extraordinário.
Foi então que apareceram os voluntários no escotismo. Acho que a partir
da década de setenta. Os que vieram dos lobos, Escoteiro e seniores começaram a
rarear. Ainda havia Grupos Escoteiros que podiam se dar a este luxo. Li certa
vez que ser voluntário tinha muito valor no curriculum profissional. As multinacionais
valorizavam muito. Sabemos todos que nos Estados Unidos isto é muito
significativo. Houve uma época que diziam que para ser astronauta tinha de ter
sido Escoteiro. Esta frase correu mundo. No início só eram aceitos os que
tivessem recebido o “Eagle Scout” o equivalente ao Escoteiro da Pátria
Brasileiro. Com a falta de chefia técnica, os cursos se multiplicaram para dar
condições aos recém-chegados. A maioria dos pais esperando seus filhos no final
das reuniões preferiu participar. Claro que o escotismo tem uma filosofia que
encanta e sua maneira de atividades conquista muitos pretendentes.
Durante as décadas seguintes
um bom número de voluntários já participava a pleno vapor. A cada ano aumenta o
número de adultos participando. Outro dia fiz uma matemática e vi que dava um
voluntario para cada cinco jovens. Ótimo isto. Sabemos que não é assim,
portanto tem muitos que não atuam nas sessões com os jovens. Calculo que mais
de quarenta por cento destes adultos estão em outras funções. (?). Enquanto
isto a UEB contabilizou mais de cem cursos com quase 22.000 mil alunos/ano só
no Brasil (número aproximado). Para quem gosta de estatística isto é um prato
cheio. Mas os resultados não aparecem. Acredito que nem 8% dos Grupos
brasileiros em um total de 1.250 tem uma boa estrutura administrativa. Os
demais sofrem com o abandono dos lideres em suas atividades anuais sem ter a
quem recorrer nas horas difíceis.
Nossa direção peca por não estar
ao lado do voluntário. Ele não recebe uma cartinha quando chega, no seu
aniversário nem um bilhete recebe parabenizando pelo dia. De vez em quando ela
escreve em seu site palavras significativas, mas isto perde muito no contato
mais pessoal mais humano. Uma associação que comparativamente tem um enorme potencial
não sabe aproveitar. Por falta de dados concretos não sabemos quantos desistem
e quantos se aproximam anualmente do escotismo. Sabemos que a evasão é
fantástica. Se os motivos são conhecidos desconheço qualquer pesquisa a
respeito. Em todas as associações os voluntários são os primeiros a serem
elogiados, agradecidos e parabenizados. No escotismo não. Aqui para receber um
agradecimento pelos anos de atividade é preciso fazer um processo, solicitar e
pagar a homenagem. A UEB não vai até o voluntário, só o contrário acontece.
O voluntário vai aos
poucos assimilando e se o Grupo Escoteiro que pertence tem a índole de uma
família fraterna tudo vai bem ele continua. Caso contrário ele prefere sair,
pois achou que ali não seria útil para a formação de jovens. As normas, as
exigências que poderiam ser consideradas normais passam a ser um entrave, pois
não ouve uma catequese e uma valorização do individuo. Nem sempre nos cursos
ele é bem recebido. Alguns formadores querem mostrar seus conhecimentos e o
fazem de maneira antipática. Quando dá por si vai ver que o gasto mensal nem
sempre compensa. São taxas e taxas. Se o Grupo Escoteiro não tem uma estrutura
boa, ele passa a pagar taxas ao grupo, seu registro anual, atividades nacionais,
regionais e distritais. Conheço casos que ele paga a taxa de acampamentos e
atividades e ainda cobre alguma jovem que não pode pagar. Interessante,
acredito que só no escotismo o voluntário paga para ser um.
Logo vem a desilusão.
Milhares entram e milhares saem. Com isto os jovens perdem em continuidade,
pois as atividades deixam de ser atrativas. Ele o voluntário passa a pensar que
o escotismo hoje para ser realizado só para os que tem boas condições
financeiras. No próprio site da UEB ela convida para muitas atividades. Todas
com taxas para quem organiza e uma para ela própria. Tem aqueles que se
divertem e vão em todas, mas maioria sabe que nunca irão participar. Quando
entra dá a impressão que tudo ali é maravilhoso, tudo parece ser um País que
não o Brasil. Infelizmente não temos dados da evasão de jovens e adultos. Por
falta de pesquisa e informações os motivos passam a ser conforme a experiência de
cada um. Já dizia Baden-Powell que a prática
do Escotismo atrai jovens de todas as classes e camadas (altas e baixas, ricos
e pobres) e igualmente inclui, também, os que tenham defeito físico... Ele
inspira o desejo de aprender. Para nós, entretanto isto hoje não é verdadeiro.
Quando acordamos para
valorizar os voluntários, dar a eles a ferramenta necessária para praticar o
escotismo (conforme as ideias de Baden-Powell) sem a sofisticação que apresentam
hoje, então teremos o êxito e o caminho do sucesso esperado. Hoje não. A
facilidade com que se arregimenta um voluntário faz dele um ser infinitamente
inferior ao que se espera. Valorizar não é só escrever dando sugestões aos
Grupos Escoteiros. Quando valorizarmos mais aqueles que querem colaborar,
ouvindo-os democraticamente, dando valor ao seu trabalho sem demagogia então
iremos atingir o esperado. Quantos mais irão sair para acordar
nossos dirigentes?