Conversa
ao pé do fogo.
A
mística no Cerimonial da Promessa.
A promessa escoteira não
tem segredos. Todos que participam do Escotismo a fizeram. Cada um tem sua
lembrança do dia especial e outros mais ainda. No passado o Manual de Cerimônias
era nossa bíblia. Nos cursos, nas alcateias tropas seja onde for a Promessa
tinha sua forma de realizar. Não tenho nenhuma dúvida que a promessa é para o
jovem ou adulto uma forma de deixá-lo mais lobo, Escoteiro, ou mesmo um adulto
feliz na filosofia escoteira. Vejo que muitos que saíram do escotismo seja por
qual motivo for ainda guardam boas lembranças do dia de sua promessa. Cada um
tem uma história para contar. Hoje sem pesquisar penso que a promessa virou um
lugar comum. Sempre em um Cerimonial de Bandeira, todos os presentes e o
dirigente toma a promessa. Alguns dão a responsabilidade ao Chefe da Tropa ou Alcatéia,
outros tomam a iniciativa e fazem da promessa uma cerimonia sua e não do
promessado.
Não estou reprovando ou
desaprovando, pois sei que cada um faz conforme aprendeu. Dificilmente
alcateias ou tropas fogem do estereótipo padrão que viram fazer ou que até eles
mesmos fizeram. A liberdade criativa baseada na descoberta ou mesmo na mística praticamente
deixou de existir. Pelo menos vejo que alguns ainda mantém algumas tradições
que fazem da promessa um dia muito especial para o promessado. A promessa em si
em feita pelo Chefe da sessão. Seja ele da Alcatéia ou Tropa. Exceção para as
promessas de adultos que são feitas pelo Diretor Técnico. Digo isto em experiência
de anos vendo estudando e aprendendo diversos tipos de promessas tomadas em
nosso país. Afinal quem é a figura mais importante para o menino ou menina?
Claro que é seu Chefe. Agora o Diretor Técnico representa o grupo e, portanto
ele deve ser o responsável pela entrega do lenço. Não esquecer o monitor que
representando a patrulha entrega o distintivo de patrulha ou matilha correspondente.
Fica para o Chefe tomar a promessa e entregar o distintivo de promessa. A
entrega do certificado depende da tradição da sessão.
Muitos utilizam
depois da promessa dar o grito da patrulha do promessado ou um Grande Uivo,
pois afinal é dia de festa na Alcatéia. Não sei por que muitos Grupos
Escoteiros insistem em fazer as promessas com todos os membros do grupo
presente em um cerimonial. Para mim enfadonho demorado e muitos desligados da
cerimonia que está a se realizar. Sou mais aquele de promessar alguém somente
com sua sessão presente. Afinal aí sim todos estarão imbuídos no sentido da importância
do dia. É o dia dele, ou dela, do promessado. Merece todas as honras e
lembranças. A sessão valoriza mais. Abro
exceções para os pais apesar de que nunca os convidei para isto a não ser a
entrega de distintivos especiais. Uma boa cerimonia de promessa é aquela
simples, que marca que bate fundo em todos os presentes, que simboliza o nascer
de um novo lobo ou Escoteiro dentro dos princípios que regem o escotismo em sua
forma lírica e mística. Cerimonias demoradas, cansativas onde se esquece da importância
do jovem e o adulto sem perceber toma lidera como se ali o dia fosse seu.
Não me esqueço de
dizer que nenhuma promessa é feita sem uma boa preparação do noviço. Ela está
definida nas normas do programa Escoteiro e a participação do monitor ou do
primo é primordial. São eles que podem dizer se o jovem está pronto para ser
promessado. Ai está uma das bases de responsabilidade dos graduados. Em nenhuma
hipótese a promessa é feita sem um bom bate papo, sem uma conversa amiga, sem
ver realmente até quando o jovem está preparado para tal. Não é preciso apressar.
Vai ser um dia único e a preparação faz parte da motivação e permanência do
promessado. Eu costumava e aconselhava em cursos e visitas ou mesmo em indabas
ou seminários que não poderia haver nenhum tipo de exceção para vestir o
uniforme ou mesmo peças antes da promessa. Isto motiva por demais, o jovem ou a
jovem que sonha com o dia e quando vai portar seu uniforme ou vestimenta
escoteira.
Por outro lado
dou muito valor às promessas feitas de maneira diferente, com simbolismo e
mística criadas como uma espécie de tradição na sessão escoteira ou Alcatéia de
lobos. Conheci tropas que só faziam suas promessas em fogo de conselho. O noviço
aprendia a montar uma pequena fogueira, ascendia com um ou dois palitos de
fósforos e então a cerimonia iniciava. Sobre o manto da noite, com as estrelas
piscando no céu, um Chefe receptivo ao sorriso do interessado, com perguntas
francas e diretas e um final apoteótico tais como o uso de espadas para dar uma
conotação empírica, com bandeira nacional desfraldada por outros jovens ou caída
e desfraldada através de um cabo de uma árvore próxima. Isto marca e muito mais
quando ao final o Escoteiro é convidado a pular a fogueira com toda a Tropa saudando
o novo promessado com seu grito de guerra usual. Já vi também promessas feitas
em altos picos, em grandes florestas, já vi uma que foi feita somente por sinais
próximo a uma grande cachoeira cujo ribombar ficou marcado para sempre na
lembrança do Escoteiro.
Nunca esqueci
uma vez que fui fazer uma atividade com monitores na Gruta de Maquiné em Minas
Gerais, e no salão das Fadas fiquei emocionando ao encontrar uma Alcatéia fazendo
duas promessas de lobos. Incrível como foi realizada. Tocou-me profundamente.
Foi tão lindo que me lembrei das palavras de Guimarães Rosa que disse: - “E, mais do que tudo, a Gruta do Maquiné - tão inesperadamente grande,
com seus sete salões encobertos, diversos, seus enfeites de tantas cores e
tantos formatos de sonho, rebrilhando risos de luz – ali dentro a gente se
esquecia numa admiração esquisita, mais forte que o juízo de cada um, com mais
glória resplandecente do que uma festa, do que uma igreja.” Tive
a oportunidade de assistir a tantas cerimonias de Alcatéia muitas feitas de
maneira diferente que penso sempre comigo se aqueles lobos que orgulhosamente
fizeram suas promessas se a esqueceram ou se elas se perderem com o tempo que
para eles foi o melhor em suas vidas.
Não tenho o dom da
verdade. Só posso aconselhar com o que vi e tive a honra de um dia estar
presente em alguma promessa das centenas de tropas e alcateias que conheci. A Promessa Escoteira é o
ato mais sublime para um iniciante no escotismo. Ela marca para sempre. Este
artigo sugere e não determina. E para terminar desculpe. Não me leve a mal, mas
sou totalmente contra a promessa coletiva. Até que um ou dois vá lá. O melhor é
tomar a promessa só de um. É o dia dele ou dela. Não é para ser dividido com ninguém.
É o dia que vai ficar marcado para sempre em toda sua vida não só escoteira,
mas como de um adulto que nunca poderá esquecer que um dia ele foi privilegiado
por uma promessa. A promessa que Baden-Powell nos deu com algumas modificações
para nosso pais.