Negócio
de ocasião.
A
venda um coração Escoteiro e muito mais!
Vendo a
quem se interessar um canivete Suíço, usado por muitos anos e que serviu para
limpar peixes que pesquei nos acampamentos que fiz. Vendo uma mochila verde
musgo, que ganhei de um Capitão do Exercito lá pelos idos de 1951 em ótimo
estado de conservação. Viajou em meus costados por longas jornadas me levou a
lugares incríveis, serras e montanhas nunca imaginadas. Vendo um colchão feito
de dois sacos de estopa, vazios, só fica cheio quando colocar o capim ou folha
seca quando for acampar. Vendo uma marmita clara sem carvão, que ganhei de um
soldado e nem sei se ele teve autorização para me dar. Vai junto um garfo e uma
colher de pau que fiz quando tirei minha segunda classe lá pelos anos de 1952. A
caneca eu não tenho mais. Uso folhas de bananeira ou de taioba que me servem
sem reclamar.
Vendo um
lenço verde amarelo, quadrado, pois assim era usado e bem dobrado ainda em
perfeito estado de uso. Vendo uma faca mundial simples, com bainha em perfeito
estado e toda ela bem preservada com talco para não enferrujar. Vendo uma
machadinha de Escoteiro, perfeita, cabo de madeira cortada de uma aroeira, envernizada,
limpa, bem afiada e segue junto uma pedra de amolar que usei por muitos e
muitos e muitos anos. Vendo um sapato Vulcabrás, usado sim, mas ainda pronto
para percorrer léguas e léguas nas estradas de terra do meu Brasil. Vendo uma
bússola Silva, usada quando fiz minha jornada de Primeira Classe ainda em
perfeito estado, sem quebras ou riscos. Vendo uma bússola Prismática, que
ganhei quando Sênior da Minha Tia da capital.
Vendo um
bastão Escoteiro, duas e meia polegada de diâmetro, um metro e setenta com
ponteira de aço, com diversas marcas a fogo dos acampamentos que fiz. Tem a
marca do Cordão Verde e amarelo, o dourado e o um Correia de Mateiro que
conquistei. Tem várias especialidades não tanto como hoje, mas me orgulho da de
Sinaleiro, Construtor de Pioneirías, acampador e Socorrista. Tem uma bandeirola
que ganhei de uma atividade no Pico da Bandeira e quem me deu foi um Policial Rural
radicado na Serra do Caparaó. Vendo com uma dor no coração meu cantil francês,
que um Escoteiro do Rio ganhou em um Jamboree no Canada e me presenteou. Está
limpo, sua capa bem adornada sem manchas. Vendo cinco meiões já gastos, alguns puídos,
pois viajaram por tantos lugares e guardam ainda belas recordações. Vendo um
chapelão Escoteiro, de três bicos e garanto que ainda conservo as abas retas
sem tortura. Tive três deles, mas só posso vender um os outros valem uma vida
que nem posso contar...
Com
tristeza vendo também minhas estrelas de atividade. Algumas com cinco dez ou quinze
anos e outras somente de um ano. Estão em perfeito estado, pois meu Chefe fazia
questão delas brilharem. Vendo um livro de aventuras, onde anotei minhas noites
e noites de acampamentos, fogos de conselhos, jogos noturnos, travessias em
rios e balsas incríveis que hoje não existem mais. Vendo um sonho de menino que
se realizou como escoteiro e dele nunca esqueceu jamais. Não posso vender minha
honra escoteira. Dela não abro mão. Meu caráter seguirá comigo para a estrela
que for me receber. Ainda guardo na mente minha única palavra, minha ética
escoteira minha lealdade e meu cavalheirismo aliado à cortesia que nunca
abandonei. Fica também sem oferta meus sessenta e oito anos escoteirando e
minha fé em Deus, pois sei que ele nunca vai me abandonar.
Pensei
em vender as estrelas brilhantes no céu que levei comigo por este mundão sem
fim. Os fogos de conselho que participei as canções que cantei prá mim. Inegociável o sol sempre meu amigo que não me
pertence assim como e a lua espetada no céu. Desculpe não oferecer os milhares de
cometas que passaram por mim em velocidades incríveis sem dizer adeus. Ah! Ia
esquecendo, A coruja buraqueira minha amiga não me autorizou vender. O pardal o
bem ti vi e a rolinha que me beijou um dia também não posso dispor. Conversei
com o Lobo Guará, sempre desconfiado sorriu e me disse: - Nem pensar Vado Escoteiro,
nem pensar...
Quem quiser
comprar, me encontre em Capella, uma estrela distante onde irei morar quando
partir. Está tudo lá, pois levarei tudo comigo amarrados no cabo trançado que
aprendi com um vaqueiro e sempre bem apertado no meu cinto escoteiro que nunca
troquei. E se quiserem histórias, venham sentar comigo em minha estrela que
contarei a viva voz os dias felizes que escoteirando viajei nos meus sonhos e
os transformei em realidades mil. Preço? Quanto valem? Não sei calcular. Venha
se assente, esquente um cafezinho que está na brasa. Faça uma oferta, pois na
minha Conversa ao pé do fogo você é sempre bem vindo. Espero você lá no céu
amigo onde irei habitar.