quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Negócio de ocasião. A venda um coração Escoteiro e muito mais!


Negócio de ocasião.
A venda um coração Escoteiro e muito mais!

Vendo a quem se interessar um canivete Suíço, usado por muitos anos e que serviu para limpar peixes que pesquei nos acampamentos que fiz. Vendo uma mochila verde musgo, que ganhei de um Capitão do Exercito lá pelos idos de 1951 em ótimo estado de conservação. Viajou em meus costados por longas jornadas me levou a lugares incríveis, serras e montanhas nunca imaginadas. Vendo um colchão feito de dois sacos de estopa, vazios, só fica cheio quando colocar o capim ou folha seca quando for acampar. Vendo uma marmita clara sem carvão, que ganhei de um soldado e nem sei se ele teve autorização para me dar. Vai junto um garfo e uma colher de pau que fiz quando tirei minha segunda classe lá pelos anos de 1952. A caneca eu não tenho mais. Uso folhas de bananeira ou de taioba que me servem sem reclamar.

Vendo um lenço verde amarelo, quadrado, pois assim era usado e bem dobrado ainda em perfeito estado de uso. Vendo uma faca mundial simples, com bainha em perfeito estado e toda ela bem preservada com talco para não enferrujar. Vendo uma machadinha de Escoteiro, perfeita, cabo de madeira cortada de uma aroeira, envernizada, limpa, bem afiada e segue junto uma pedra de amolar que usei por muitos e muitos e muitos anos. Vendo um sapato Vulcabrás, usado sim, mas ainda pronto para percorrer léguas e léguas nas estradas de terra do meu Brasil. Vendo uma bússola Silva, usada quando fiz minha jornada de Primeira Classe ainda em perfeito estado, sem quebras ou riscos. Vendo uma bússola Prismática, que ganhei quando Sênior da Minha Tia da capital.

Vendo um bastão Escoteiro, duas e meia polegada de diâmetro, um metro e setenta com ponteira de aço, com diversas marcas a fogo dos acampamentos que fiz. Tem a marca do Cordão Verde e amarelo, o dourado e o um Correia de Mateiro que conquistei. Tem várias especialidades não tanto como hoje, mas me orgulho da de Sinaleiro, Construtor de Pioneirías, acampador e Socorrista. Tem uma bandeirola que ganhei de uma atividade no Pico da Bandeira e quem me deu foi um Policial Rural radicado na Serra do Caparaó. Vendo com uma dor no coração meu cantil francês, que um Escoteiro do Rio ganhou em um Jamboree no Canada e me presenteou. Está limpo, sua capa bem adornada sem manchas. Vendo cinco meiões já gastos, alguns puídos, pois viajaram por tantos lugares e guardam ainda belas recordações. Vendo um chapelão Escoteiro, de três bicos e garanto que ainda conservo as abas retas sem tortura. Tive três deles, mas só posso vender um os outros valem uma vida que nem posso contar...

Com tristeza vendo também minhas estrelas de atividade. Algumas com cinco dez ou quinze anos e outras somente de um ano. Estão em perfeito estado, pois meu Chefe fazia questão delas brilharem. Vendo um livro de aventuras, onde anotei minhas noites e noites de acampamentos, fogos de conselhos, jogos noturnos, travessias em rios e balsas incríveis que hoje não existem mais. Vendo um sonho de menino que se realizou como escoteiro e dele nunca esqueceu jamais. Não posso vender minha honra escoteira. Dela não abro mão. Meu caráter seguirá comigo para a estrela que for me receber. Ainda guardo na mente minha única palavra, minha ética escoteira minha lealdade e meu cavalheirismo aliado à cortesia que nunca abandonei. Fica também sem oferta meus sessenta e oito anos escoteirando e minha fé em Deus, pois sei que ele nunca vai me abandonar.

Pensei em vender as estrelas brilhantes no céu que levei comigo por este mundão sem fim. Os fogos de conselho que participei as canções que cantei prá mim.  Inegociável o sol sempre meu amigo que não me pertence assim como e a lua espetada no céu. Desculpe não oferecer os milhares de cometas que passaram por mim em velocidades incríveis sem dizer adeus. Ah! Ia esquecendo, A coruja buraqueira minha amiga não me autorizou vender. O pardal o bem ti vi e a rolinha que me beijou um dia também não posso dispor. Conversei com o Lobo Guará, sempre desconfiado sorriu e me disse: - Nem pensar Vado Escoteiro, nem pensar...


Quem quiser comprar, me encontre em Capella, uma estrela distante onde irei morar quando partir. Está tudo lá, pois levarei tudo comigo amarrados no cabo trançado que aprendi com um vaqueiro e sempre bem apertado no meu cinto escoteiro que nunca troquei. E se quiserem histórias, venham sentar comigo em minha estrela que contarei a viva voz os dias felizes que escoteirando viajei nos meus sonhos e os transformei em realidades mil. Preço? Quanto valem? Não sei calcular. Venha se assente, esquente um cafezinho que está na brasa. Faça uma oferta, pois na minha Conversa ao pé do fogo você é sempre bem vindo. Espero você lá no céu amigo onde irei habitar.