sábado, 9 de setembro de 2017

Entrei de gaiato sem saber por quê.


Entrei de gaiato sem saber por quê.

            Acordei cedo. Não tão cedo, acho que eram umas sete da matina. Banguelo quase não uso escova, mas pus a pasta e fingi que tinha dente. Um relâmpago de memória me lembrou de quando estava acampado na Serra do Japi, um frio de gelar fui escovar o dente e lavar o rosto nas corredeiras do Rio Castor, escorreguei e batbum! Lá fui eu de uniforme e chapelão levado pelas correntezas do rio. Hoje dou risadas, mas naquela época passei por poucas e boas. Faz parte da vida de um escoteiro com seus perigos de Tarzan depois do brejo. Quá, quá!

             Abri o portão, peguei minha bengala e toc, toc e toc e lá fui eu rumo à padaria comprar pão. Menos de seiscentos metros. Perto. Ao virar na Av. São José assustei. Uma picape Frontier da Policia Federal freou ao meu lado. Quatro parrudos de terno e óculos pretos me agarraram pelas axilas e me jogaram na parte de trás da picape. Nem deu tempo para pedir socorro e me enfiaram um saco preto e desmaiei. Não sei se de medo ou da velhice “doentástica”. Acordei gritando que precisava respirar! Fizeram com um canivete escoteiro um buraco para meu nariz de escoteiro respirar.

               Um deles gritou para mim: - Para de gritar, tu és um escoteiro ou um rato? Não era hora de valentias, melhor calar e seja o que Deus quiser. Quinze minutos depois a picape freou no estacionamento da Policia federal. Arrastaram-me e me jogaram em uma cela quadrada pequena com uma cama e um colchonete. Uma hora depois dois deles vieram me buscar. Fui parar em um escritório bem montado, luzes azuis e verdes piscando e sentada em uma poltrona uma bela mulher de seus trinta e cinco anos, de uniforme caqui, saia curtinha que dava para ver... (?). Ela se levantou. Usava o novo lenço da EB. Seria da turma do CAN?

               Ela sorriu para mim. Desculpe Célia, mas a danada era bonita demais. A camisa do uniforme estava desbotoada deixando aparecer um pouco daquilo que o escoteiro não pode ver. – Sempre Alerta Chefe Vado Escoteiro! Ela disse. Não respondi. Não é meu costume. Deu-me sempre alerta respondo logo, mas ela com seu estilo mignon, sorriso de estrela de cinema não era uma Chefe escoteira. Não era mesmo. – Moça, não a conheço, o que quer de mim? – Eu chefinho? – Já estava abusando e não gosto disto.

                - Estou tentando ajudar você queridinho! – Putz! Será que ela achava que ia me conquistar assim? – Estou aqui - ela continuou a pedido do CAN e da DEN para tentar salvá-lo das garras do Rodrigo Janot! – Moça! Deve estar enganada, sou um velho escoteiro sem eira nem beira, não saio de casa a não ser para comprar pão! – Ela riu. – Chefinho! Preveniram-me como você era. Finge de velhote, mas é um durão escoteiro! – Me deu vontade de rir. – Chefinho, melhor contar o que você combinou com o Joesley Batista e o Ricardo Saud. Toda a Policia federal, A Procuradoria Geral da República, o Supremo Tribunal Federal e até a Presidência da república já sabem de tudo!

                   Nossa! Acho que me ferrei, pois logo entrou na sala o Rodrigo Janot acompanhado do Ministro Edson Fachin. Lembrei-me dos meus tempos na Serra da Piedade quando cai em uma caverna e encontrei vários esqueletos pendurados em um vagão de cascalho que devia seguir para Ouro Preto. O medo que senti parece com o que estou sentindo agora. O Doutor Rodrigo Janot meteu o dedo no meu nariz e gritou: - Foi você! Sei que foi você quem escondeu os cinquenta e um milhões de reais do Geddel! – Putz Grila! Logo eu? – Doutor, veja no meu bolso mal consegui “dois merreis” para comprar pão!

           - Deixa disso escoteiro de araque. A turma de Curitiba já dedurou você. A gostosinha aí é agente secreta da ABI (Agencia Brasileira de Inteligência). Conhece seus truques escoteiros para montar campo e subir em árvores usando nós de evasão! – Comigo é mais embaixo! “Tretou relou o pau comeu”. Se quiser defender o Temer vá lá. Mas o Gilmar Mendes não. Eles querem acabar comigo e você não vai colaborar! Sei que você é cria da Odebrecht, sei que você é parente do “Italiano” e mancomunado com o Lulinha paz e amor!

 

                  Olhei bem para ele. Saudades do meu bastão de duas e meia polegada com ponteira de aço. Ali naquela sala vi que estava frito e pronto para o jantar da escoteirada do DEN e do CAN. – Tomou papudo! Voce fala demais agora aguenta. Porque não foi reclamar na Assembleia Nacional? Doutor! Doutor! Eu não sei de nada! Não conheço o Geddel Vieira lima, não conheço o Joesley e o Ricardo e nunca vi de perto o Renan Calheiros! Eu sou um escoteiro das antigas, só isto. Sei que escrevo muito contra a turma de Curitiba, mas fazer o que Doutor?


                   A porta abriu e o Leandro Daiello Chefe da federal entrou. – Meta este velhote no xilindró! – Assim ele vai sossegar e deixar os chefões de Curitiba em paz!  Olhei o Daiello nos olhos! Chispas de fogo começaram sair. Gritei BP bem alto e meu bastão apareceu na minha mão. Agora sim estava armado até os dentes. Comecei a dar bastonadas na turma toda. A Mulher gostosa vestida de escoteira me encarou e fez gestos de caraté! Saltei por cima dela como fazia nos meus tempos de Salte o Obstáculo, pulei pela janela até uma corda esticada, era bom de comando Crow e alguém deu um tiro!


                  Comecei a cair no espaço. Gritei por BP, gritei pelos meus amigos escoteiros e fui salvo pela Célia. Ela lá estava na cabeceira da minha cama me balançando e dizendo: - Marido acorda, volte na real. Voce é apenas um velhote escoteiro e não aguenta uma “gata pelo rabo”! – Pois é, ela tinha razão. Enfrentar a policia federal, o Janot o Geddel e a “Mata Hari” vestida de escoteira é duro na queda. Levantei, tirei o pijama que estava molhado de xixi e fui tomar um banho. É sempre assim, ainda bem que nos meus pesadelos eu sou duro na queda! E viva Baden-Powell!


Nota de rodapé: - Sábado, a escoteirada e a lobada em reunião, brincando, aprendendo jogando acampando. Bom demais. Eu um velhote escoteiro sem poder estar com eles, estou aqui encurvado nas teclas do meu computador a escrever. Escrever o que? Hoje é apenas aquele contos da carochinha que escrevo e que tem gente que não gosta. Fazer o que? E viva o Geddel, pois até agora ninguém sabe onde ele juntou todo o dinheiro. Ele agora é o novo Tio Patinhas do Brasil!