Entrei de gaiato
sem saber por quê.
Acordei cedo. Não tão cedo, acho
que eram umas sete da matina. Banguelo quase não uso escova, mas pus a pasta e
fingi que tinha dente. Um relâmpago de memória me lembrou de quando estava
acampado na Serra do Japi, um frio de gelar fui escovar o dente e lavar o rosto
nas corredeiras do Rio Castor, escorreguei e batbum! Lá fui eu de uniforme e chapelão
levado pelas correntezas do rio. Hoje dou risadas, mas naquela época passei por
poucas e boas. Faz parte da vida de um escoteiro com seus perigos de Tarzan
depois do brejo. Quá, quá!
Abri o portão, peguei minha
bengala e toc, toc e toc e lá fui eu rumo à padaria comprar pão. Menos de seiscentos
metros. Perto. Ao virar na Av. São José assustei. Uma picape Frontier da
Policia Federal freou ao meu lado. Quatro parrudos de terno e óculos pretos me
agarraram pelas axilas e me jogaram na parte de trás da picape. Nem deu tempo para
pedir socorro e me enfiaram um saco preto e desmaiei. Não sei se de medo ou da
velhice “doentástica”. Acordei gritando que precisava respirar! Fizeram com um
canivete escoteiro um buraco para meu nariz de escoteiro respirar.
Um deles gritou para mim: - Para
de gritar, tu és um escoteiro ou um rato? Não era hora de valentias, melhor
calar e seja o que Deus quiser. Quinze minutos depois a picape freou no
estacionamento da Policia federal. Arrastaram-me e me jogaram em uma cela
quadrada pequena com uma cama e um colchonete. Uma hora depois dois deles
vieram me buscar. Fui parar em um escritório bem montado, luzes azuis e verdes
piscando e sentada em uma poltrona uma bela mulher de seus trinta e cinco anos,
de uniforme caqui, saia curtinha que dava para ver... (?). Ela se levantou.
Usava o novo lenço da EB. Seria da turma do CAN?
Ela sorriu para mim. Desculpe
Célia, mas a danada era bonita demais. A camisa do uniforme estava desbotoada
deixando aparecer um pouco daquilo que o escoteiro não pode ver. – Sempre Alerta
Chefe Vado Escoteiro! Ela disse. Não respondi. Não é meu costume. Deu-me sempre
alerta respondo logo, mas ela com seu estilo mignon, sorriso de estrela de
cinema não era uma Chefe escoteira. Não era mesmo. – Moça, não a conheço, o que
quer de mim? – Eu chefinho? – Já estava abusando e não gosto disto.
- Estou tentando ajudar você queridinho! – Putz! Será que ela achava que
ia me conquistar assim? – Estou aqui - ela continuou a pedido do CAN e da DEN
para tentar salvá-lo das garras do Rodrigo Janot! – Moça! Deve estar enganada,
sou um velho escoteiro sem eira nem beira, não saio de casa a não ser para
comprar pão! – Ela riu. – Chefinho! Preveniram-me como você era. Finge de
velhote, mas é um durão escoteiro! – Me deu vontade de rir. – Chefinho, melhor
contar o que você combinou com o Joesley Batista e o Ricardo Saud. Toda a
Policia federal, A Procuradoria Geral da República, o Supremo Tribunal Federal
e até a Presidência da república já sabem de tudo!
Nossa! Acho que me ferrei,
pois logo entrou na sala o Rodrigo Janot acompanhado do Ministro Edson Fachin. Lembrei-me
dos meus tempos na Serra da Piedade quando cai em uma caverna e encontrei
vários esqueletos pendurados em um vagão de cascalho que devia seguir para Ouro
Preto. O medo que senti parece com o que estou sentindo agora. O Doutor Rodrigo
Janot meteu o dedo no meu nariz e gritou: - Foi você! Sei que foi você quem
escondeu os cinquenta e um milhões de reais do Geddel! – Putz Grila! Logo eu? –
Doutor, veja no meu bolso mal consegui “dois merreis” para comprar pão!
- Deixa disso escoteiro de araque. A turma de
Curitiba já dedurou você. A gostosinha aí é agente secreta da ABI (Agencia
Brasileira de Inteligência). Conhece seus truques escoteiros para montar campo
e subir em árvores usando nós de evasão! – Comigo é mais embaixo! “Tretou relou
o pau comeu”. Se quiser defender o Temer vá lá. Mas o Gilmar Mendes não. Eles
querem acabar comigo e você não vai colaborar! Sei que você é cria da
Odebrecht, sei que você é parente do “Italiano” e mancomunado com o Lulinha paz
e amor!
Olhei bem para ele. Saudades
do meu bastão de duas e meia polegada com ponteira de aço. Ali naquela sala vi
que estava frito e pronto para o jantar da escoteirada do DEN e do CAN. – Tomou
papudo! Voce fala demais agora aguenta. Porque não foi reclamar na Assembleia
Nacional? Doutor! Doutor! Eu não sei de nada! Não conheço o Geddel Vieira lima,
não conheço o Joesley e o Ricardo e nunca vi de perto o Renan Calheiros! Eu sou
um escoteiro das antigas, só isto. Sei que escrevo muito contra a turma de
Curitiba, mas fazer o que Doutor?
A porta abriu e o Leandro
Daiello Chefe da federal entrou. – Meta este velhote no xilindró! – Assim ele
vai sossegar e deixar os chefões de Curitiba em paz! Olhei o Daiello nos olhos! Chispas de fogo
começaram sair. Gritei BP bem alto e meu bastão apareceu na minha mão. Agora
sim estava armado até os dentes. Comecei a dar bastonadas na turma toda. A
Mulher gostosa vestida de escoteira me encarou e fez gestos de caraté! Saltei
por cima dela como fazia nos meus tempos de Salte o Obstáculo, pulei pela
janela até uma corda esticada, era bom de comando Crow e alguém deu um tiro!
Comecei a cair no espaço.
Gritei por BP, gritei pelos meus amigos escoteiros e fui salvo pela Célia. Ela
lá estava na cabeceira da minha cama me balançando e dizendo: - Marido acorda,
volte na real. Voce é apenas um velhote escoteiro e não aguenta uma “gata pelo
rabo”! – Pois é, ela tinha razão. Enfrentar a policia federal, o Janot o Geddel
e a “Mata Hari” vestida de escoteira é duro na queda. Levantei, tirei o pijama
que estava molhado de xixi e fui tomar um banho. É sempre assim, ainda bem que
nos meus pesadelos eu sou duro na queda! E viva Baden-Powell!
Nota de rodapé: - Sábado, a escoteirada e a lobada em
reunião, brincando, aprendendo jogando acampando. Bom demais. Eu um velhote
escoteiro sem poder estar com eles, estou aqui encurvado nas teclas do meu
computador a escrever. Escrever o que? Hoje é apenas aquele contos da
carochinha que escrevo e que tem gente que não gosta. Fazer o que? E viva o Geddel,
pois até agora ninguém sabe onde ele juntou todo o dinheiro. Ele agora é o novo
Tio Patinhas do Brasil!