sábado, 30 de setembro de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. “A ronda”


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“A ronda”

                O tempo passou, o sol apareceu milhares de vezes como se estivesse dormindo e acordando por centenas de anos. A lua chegou vaidosa e também se foi retornando meses depois. Estrelas? Brilhantes, milhares delas dançando nas noites sem luar. Olho de soslaio aquela Patrulha naquele Vale do Rio Corrente, sozinha, noite alta, uma pequena fogueira um escoteiro de longe parecendo astuto, mas de perto se pode ver o medo que aflora. Ele faz a sua ronda. Seu turno determinado em Conselho de Patrulha ou pelo Monitor. Sabe que ao terminar irá acordar outro escoteiro para continuar... Ele não sabe, mas este seu dia e sua primeira vez ficarão marcados para sempre.

                Muitos dos antigos escoteiros fizeram. Sei que tem algumas tropas nos dias de hoje ainda fazem. Qual seu valor? Ora, ora são tantos! Velar pelos companheiros, aprender com o silêncio da noite, treinar responsabilidade, cultivando atitudes e valores, aprender a viver com suas próprias pernas... Tem mais? Deve ter sim. Quem ainda não sonhou em participar de uma ronda? Dizem os chefes aventureiros que a Ronda é uma atividade de Vigilância desenvolvida pelos jovens, por turnos durante os acampamentos. Verdade?

                Muitos chefes fazem questão. Eles aprenderam que deve ser mantida uma vigilância no período que estiver acampando principalmente à noite. Ela serve para prevenir invasão de intrusos, de animais e até mesmo alertar para uma noite chuvosa. Alguns chamam de Ronda, outros de Vigia e alguns mais de Sentinela ou Guarda. Comentam por aí que isto não deve acontecer. Os perigos de marginais, de deixar um jovem ou dois sozinhos se responsabilizando, isto poderia ir de encontro ao ECA (Eca!) e acidentes graves podem acontecer.

                Eu tenho outra maneira de pensar. Se o local foi bem escolhido, se os perigos são reconhecidos porque não deixar o jovem realizar uma ronda? Afinal ele não sonha com isto quando vai acampar? Pais e mães fazendo isto? O escotismo é para os jovens ou para os pais? Quando os jovens irão aprender a lutar pela vida, a enfrentar seus percalços? E quando a mamãe e o papai não estiverem por perto? O que ele deve fazer? Chorar pedindo a mamãe?

                Sei que os sonhos existem. Um Chefe me disse que os jovens de hoje não tem mais esta maneira de pensar. Eles não têm mais sonhos filosóficos, aventureiros e quando falo da natureza ele responde: - Chefe, os sonhos de hoje são outros... Se isto for verdade, então o escotismo acabou! Eu penso o contrário. Se você não ensinar como conseguir a isca para pescar ele vai pescar o que? Prevenir sim, proibir não. O Escotismo Badeniano é feito ao ar livre. Fugir dele é ser outra organização que não escotismo.

                E olhe, como é bom sentar em volta de uma fogueira, ouvir seus jovens contar histórias de acampamentos e a ronda aparece em primeiro lugar. Juca Pato um Chefe do Interior me disse que levava sempre com ele para o campo uma Parabellum de seis tiros. Deixava com o escoteiro de ronda e ia dormir tranquilo. Risos. Não aconselho. Um bastão é imprescindível e um facão deste que o escoteiro saiba usar e foi treinado. As histórias de quem fez ronda surge nas rodas de uma fogueira e cada uma é melhor que a outra. É uma delicia ouvir os contos dos meninos escoteiros.

                Existem normas eu sei. Mas sonhos ninguém os vende e não fabrica. Eles não tem normas. Sei que se vender o peixe pescado por ele nunca mais vai esquecer. O sonho aventureiro, a mística do herói da floresta, os contos ouvidos e que a maioria quer fazer tenho certeza que ainda existem. Acampamentos é sinônimo de escotismo Badeniano, é sinônimo de motivação, é sinônimo de aprender fazendo. Esqueçam as palestras, as normas (no bom sentido) e dêem a eles o que eles querem e sonham.


                 É... Só de falar em rondas minha mente parte célere para o passado. São tantas aventuras vividas, são tantas rondas divertidas, são centenas de “causos” para lembrar. O medo? Ficou perdido lá atrás, na minha primeira ronda só a Patrulha, sozinho um bastão um facão e um apito. Cinco minutos depois apitei até não querer mais. Risos.

Nota de rodapé: - Hoje um amigo escoteiro comentou sobre a ronda. Lembrei-me de tantas e algumas incríveis que fiz. Porque não escrever sobre elas? São grandes aventuras que os escoteiros que fizeram nunca mais vai esquecer. Caminho para o sucesso na luta pela vida. Felizes aqueles que puderam escoteirar sem impedimentos e sem normas feitas por quem não as viveu.