terça-feira, 28 de maio de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. “O Acampamento” Por Lord Baden-Powell do seu livro A Caminho do Triunfo.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“O Acampamento”
Por Lord Baden-Powell do seu livro A Caminho do Triunfo.

Prólogo: Não existe nada que substitui o Acampamento no Programa Escoteiro. Ele é a própria razão da existência do Escotismo. Afinal a vida ao ar livre, as técnicas, a maneira de acampar, o aprendizado, a desenvoltura do corpo e da alma são as essências da formação do Escoteiro. Vejamos o que BP dizia no seu livro “A Caminho do Triunfo”.

- O acampamento é a grande atração que chama o rapaz para o Escotismo e oferece o melhor ensejo para ensiná-lo a confiar em si próprio e a desenvolver o espírito de iniciativa, além de lhe dar saúde e robustez. Um acampamento é um lugar espaçoso, mas não há nele lugar para um indivíduo só: aquele que não quer desempenhar a parte que lhe cabe-nos muitos trabalhos que sempre há para fazer. Não há lugar para o fingido nem para o resmungão. O Pata-Tenra queixa-se da «dura vida do acampamento», mas o Escoteiro que conhece as regras do jogo bem sabe que a vida em campo está longe de ser dura.

O objetivo de um acampamento é (a) ir ao encontro do desejo que o rapaz tem de gozar a vida ao ar livre dos Escoteiros, e (b) pô-lo completamente nas mãos do seu Chefe durante um período definido, para formação individual do caráter e do espírito de iniciativa, e desenvolvimento físico e moral. Todo o Escoteiro sabe que quando levanta o acampamento só há duas coisas que deve deixar atrás de si:

1. Nada;
2. Os seus agradecimentos - a Deus pelos bons momentos que viveu, e ao proprietário do terreno por tê-lo deixado fazer uso dele.

Se o acampamento for utilizado como um mero pretexto para a inação e o amolecimento, quase que mais vale não acampar. Só quando estamos acampados é que podemos verdadeiramente aprender a estudar a Natureza como deve ser, pois é ali que nos encontramos frente a frente com a Natureza em todas as horas do dia ou da noite. O acampamento ideal, para mim, é aquele em que todos andam alegres e ocupados, em que as Patrulhas se mantêm intactas em todas as circunstâncias, e todos os Monitores de Patrulha e todos os Escoteiros sentem verdadeiro orgulho no seu acampamento e nas suas construções.

Sempre que acampares ou partires em expedição, lembra-te que muito se espera dos Escoteiros. Tens de ajudar a manter o bom nome do Movimento. O acampamento, essencial para os Escoteiros, não o é para os Lobinhos, e com estes é de longe melhor nem sequer tentar acampar, a menos que se possa contar com todos os meios e se tenha a experiência necessária. Um bom acampamento pode ter efeitos benéficos e duradouros sobre os Escoteiros. Um acampamento ruim será uma vergonha permanente para o Chefe, a Tropa, e provavelmente para todo o Movimento. Mais vale educar os rapazes por métodos talvez menos atraentes e mais lentos do que de correr este risco.

O acampamento é a melhor oportunidade para estudar os escoteiros, pois em poucos dias aprendereis mais a seu respeito do que em muitos meses de reuniões normais, e podereis exercer sobre eles, no domínio do caráter, do asseio e da saúde, uma influência tal que crie neles hábitos duradouros. Na vida de acampamento aprendemos a passar sem uma porção de coisas que achamos necessárias quando vivemos em casas, e descobrimos que conseguimos fazer sozinhos muitas coisa que pensávamos não ser capazes de fazer. É difícil haver um único artigo da Lei do Escoteiro que não seja cumprido melhor, depois de teres acampado e de o teres posto em prática no acampamento.

Não deixemos que os nossos acampamentos se convertam nos piqueniques aborrecidos e indolentes que seriam se organizados ao estilo militar. O que nós queremos é a arte da exploração e da vida na natureza, e é isso que os rapazes mais desejam. Que o tenham, e em força. Enquanto os Grupos e as Patrulhas não estiverem acostumados a acampar, ainda não começaram a ser Escoteiros.

O acampamento é o jardim celestial do rapaz, e a oportunidade do Chefe. E, além disso, é Escotismo. Há um aspecto que eu gostaria de insistir junto de todos aqueles que assumem a responsabilidade de um acampamento; esse aspecto tem a ver com a minha velha divisa «vistas largas», e consiste em compreender que, por muito elevado que seja o grau de perfeição a que possa ser levado, o campismo não é o fim último do Escotismo. É apenas uma das etapas - embora a mais cheia de potencialidades - em direção ao nosso objetivo de formar cidadãos felizes, saudáveis e úteis.

Quando cheguei à arena, em Budapeste, no meio duma intensa chuvada, fui mais uma vez aclamado como «Baden Meister». (Mestre do Banho).
Expliquei então aos rapazes que tinha trazido à chuva comigo de propósito, para melhor poder julgar as suas qualidades, uma vez que esperava que eles não fossem Escoteiros só de bom tempo.

O estudo da natureza mostrará a vocês quão repleto de coisas belas e maravilhosas Deus fez o mundo para vocês aproveitarem. Alegrem-se com o que receberam e façam bom proveito disso. Olhem para o lado bom das coisas, ao invés do lado ruim delas. Contudo, a melhor maneira de obter felicidade é proporcionar felicidade a outras pessoas. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar à vez de morrerem, possam morrer felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas fizeram o melhor que puderam. Estejam preparados, desta maneira, para viverem e morrerem felizes, sempre fiéis à Promessa Escoteira, até mesmo depois que deixarem de ser jovens - e que Deus os ajude a cumpri-la. “Vosso amigo, Baden-Powell”.