domingo, 5 de maio de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Acredito que valeu a pena.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Acredito que valeu a pena.

- Abri os olhos e ainda sonso de um sonho sonhado me perguntei: - Vado, “Valeu a pena”? E ele, eterno Anjo da Guarda respondeu: - Tudo vale a pena, se a alma não é pequena... Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu!

- Domingo de sol, mais um dia para viver. Olho as nuvens passantes e penso... “O segredo da vida não é ter tudo que você quer, mas amar tudo que você tem”. E o que eu tenho? Pensando bem muita coisa. Uma família linda, uma ideia pensante, um peito arfante um escotismo no coração. Valeu a pena tudo isso? Posso dizer que sou um sortudo, tenho amigos no Rio Grande do Sul, espalhados outros tantos em tantos estados do Brasil. Benza Deus! Finquei o pé no Acre onde tenho amigos demais. Mas os braços estendidos da amizade velejaram pela America do Sul, da America do norte e saltei o oceano para abraçar amigos na Africa, na Europa na Ásia e na Oceania do além mar. Em pé eu saudação sempre dou a eles meu abraço e meu sempre alerta. Quem poderia imaginar tamanha felicidade no fim da vida?

- Vou até minha varanda, simples sem pompa e na minha cadeira preferida me ponho a pensar... A sonhar... Seria essa a vida que eu queria levar? Não tenho comparação, não tive outra. Vivi nas asas da imaginação com os pés no chão tocando meu Vulcabrás nas trilhas do meu Brasil. Tive um principio escoteiro que nunca abandonei. Hoje... Hoje tudo está mudado, às vezes me arrepio, sinto um calafrio só em pensar se no passado fosse assim. Será que iria gostar? Mas tenho direitos de censurar? É certo tentar corrigir o que os outros estão a amar? Errado só para mim e qual é a opinião do pensado? Ele dirá: Chefe, calma tu estás ultrapassado, seu tempo ficou na memória do tempo! Afinal não posso reclamar. São amigos que me aceitam como sou. Não tenho direitos de interferir só porque marchei de calça curta, chapelão e com a mão estendida dei voz de prisão na minha imaginação na Lei do Escoteiro que aprendi. Quantos Sempre Alerta, quantos Melhor Possível e Servir gritei aos ventos do meu país? Se algumas vezes cansei nunca mudei em ser o que sempre fui.

- Muitos amigos se foram, alguns para a Estrela de Baden-Powell onde em volta de uma gostosa fogueira devem contar histórias... Um dia estarei lá, contarei histórias demais... Mas será por pouco tempo, pois tenho outros rumos a tomar. E os amigos distantes? Aqueles que nunca vi? Aqueles que me acompanham que me leem que não me repreendem e não dizem se estou certo ou errado? E aqueles que se distanciaram, cansaram dos meus trejeitos, do meu jeito de metido a sabe tudo, de ser quem sabe despótico me achando superior e nada sou além de um reles escoteiro diferente de muitos melhores que eu? Vejo comentários, artigos, crônicas falando de um escotismo bem diferente do meu. Olho dentro de mim e sei que não entendo de politica. Já não faço mais normas e nem tão pouco aprendo a agradar a gregos e troianos. Sou melhor que tantos por aí? Se nem a UEB reconhece meus talentos, porque insistir no meu ponto certo em dizer que escotismo é para todos e com isto ajudei no nosso crescimento antes e do atual?

- Teria que ser disciplinado, aceitar as normas do novo, antever a redenção do escotismo moderno. Aquele escotismo fantástico com um pé na estrada do aprender fazendo, papai e mamãe sorrindo ao me ver subindo montanhas, dormindo sob as estrelas, atravessando rios e florestas coisas que não existem mais.  Adianta dizer que ainda visto meu uniforme caqui com orgulho? Ostento meu lenço de Gilwell, meu anel trançado, minhas poucas condecorações recebidas em um passado distante. Feito um velho teimoso evito me registrar nos Lords organismos escoteiros da atualidade. Por quê? Sou melhor que os outros? Já me disseram que nós não salvaremos tudo que gostaríamos, mas salvaremos muito mais do que se nunca tivéssemos tentado.

Minhas poucas barbas voltam a ficar molho. Vou morrer teimoso, não sei aceitar a modernidade. Bestamente insisto num passado que se foi numa áurea de escoteiro amante da Lei. Sei que não sou o melhor e nunca fui. Sei que não sou doutor e sim um mero aprendiz na Escola da Vida. Meus diplomas são do primário, do agradecimento do templário grão Mestre da Maçonaria que mesmo sem ser maçom me honrou com uma medalha. Se um dia errei o português e sofrendo corrigendas de correligionários escoteiros e se minhas palavras aos poucos se desfez na patronada de um Escotismo novo, me apego ao passado, nunca desisti e continuei lutando para sobreviver aos novos tempos...

- Zé das Quantas, apenas um carroceiro, belo Chefe Escoteiro que mal sabe ler lá de Brejo Seco, uma vez me disse: - Chefe Vado, todo mundo pode ser grande, porque todo mundo pode servir. Você não precisa ter diploma universitário para servir. Não precisa saber concordar sujeito com verbo para servir. Só precisa de um coração cheio de graça. De uma alma gerada pelo amor. Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal. E Chefe, nada melhor que ter um Coração Escoteiro!

Bom domingo, feliz semana e fraternos abraços, Sempre Alerta do meu Melhor Possível para Servir!