segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Aceita meu convite? Hoje vou convidar você: - Vamos acampar?


Aceita meu convite?
Hoje vou convidar você: - Vamos acampar?

               Aceita? Não se preocupe faremos um acampamento fenomenal eu e você. Vamos seguir o vento que sopra forte e viçoso nas montanhas douradas do Vale Feliz. Vamos até lá. Como é que se canta? – Mochila nas costas, bandeiras ao vento para o nosso acampamento que nunca mais vamos esquecer. Iremos acampar a moda antiga, mesmo sendo só nós dois. Não se preocupe, sei dar um jeitinho em tudo, mas não esqueça se vai para o mar prepare-te em terra. Portanto leve somente o mínimo necessário para três dias. Uma mochila que desliza gostosamente em suas costas, que não vai deixar você não mão. Coloque dentro dela pouca coisa. Só o que vai usar, pois se sujar vou lhe ensinar a lavar e passar a moda escoteira. Leve a Ração A, se faltar lá aonde vamos tem um manancial enorme de coisas deliciosas para comermos. Tem peixe no remanso do Boi Bravo, tem codornas lindas no Penhasco do Sol. Tem quatis ligeiros, tem tatus bola a dar de pau. Não tem coragem de comer? Sem problemas então vamos mudar o cardápio.

                Lá meu amigo ou minha amiga tem maxixe, aquela de caule rasteiro, tem taioba na beira do regato, afogada é gostosa demais. Têm jabuticabas, que dão o ano inteiro, goiabinhas chinesas que afogadas fazem uma sopa nos trinques. Tem mandioca, dizem que é brava, mas bem afogada e frita só de pensar me dá água na boca. Tem Lobrobô, que parece quiabo, mas não é. Vixe! Lá é um paraíso, se quiser podemos ficar lá por anos a fio. Não se encante com as amoras selvagens, são boas, mas que dor de barriga elas dão. E quando lá chegar, você vai me ajudar, Vamos armar um toldo, barraca não, pesa e a subida é de lascar. Tão fácil fazer uma cabana, o teto está lá nas folhas grandes das arvores gigantes, o Bambu não vai faltar, levar sisal? Nem pensar, cipó tem a rodo, daquele tipo minhoca ou jaracuçu. Não é este o nome? Um Engenheiro Florestal um dia me ensinou. Mas a palavra é difícil demais.

                  No primeiro dia conto com você. Vamos fazer um belo campo, com boas camas improvisadas de bambus verdes amarelos ou imperiais. Lá tem todos eles. Você vai aprender a usar o cipó na quadrada, paralela ou diagonal, vai aprender a fazer uma rede na cama toda de cipó trançado usando uma costura de arremate que aprendi com índios nativos de terras distantes. E não se esqueça da Cadeira de Balanço, da mesa circular, do fogão tropeiro, pois o de barro não vamos usar. Claro, faremos um fogo estrela, um fogo reflector se fizer frio. Hã! Esqueci-me de dizer, lá tem Fruta Pão, tem Rosa Silvestre, tem Acácia e Taboa, portanto a sobremesa está na mesa. E quando a tarde chegar vou levar você para conhecer as pedras brilhantes no fundo do Riacho da Chuva. Lindo demais, você mergulha e no fundo são tantas pedras que parecem preciosas, mas não são. No fundo elas brilham, parece um chão de estrelas e se puder prender a respiração iremos mais fundo, até a entrada da Mina Venturosa, lá sim depois que acostumar à escuridão veremos coisas sensacionais.

                 O almoço eu fiz questão de fazer. O jantar é com você. Quem sabe uma sopa de mandioca? Ou de Feijão do mato? Você escolhe. E depois do jantar, à noite chegando, os pirilampos com suas lanternas se mostrando, os vagalumes fazendo sua festa próximo a nós, uma coruja no carvalho piando e quem sabe vamos receber a visita do lobo Guará? Ela ou ele adorava uma carninha. Trouxe a linguiça que lhe falei? Ele ou ela vão adorar. E assim no escuro da lua, a mata falando que logo o Uirapuru vai cantar. Então eu e você sentamos na porta da nossa cabana, um fogo estrela aceso, e como bom Escoteiro uma história vou contar. – Era uma vez, no tempo de Baden-Powell, onde a mata avançava na trilha da estrada, cinco meninos de chapelão e lenço no pescoço iam se aventurar... Ah! Histórias fique tranquilo sei dezenas delas.

                Aos poucos se ouve ao longe o canto da Cotovia, um céu de estrelas brilha no ar. Desculpe a invasão, mas é hora da coruja buraqueira pousar no meu ombro. Ela sempre faz isto. Quer também? Sem problemas, Pegue um inseto qualquer, se achar um gafanhoto melhor. Eu não daria a ela, amo demais o gafanhoto. Mas quem sabe uma minhoca? Ofereça e lá vai ela pousar no seu ombro. Você sabe cantar? Cante! A passarada noturna adora. Já vi um bacurau e um corvo entoarem uma linda canção de ninar. Deixe o fogo sem alimentar. Deixe pequenas chamas elevarem ao céu as labaredas vermelhas, amarelas até o vento as levar no espaço sideral. Lembre-se, você fez um café quentinho. O bule ou a chaleira está nas brasas acesas, mas esqueci, quem sabe é um gaúcho e o chimarrão não vai faltar? Posso tocar minha harmônica? O que gostaria de ouvir? Céu de estrelas? A natureza em flor? O sonho do menino Escoteiro? Quem sabe fugindo da rotina posso tocar a mágica Serenata de Schubert? É linda demais, não há quem resista.

                        Viu como os dias passaram sem a gente perceber? A gente subiu naquele Jequitibá-rosa para ver o ninho do Jaburu, você usou o nó de evasão para descer naquela linda castanheira do Pará. E olhe, eu dei belas risadas na escadinha que fizemos para subir ao alto da Gameleira, que alguns chamam de figueira brava, e você riu demais. Lembra-te quando fomos até o pico do roncador para ver o sol nascer? E você cheio de bocejos não queria levantar para ver o maior espetáculo da terra que é olhar um alvorecer na mata, vendo o sol chegar, jorrando labaredas vermelhas como se fossem luzes de natal. Um espetáculo tão sublime que eu e você deixamos lágrimas molharem nossos olhos naquela manhã gloriosa. Mas tudo que é bom dura pouco. É hora de voltar. Eu e você tivemos a alegria de ver as imensas planícies do Vale Feliz. Procuramos borboletas coloridas que escondidas nas flores silvestres procuravam o mel para se alimentar. Ah! Meu amigo ou minha amiga, eu amo a natureza, eu amo viajar nos vales verdejantes. Eu amo ver o vento soprar. Ele canta suavemente e me diverte quando parte para o infinito.

                    Sei que você assustou com aquelas bravias tempestades que nos pegou de surpresa na curva da Lua Branca. Pegou você não eu. Eu vi aparecerem às nuvens baixas cor de cobre e sabia que seria um temporal que se descobre. Mas se havia vento e depois água me convenci que não iria fazer magoa. A chuva ia passar. Você molhou, brincou pulou na grama daquela clareira onde acampamos. Mas que foi bom foi. Eu me diverti a beça, matei minhas saudades e fiquei feliz estando ao seu lado. Gostoso demais beber a água da fonte, esconder do sol na sombra de uma peroba rosa, dormir sob as estrelas e ver um cometa enorme com sua cauda colorida passar. E então gostou? Vamos voltar um dia? Lembre-se você meu amigo ou minha amiga sempre serão meus convidados.


“Acampar é sentir a natureza no coração, é vibrar com o encanto do nascer e do por do sol”!