Aceita meu convite?
Hoje vou convidar você: - Vamos
acampar?
Aceita? Não se preocupe faremos
um acampamento fenomenal eu e você. Vamos seguir o vento que sopra forte e
viçoso nas montanhas douradas do Vale Feliz. Vamos até lá. Como é que se canta?
– Mochila nas costas, bandeiras ao vento para o nosso acampamento que nunca
mais vamos esquecer. Iremos acampar a moda antiga, mesmo sendo só nós dois. Não
se preocupe, sei dar um jeitinho em tudo, mas não esqueça se vai para o mar
prepare-te em terra. Portanto leve somente o mínimo necessário para três dias.
Uma mochila que desliza gostosamente em suas costas, que não vai deixar você
não mão. Coloque dentro dela pouca coisa. Só o que vai usar, pois se sujar vou
lhe ensinar a lavar e passar a moda escoteira. Leve a Ração A, se faltar lá
aonde vamos tem um manancial enorme de coisas deliciosas para comermos. Tem
peixe no remanso do Boi Bravo, tem codornas lindas no Penhasco do Sol. Tem
quatis ligeiros, tem tatus bola a dar de pau. Não tem coragem de comer? Sem
problemas então vamos mudar o cardápio.
Lá meu amigo ou minha amiga tem
maxixe, aquela de caule rasteiro, tem taioba na beira do regato, afogada é
gostosa demais. Têm jabuticabas, que dão o ano inteiro, goiabinhas chinesas que
afogadas fazem uma sopa nos trinques. Tem mandioca, dizem que é brava, mas bem
afogada e frita só de pensar me dá água na boca. Tem Lobrobô, que parece
quiabo, mas não é. Vixe! Lá é um paraíso, se quiser podemos ficar lá por anos a
fio. Não se encante com as amoras selvagens, são boas, mas que dor de barriga
elas dão. E quando lá chegar, você vai me ajudar, Vamos armar um toldo, barraca
não, pesa e a subida é de lascar. Tão fácil fazer uma cabana, o teto está lá
nas folhas grandes das arvores gigantes, o Bambu não vai faltar, levar sisal?
Nem pensar, cipó tem a rodo, daquele tipo minhoca ou jaracuçu. Não é este o
nome? Um Engenheiro Florestal um dia me ensinou. Mas a palavra é difícil
demais.
No primeiro dia conto com
você. Vamos fazer um belo campo, com boas camas improvisadas de bambus verdes
amarelos ou imperiais. Lá tem todos eles. Você vai aprender a usar o cipó na
quadrada, paralela ou diagonal, vai aprender a fazer uma rede na cama toda de
cipó trançado usando uma costura de arremate que aprendi com índios nativos de
terras distantes. E não se esqueça da Cadeira de Balanço, da mesa circular, do
fogão tropeiro, pois o de barro não vamos usar. Claro, faremos um fogo estrela,
um fogo reflector se fizer frio. Hã! Esqueci-me de dizer, lá tem Fruta Pão, tem
Rosa Silvestre, tem Acácia e Taboa, portanto a sobremesa está na mesa. E quando
a tarde chegar vou levar você para conhecer as pedras brilhantes no fundo do
Riacho da Chuva. Lindo demais, você mergulha e no fundo são tantas pedras que
parecem preciosas, mas não são. No fundo elas brilham, parece um chão de
estrelas e se puder prender a respiração iremos mais fundo, até a entrada da
Mina Venturosa, lá sim depois que acostumar à escuridão veremos coisas
sensacionais.
O almoço eu fiz questão de
fazer. O jantar é com você. Quem sabe uma sopa de mandioca? Ou de Feijão do
mato? Você escolhe. E depois do jantar, à noite chegando, os pirilampos com
suas lanternas se mostrando, os vagalumes fazendo sua festa próximo a nós, uma
coruja no carvalho piando e quem sabe vamos receber a visita do lobo Guará? Ela
ou ele adorava uma carninha. Trouxe a linguiça que lhe falei? Ele ou ela vão
adorar. E assim no escuro da lua, a mata falando que logo o Uirapuru vai
cantar. Então eu e você sentamos na porta da nossa cabana, um fogo estrela
aceso, e como bom Escoteiro uma história vou contar. – Era uma vez, no tempo de
Baden-Powell, onde a mata avançava na trilha da estrada, cinco meninos de
chapelão e lenço no pescoço iam se aventurar... Ah! Histórias fique tranquilo
sei dezenas delas.
Aos poucos se ouve ao longe o
canto da Cotovia, um céu de estrelas brilha no ar. Desculpe a invasão, mas é
hora da coruja buraqueira pousar no meu ombro. Ela sempre faz isto. Quer
também? Sem problemas, Pegue um inseto qualquer, se achar um gafanhoto melhor.
Eu não daria a ela, amo demais o gafanhoto. Mas quem sabe uma minhoca? Ofereça
e lá vai ela pousar no seu ombro. Você sabe cantar? Cante! A passarada noturna
adora. Já vi um bacurau e um corvo entoarem uma linda canção de ninar. Deixe o
fogo sem alimentar. Deixe pequenas chamas elevarem ao céu as labaredas
vermelhas, amarelas até o vento as levar no espaço sideral. Lembre-se, você fez
um café quentinho. O bule ou a chaleira está nas brasas acesas, mas esqueci,
quem sabe é um gaúcho e o chimarrão não vai faltar? Posso tocar minha
harmônica? O que gostaria de ouvir? Céu de estrelas? A natureza em flor? O
sonho do menino Escoteiro? Quem sabe fugindo da rotina posso tocar a mágica
Serenata de Schubert? É linda demais, não há quem resista.
Viu como os dias
passaram sem a gente perceber? A gente subiu naquele Jequitibá-rosa para ver o
ninho do Jaburu, você usou o nó de evasão para descer naquela linda castanheira
do Pará. E olhe, eu dei belas risadas na escadinha que fizemos para subir ao
alto da Gameleira, que alguns chamam de figueira brava, e você riu demais.
Lembra-te quando fomos até o pico do roncador para ver o sol nascer? E você
cheio de bocejos não queria levantar para ver o maior espetáculo da terra que é
olhar um alvorecer na mata, vendo o sol chegar, jorrando labaredas vermelhas
como se fossem luzes de natal. Um espetáculo tão sublime que eu e você deixamos
lágrimas molharem nossos olhos naquela manhã gloriosa. Mas tudo que é bom dura
pouco. É hora de voltar. Eu e você tivemos a alegria de ver as imensas
planícies do Vale Feliz. Procuramos borboletas coloridas que escondidas nas
flores silvestres procuravam o mel para se alimentar. Ah! Meu amigo ou minha
amiga, eu amo a natureza, eu amo viajar nos vales verdejantes. Eu amo ver o
vento soprar. Ele canta suavemente e me diverte quando parte para o infinito.
Sei que você assustou com
aquelas bravias tempestades que nos pegou de surpresa na curva da Lua Branca.
Pegou você não eu. Eu vi aparecerem às nuvens baixas cor de cobre e sabia que seria
um temporal que se descobre. Mas se havia vento e depois água me convenci que
não iria fazer magoa. A chuva ia passar. Você molhou, brincou pulou na grama
daquela clareira onde acampamos. Mas que foi bom foi. Eu me diverti a beça,
matei minhas saudades e fiquei feliz estando ao seu lado. Gostoso demais beber
a água da fonte, esconder do sol na sombra de uma peroba rosa, dormir sob as
estrelas e ver um cometa enorme com sua cauda colorida passar. E então gostou?
Vamos voltar um dia? Lembre-se você meu amigo ou minha amiga sempre serão meus
convidados.
“Acampar
é sentir a natureza no coração, é vibrar com o encanto do nascer e do por do
sol”!