A
rebelião dos escoteiros.
- Marido tem dois homens querendo
falar com você! - Cobrança Célia? - Não estão com aquela roupa preta que estão
usando no escotismo, aquela boa para espantar fantasmas em noites de frio em
acampamentos. Olhei pela janela. Dois supimpas escotistas da UEB. Reconheci
logo. Empertigados, pose de doutores e chefões escoteiros. Diga que irei em um
minuto. Hora de lembrar-me do meu tempo contado para vestir o uniforme. Calça
curta, cinto, camisa, meião chapéu e lenço. Ah esqueci minha botinha preta engraxada.
Kkkkkk. Com meu caqui nos trinques fui até a varanda onde estavam. Nos cascos
dei meu sempre alerta! Nem ligaram. Nem me estenderam a mão. – Chefe, somos da
UEB, membros do BEN. Uai, não era DEN? Mudou Chefe o novo Presidente resolveu
mudar. Afinal somos mutantes e mudamos tudo a nossa frente. Dom Pascácio o
Presidente mandou avisar para não se intrometer na rebelião dos escoteiros!
- Rebelião? Onde? Quero
participar! Olharam-me sério. Não sabe que os escoteiros estão ocupando as
sedes e não deixando os chefes entrarem? Umm! Essa era boa. Eu sabia dos
estudantes, eles não queriam estudar e inventaram de plantar batatas nas salas
de aula. Ainda reivindicavam comida de primeira. Afinal isto dava dividendos, a
imprensa ali, eles aparecendo na TV e a professorada que mesmo sem dar aula
recebia seu quase rico dinheirinho aplaudindo. Mas porque invadiram as sedes? Perguntei.
– Não é da sua conta. Não se intrometa! Putz, diretores e presidentes assim?
Quantos Cunha e Dilma tinham lá na UEB? – Pedi para a Célia pegar meu bastão da
Lobo. Quase duas e meia polegada de diâmetro, ponteira de aço. Eles se foram.
Minha rua começou a se encher de chefes. Um deles conhecido escoteiro do ar bom
de prosa, outro soldado da nação lá das longínquas Guarulhos, um fiel escudeiro
da prefeitura de Céu Azul, outro da aristocracia Italiana todos conhecidos me
saudaram. Chefe a coisa está preta! Preta? Preta é esta vestimenta, Ops. Sem
ofensa!
Convidei-os para
entrar. Uma enorme multidão de chefes cantava baixinho Deus Salve a América! –
Cheguei no portão e gritei alto: - Good Morning, Vietnam! A rua veio abaixo.
Palmas, Anrê e bravôo de montão. – E então, porque eles ocuparam as sedes? –
Cansaram Chefe. Cansaram de ficar pendurados no bastão vendo seu Chefe falar.
Cansaram de tantos jogos repetidos. Cansaram das aulas de nós, de sinais e de
tantas outras coisas. Não querem mais ser monitores, eles nada fazem a não ser ouvir
os gritos dos chefes. Cansaram de ouvir celulares tocando, cansaram de ver
chefes de uniformes diferentes, cansaram dos óculos Ray ban dos chefes,
cansaram dos chapéus e coberturas esquisitas. Cansaram de ver tantos só de
lenço dizendo que são escoteiros! – Caramba! O caldo engrossava. - Mas o que
eles querem? Chefe querem acampamentos, excursões, aventuras mil, querem
bivaques, jornadas noturnas, querem subir em árvores, querem construir Ninhos
de Água, pontes, querem fazer um comando Crow feito por eles mesmos em cima de
um rio ou um despenhadeiro! Abominam as exigências, as burocracias. Querem
liberdade para aprender fazendo!
Mas eles não tem isto
em muitos grupos? Afinal sempre me dizem que existem atividades assim nas
tropas do Brasil. – Chefe, eles estão revoltados. Os que saíram do escotismo
querem voltar, mas para participar do escotismo de raiz, o tradicional, querem
tocar e sentir a natureza. Querem ouvir os ruídos da noite. Querem se divertir
em volta de um fogo. Querem tempo livre nos acampamentos, querem sugerir e da
pitacos. Chega desta moleza para especialidades e outras provas que não tá com
nada. – Pensei em Abraham Lincoln: - Pode-se enganar a todos por algum tempo;
pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo
tempo! A chefaiada lá fora na rua da minha morada gritava: - Abaixo os escoteiros
amotinados! Viva a UEB! Viva os presidentes nacionais e regionais. – Poxa! O que
era isto? Eis que aparece um batalhão de Caqueanos. Chapéus de abas largas, atrás
milhares de escoteiros do Brasil.
Pararam na minha
porta. Gritos ressonaram e um carro de som da CUT começou a tocar e a berrar: -
Chefe Osvaldo, Chefe Osvaldo! Escoteiro Chefe do Brasil! – O que? Eu? Tá loco?
(como diz meu papagaio). Necas! Velho sem dente, sem ar, sem poder andar e
falar. Escoteiro Chefe? Centenas e milhares de monitores ali com cópias de atas
das Corte de Honra. Todas elas com meu nome aprovando meu novo mandato na UEB. –
Um deles menino escoteiro dos bons gritou: - Chefe, precisamos de um amigo, de um
irmão e não de um capitão. Precisamos de alguém que nos ouça, que converse que
não nos tente convencer que o mundo mudou. Somos meninos, sonhadores, queremos
ser heróis exploradores. Precisamos de chefes que nos entenda que saiba ouvir e
não determinar. Nossa! Não estava acreditando. Um tiro de canhão ressonou no
ar. A UEB conseguiu um canhão emprestado da Marinha. Uma corveta estava ancorada
perto da minha casa do rio Tietê.
Comecei a tremer.
Parecia o Velho novo Escoteiro na sua briga de galo, quando enfrentou uma Jaguatirica
no Pântano dos Demônios, nos desafios de quebra coco, na luta do Scalp até a
morte. Preparei-me para a briga. Arregacei as mangas, prendi o chapéu com o
cabo de couro. Dei um murro no ar. Acertei a parede do quarto onde dormia. Gritei
de dor. Celia correndo dizendo: - Marido! O que houve? De novo? Quando vai
terminar seus pesadelos? Que o diga Sergio Machado que está pondo o Brasil para
quebrar com gravações que abalam a nação. Mas pensei comigo: - Seria bom se a
escoteirada se erguesse. Fui até a sala fiz um curativo e voltei a dormir,
sonhando com anjos e querubins tocando arpas no céu. Ops! Desta vez não vi B.P!