terça-feira, 21 de junho de 2016

O custo para ser chefe vale à pena?


Conversa ao pé do fogo.
O custo para ser chefe vale à pena?

         Não é um tema interessante? Não sei. Pode ser que sim para alguns e não para outros. Mas eu lhe pergunto quanto você gasta para ser Chefe Escoteiro? Ou uma Chefe Escoteira? Muito pouco? Razoável? Além do que pode gastar? Os amigos devem estar estranhando porque entrei nesse tema. Por quê? Olhem, tenho tentado defender por todos os meios o que os dirigentes de Regiões, distritos ou a própria UEB fazem. Contam-me cada uma. Não vou repetir aqui todas aqui, mas as principais se referem à tecnocracia de alguns dirigentes, ou mesmo a “arrogância de outros” “ou o profissionalismo de muitos” pensando que os gastos são absorvidos com facilidade pelos chefes escoteiros. Acho que somos os únicos voluntários que gastam do seu próprio bolso para ajudar e colaborar com os filhos dos outros. Outros? Bem tem muitos que dizem que vale a pena.

         Verdade. Para alguns pode não ser muito. Para outros, que no fim do mês olham as contas de água, luz, telefone, gás, internet, prestação A, B e C, colégio ou material didático dos filhos ficam deveras assustados. E o salário? Sumindo! Alguns perderam o emprego e agora José? E mesmo assim vem aquele curso, aquele Jamboree, o acampamento, aquela atividade linda programada pelo Distrito. Soube e não sei se é verdade que jovens em um grupo que os pais perderam o emprego e não podem pagar a mensalidade foram dispensados. Como fazer? - Grupos Escoteiros devem estar estruturados para isso. São eles que arcam com essas despesas, dizem os impolutos chefes de grupos bem estruturados. Verdade mesmo? Vocês acreditam nisso? Eu não. Pode ser que uns privilegiados o façam, mas a grande maioria não.

         Se a esposa, ou a família não participa, sempre existe aquele ressentimento. Você devia pagar isso, comprar aquilo e não ficar gastando com o escotismo. Mas o menino não tinha condições! Tinha de ajudá-lo. E o curso? Precisava fazer. E assim vai. - Família! Eu acho que eu vou ao Jamboree. São apenas uns três mil reais e olhe cobrirá boa parte quem sabe pago menos, pois vou me oferecer para ser Staff! Se calcularem bem não é caro. Ele esqueceu-se das despesas de transporte, alimentação ida e volta e tantas outras. E o curso? A diária é mínima. Já me disseram que é menor do que uma diária de um hotel quatro estrelas! Afinal preciso “tirar” minha Insígnia da Madeira. Será que ele não está enganando a si próprio? Já calculou quando vai gastar logo no inicio do ano, onde tantas contas para pagar estão sobre a mesa e mesmo assim acha que dá para fazer o tal curso ou ir naquela atividade escoteira?

            Finalmente ele chega lá, e vê tantos figurões, gente linda, bem uniformizada, (?) de lenço da Insígnia, batendo no peito, sorridente bom emprego, agora chefão e o coitado do novo Chefe diz para si próprio – Agora sim, vou aprender tudo! Desculpem a brincadeira. Sem ofensas aos bravos membros formadores da UEB. Bravos sim. Sei do trabalho insano que fazem para ajudar o Escotismo Brasileiro. Conheço vários que se sacrificam muito para ajudar em um curso por ano, com duas ou três palestras. Um trabalhão. Posso falar de cátedra, fui um deles no passado. Sofri como eles. E claro, gastei do meu bolso como eles! Recompensa? Ver o sorriso, o abraço de alunos se confraternizando e dizendo que não é mais que um até logo, anotações de telefone e endereço e ao ir para casa dizer: Escreva-me! Adorei conhecer você! Ele vai para casa pensando: - “Foi um lindo curso”. Dou risadas é na avaliação final. Poucos discordam. Só elogios. Entendo, ainda não receberam o certificado de aprovação. Vá discordar por quê? Risos. 

          Sem criticas. Sou “danado” para criticar. Risos. Não estou lá agora. Nem sei como é. Mas sei como era. Lutava para baratear a taxa. Brigava mesmo por isso. Aqui em Sampa havia um executivo profissional na região. Ele andava. Visitava supermercados. De uniforme, ganhava muita coisa do cardápio. Eu mesmo convidava pais ou outros chefes para ajudar na cozinha quando cursos onde não se usavam barracas. O pau de toda obra era a Patrulha de Serviço. Jovens de grupos que nos ajudavam. Grandes jovens. Devíamos muito a eles na época. A região não nadava em dinheiro, mas sempre dava um jeitinho para ajudar. (agora sei que algumas têm um caixa supimpa) Eu mesmo fiz curso sem pagar nada. Fazíamos um escotismo sem pretensão de sobrar valores da taxa para a região. (e com uma prestação de contas perfeita). E hoje, ainda é assim?

          Estão rindo? Outra época? Deve ser. Hoje os profissionais substituíram os amadores do passado. Acho que eu era um amador. Podem dizer assim, eu gostava mesmo de ser um amador. De conseguir auxilio em todos os lugares para ajudar aos jovens a participar de atividades regionais, ou mesmo distritais. Foram diversas. Uma taxa “pequenina, infinitamente pequena”. Com orgulho lá estavam patrulhas de toda a região ou do distrito. Muitos que abandonam o escotismo sempre reclamam do alto custo. Todos já disseram e eu repito, quando Baden Powell fundou o escotismo, era para os jovens humildes e pobres. Hoje ele virou elitista, só se pensa “naquilo”! (lucro).

           Perguntem aos chefes escoteiros do Brasil. Perguntem aos que se foram. Principalmente a muitos Insígnias da Madeira que não mais estão na ativa.  Não perguntem a mim. São eles que comentam sempre. Das dificuldades de um Escotista hoje ser um participante ativo em todas as atividades nacionais, regionais e distritais. (sem considerar a de grupo). Claro que muitos vão dizer – Eu amo o escotismo, trabalho por ele e acredito que posso ajudar. Portanto não reclamo em gastar! Certo. Cada um faz o que gosta e eu aceito. Tremo todo quando vejo lá o valor da tal taxa. Convidam-me para muitas comemorações, atividades, mas a danada da taxa está lá. Ufa! Haja tostões para pagar em todos os convites. 

             Ei! Será que não dá para diminuir um pouco estas taxas? Não? Vocês as acham pequenas? Um aqui do meu estado disse que são menores que diárias de hotéis. Risos. Hotéis? Só para quem não conhece como é. Acampamento, barracas, cozinha de barro e lona, fraternidade em patrulha, todos ajudando e a comida saindo. Bom demais... Quanto foi? Não importa, dizem que isto é passado, hoje não tem almoço grátis. Isto eu sei, mas perguntem ao Escoteirinho de Brejo Seco e o seu Chefe o Zé das Quantas. Quanto podem gastar. – Chefe, sou carroceiro, ganho pouco, mas sou honesto e trabalhador. Tenho honra e caráter. Procuro ser amigo dos meus escoteiros e ajudar em tudo que posso, mas não dá para pagar para eles! Parodiando minha Avó, “quem pode, pode, quem não pode se sacode”! Enquanto isto encha os bolsos se quiser ser um voluntário e colaborar para a formação de nossa juventude Escoteira.


Eu não sou pobre, apenas um rico em dificuldade...