segunda-feira, 13 de junho de 2016

O Grande Acampamento no céu.


Crônicas escoteiras.
O Grande Acampamento no céu.

                 Abri os olhos devagar. Parecia que estava dormindo há muito tempo e o que via não era conhecido mesmo nas minhas andanças na Terra. Avistei uma floresta, mas cujo verde estava desbotado. Lembrei-me de algum na terra, mas não sabia o que era. A SSE um grande numero de barracas, muitas mal armadas e algumas caídas no chão. Barracas eram bom sinal e me aproximei. Sorri contente, pois vi que era um acampamento Escoteiro. Gigantesco. Chefes ali aqui e lá. Quantos chefes nem dava para contar. Poucos me deram sempre alerta. Pareciam estar preocupados com outras coisas. Um zum zum no ar me chamou atenção. Alguém disse que iria ter a abertura oficial da Assembleia dos Escoteiros do Além. Ops! Que isto? Estava morto? Belisquei-me e não senti nada. Era mesmo um defunto vagando e fui parar ali. Havia placas, havia hot door espalhados por toda área do acampamento em muitos idiomas sinal que era um acampamento internacional. Vi faixas da BSA Boy Scouts of America, da CES Confederação Europeia de Escotismo, AEBP Associação des Ecalireurs B-P do Canada, da AGESCI Associazione Guides e Scouts Cattolici Italiano, ASDE Federação de Asociaciones de Scout de Espanha, da OWS Ordem of World Scout e outras centenas delas.

                     Estava espantado. Seria que tinha chegado ao tal Grande Acampamento do céu? Um Chefe do Sudão parou em minha frente e com aquela fleuma inglesa sapecou no seu inglês aristocrático perfeito (eu falava todos os idiomas) – Senhor Chefe Osvaldo, o Mestre Baden-Powell quer vê-lo imediatamente. Nossa! Era ele! Atendi prontamente. Mesmo com as pernas atrofiadas saí correndo. B-P me chamou tá chamado! Era meu mestre e atender correndo seria um ato disciplinar. Sua barraca era uma das poucas bem armadas, de um verde limão lindo de morrer (Ops eu já estava morto!). Entrei ele veio me abraçar. Não sem antes juntar os cascos, na melhor apresentação de um General Inglês e sapecar um delicioso Be Prepared! – Sorrindo completou – Você sabia que na Inglaterra escolheram esta saudação só porque as duas primeiras letras era B_P e gargalhou a moda de oficiais britânicos.

                      Sente aqui Chefe. Sentei em um banco feito da melhor peroba rosa que já vi, bem feito, cipós descascados, amarras no ponto e a mesa um lindo tampão com uma costura de arremate incrível. Precisava aprender. Mas ele me interrompeu – Chefe eu acho melhor o senhor colocar sua mochila e partir. Aqui não é seu lugar. Assustei. Já tinha comentado antes com amigos escoteiros na terra que não iria ficar ali, se passasse pelo acampamento era para dar um abraço e um sempre alerta aos meus amigos que já se foram. Iria ver meu mestre dizer quanto o admiro e lhe dar um abraço apertado do tipo dos Zulus quando se encontravam. Afinal era meu mestre Mundial. – Porque partir Mestre? - Se ficar vai se aborrecer. Os bons partem logo e os snobes, arrogantes e fúteis acham que ainda estão na terra atuando para serem os lideres sem ouvir os demais interessados. Veja você, tem gente da Inglaterra, da França, da Itália dos Estados Unidos e porque não do Brasil lutando para serem o Escoteiro Chefe do Espaço Sideral.

                     Nossa! Aqui também? – E sabe Chefe disse B-P a turma do Brasil tem anos que está preparando um tal de Regimento Interno, onde os eleitos se perpetuam no poder, onde só eles podem determinar sem consultar, sem ver os interesses e onde ninguém pode escolher seu líder. – Pensei que nunca poderia imaginar tal coisa. – Continuou B-P eu não moro aqui. Estou numa galáxia muito distante. Venho aqui vez ou outra vez se salvo alguma alma escoteira de boa vontade e espírito Escoteiro. Olhe lá na Galáxia de Andrômeda, tem um planeta que eu chamo de Xangri-lá, onde todos são felizes. É lá Chefe que os meninos escoteiros e chefes puros do coração quando vem para o céu vão morar. É lá que é o verdadeiro Grande Acampamento eterno. Veja eles com seus chapelões, seus lenços brilhantes, observe seus sonhos, sua imagem de anjo do céu. São valorosos escoteiros e seus chefes com coração sublime lá estão também.

                      Fiquei sério. Olhei B-P e disse – Vou seguir seu conselho. Vou partir para Andrômeda. Acho que lá me sentirei bem fazendo um escotismo simples, de amor, de paz e respeito entre os homens. Acho que lá encontrarei a verdadeira fraternidade escoteira e meus amigos que vieram na minha frente. Já ia sair quando na porta quatro chefões brasileiros me deram voz de prisão. – Por quê? Não interessa disseram. Vais direto para a Comissão de Ética da Ordem Capetória mundial. – O que eu fiz? Eles riram e enquanto riam uma fumaça negra saia de suas narinas. Vestimentados, cada um de uma cor, mas desbotados, de sandálias ainda tinha dois deles só com um lenço vermelho pegando fogo no pescoço um pelado e outro de short. – Você se acha o tal, se acha que pode criticar a turminha da liderança brasileira, acha que pode resolver o problema Escoteiro no Brasil. O Grande Conselho discutiu e lhe condenou morar para sempre no Acampamento do Inferno! Mama mia! Desta vez entrei pelo cano.

                      - Olhei para B-P e ele tinha sumido. Ele me avisou. As forças do mal eram maior que ele. Eu sabia disto. Na terra muitos se achavam mais que ele. Criticavam, procuravam seus defeitos, diziam que o tempo do bom velhinho já passou. Os tais doutores pedagogos agora se achavam acima do Grande Lider, aquele que foi aclamado por milhões de escoteiros como o Escoteiro Chefe Mundial. Tentei correr, levei uma bastonada na cabeça. Não tinha como reagir, estava sem meu bastão de ponteira de aço, sem meu cabo que se transformava em um chicote mortal. Desarmado me fizeram como uma armação de bigas, como se fosse um grande jogo para eles. Fui arrastado e sem ninguém para ajudar. B-P tinha me prevenido. Agora via que ali a subserviência, o medo da admoestação das ameaças não eram simples palavras. Todos tinham um medo enorme. Sem perceber me Lembrei da terra.


                          Gritava a mais não poder. Mesmo Velho rouco e sem voz tentei abençoá-los, pois sempre me diziam que devemos abraçar nossos amigos e inimigos, tentei cantar uma canção escoteira, daquela que quando nas dificuldades eu cantava em meus acampamentos e nas minhas jornadas: - ♫♫ Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri! O que importa é vencer o mal por isto mantem sua alegria! – Não adiantou. Arrastavam-me como se eu fosse uma bola em um jogo de críquete. Eu berrava, gritava gemia e pedia a Deus para me salvar. Alguém me beliscava, dizia que me amava para que eu parasse de gritar. Acordei! Era minha querida Célia a me abraçar. Chorava, ela perguntou o que tinha sonhado. Nem pensar Célia, nem pensar. Neste grande acampamento no céu nunca mais... Nunca mais...