Hoje tem reunião, alegria de montão.
Se precisar... Chamem os Escoteiros!
Hoje tem reunião, alegria de montão.
Lembrei-me desta história que um dia contei ao chegar a um grupo escoteiro – Alguns
Chefes riram e disseram: Isto nunca vai acontecer. Acho que o senhor está
criando uma história que não é real. Bem real ou não aconteceu. E como as
histórias das mil e uma noites que servem para nos mostrar um novo caminho para
o sucesso. Conto a história como se ela tivesse existido, afinal não é bom
sonhar? Claro com os pés no chão. Aqui nas minhas parcas letras eu faço dos
meus sonhos a minha realidade. É bom demais contar e ver que a realidade
pode sim transformar o impossível no autêntico. Vamos logo aos entretantos e aos
finalmente. Em 1976 viajava para Santana dos Verdes Mares para encontrar um
Velho amigo. Na BR-245 no quilômetro 567 uma luz vermelha acendeu no painel.
Fiquei preocupado e logo na frente uma placa indicava que eu estava próximo à
cidade de Sonhos Dourados. No trevo tomei o rumo da cidade. Precisava encontrar
um eletricista e voltar a minha viagem para Santana dos Verdes Mares.
Fiquei maravilhado com o pórtico na entrada da cidade. Estava escrito – Sonhos
Dourados – 35.000 habitantes onde a felicidade existe. Não esqueçam, precisando
chamem os Escoteiros! Caramba! O que é isto? Precisava saber tudo sobre os
escoteiros da cidade. Afinal sou metido a escritor e uma cidade assim não pode
ficar oculta. Vi uma placa onde dizia: Hotel Baden Powell. Parei. Uma moça
sorridente me recebeu na recepção. Na lapela uma linda flor de lis. – Pois não
Senhor? – Moça, um quarto só para hoje. Não era para pernoitar, o plano era
consertar o carro e partir, mas senti um aroma Escoteiro no ar. Após os
transmites legais perguntei a ela onde encontraria um eletricista – No final da
Rua Senhor. Procure o Chefe Robin, ele conhece e bem. Ele é Escoteiro? Sim
senhor ela respondeu. Ele me recebeu efusivamente. Não me apresentei como
Escoteiro, mas o danado trabalhava no meu carro e perguntava. – Conhece o
Movimento Escoteiro? Dizer o que? Afinal não juramos dizer sempre a verdade?
Apresentei-me e ele me cumprimentou com a esquerda, fez uma saudação e falou
alto – Seja bem vindo Chefe a nossa cidade!
O carro ficou pronto e ele não me deixou ir embora. Pegou o telefone e ligou
para vários chefes. Chefe5 todos querem conhecê-lo. Vamos para o Restaurante do
Chefe Joel. Já lanchou? Não me deixou falar mais nada. Pegou sua C-10 e lá
fomos nós. Parece brincadeira, mas é verdade. Contei por alto uns 45 adultos e
todos uniformizados. E olhe não parava de chegar outros. Uma festa. Abraços,
saudações, e até beijinhos da turma feminina. Uma grande mesa em forma de “U”
foi montada. Aos poucos me contavam sobre a cidade e os Escoteiros. Eram seis associações
escoteiras, uma da UEB, uma da FET, uma AEPB, uma dos Escoteiros Florestais,
uma dos Tradicionais e os Desbravadores. – Olhe Chefe, aqui tem também uma
Companhia Bandeirante e somos bons amigos. Hoje não encontrei nenhuma delas,
mas antes de partir o senhor vai conhecer sem sombra de dúvida. Que coisa. Quem
podia imaginar?
Fiquei na cidade por dois dias. Passei um telegrama para o Chefe que ia visitar
em Santana dos Verdes Mares e disse que logo chegaria. Todas as associações
escoteiras tinham o máximo respeito uma das outras e se consideravam irmãos.
Napolitano uma espécie de líder de todos, entrando nos seus 90 anos me disse
que só a UEB era contra, mas ali no grupo ninguém ligava. Acampavam juntos,
faziam atividades juntos e o respeito da cidade pelos Escoteiros, desbravadores
e bandeirantes era enorme. As atividades da UEB eles não participavam, mas não
havia ressentimentos ao contrário nas atividades que eles programavam todos iam
em peso. Era supimpa nos cursos das outras associações. Pena que os cursos da
UEB não autorizavam a participação deles. E depois dizem que o sexto artigo diz
que somos amigos e irmão dos demais escoteiros. Estava comovido e revoltado.
Meu Deus! Não dizem que somos irmãos e amigos de todos? O que os meninos têm
com esta forma de atuação? O que eles devem pensar da filosofia escoteira? Da Fraternidade
que tanto falamos?
Pois é Chefe. Já estiveram em nossa cidade dirigentes da UEB tentando tudo para
que todos adotassem o escotismo Uebeano. Olhe que todos aqui na cidade
receberam a todos de braços abertos. Mas eles foram irredutíveis. Pedimos para
que abrissem uma exceção e eles recusaram. Mas quer saber? Não nos preocupamos
com isto. Aqui somos felizes assim. A cidade inteira sabe que pode contar com
os escoteiros. Tudo começou quando a Favela do Circo Feliz pegou fogo. Quase
cem famílias ao relento. Sem perceber todas as organizações deram as mãos. Os
mais velhos a construir casas de madeira. Os menores de casa em casa com
sacolas recebendo roupas e víveres. Mais de quatrocentos adultos trabalhando
dia e noite. O prefeito era Escoteiro, o delegado também. Doutor Fontes o Juiz
idem. A cidade em peso veio ver e era tanta gente querendo ajudar que muitos
chefes tiveram de organizar todos em patrulhas. Risos. Aprendemos a lição e
hoje sempre fazemos boas ações em conjunto. Não vou dizer que não houve
dissidências, houve sim. E não foram poucas, no entanto aqueles que nasceram
com espírito Escoteiro se mantiveram firmes na irmandade.
Um dos chefes saiu do grupo e resolveu
fundar outro dentro das normas da associação que não queria confraternizar
conosco. Não teve procura. A cidade em peso ficou sabendo. Nenhum pai queria
matricular o filho lá. Ainda estão vivos. É um Grupo Escoteiro pequeno.
Tentamos ser amigos e eles irredutíveis a nos chamar de traidores. Tudo bem até
o dia que a sede deles pegou fogo. Lá estávamos nós a ajudar. Doamos material
de sapa, barracas, mesas, cadeiras, cordas bandeiras, enfim eles viram que no
escotismo somos todos irmãos. Não se admite o contrário. Fiquei em Sonhos
Dourados dois dias. Sempre volto lá anualmente. Estive no Jamboree que
organizaram. Um espetáculo. Quase tudo grátis. Mais de 15.000 participantes.
Uma pena que os da UEB são caros e até Chefia do Staff paga. E olhe vi com
estes olhos que a terra a de comer que era tudo na base do Sistema de
Patrulhas. Não como alguns acampamentos nacionais ou regionais onde a
preocupação é divertir individualmente.
Bem meus irmãos escoteiros. Apenas uma história. Uma lenda? Um sonho? Mas seria
lindo se fosse real. Já pensou se todos nós fossemos um só e irmãos escoteiros?
Divergir por escolhas que não a nossa? Aceitar a disciplina que não concorda?
Afinal onde foi parar a lei escoteira, em uma só associação? É incrível que
alguns ainda digam que somos todos irmãos e na realidade a imposição e ameaças destroem
tudo aquilo que acreditamos ser fraternal. Pena que acordei do meu sonho. A
cidade de Sonhos Dourados não existia. Mas eu daria a minha vida que ela e
todas as que possuem escotismo tivessem também aquele amor, aquele respeito e
saber que seja o que formos somos sim, todos irmãos!