domingo, 26 de junho de 2016

“A morte lhe cai bem”.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro “Gagá”.
“A morte lhe cai bem”.

             Juro por Deus que não sei como fui parar em Curitiba. Dizem que é uma linda cidade, mas o frio lá é de lascar. Meu pulmão reclama e diz que vai parar de me dar ar para respirar. Mas lá estava eu, na sede da UEB, ou melhor, EB (até hoje não sei por que da mudança, o U era União e como apareceram outras associações Escoteiras não bem vindas, não havia mais razão de ser União, ou existe outra explicação?) – Bem pelo menos não fui de boa vontade. Detesto empáfia, corro de vaidade e soberba. Altivez arrogância e presunção eu passo longe. Não que lá na sede central da EB tem gente assim. Soube que tem muita gente boa, trabalhadora e honesta. Afinal é a terra do Moro um juiz que moralizou o Brasil. Continuando, não fui por cortesia. Fui obrigado. Ameaçaram matar meu papagaio se não acompanhasse os dois profissionais escoteiros que trabalham lá. Eram jovens simpáticos, não os meus tipos de Chefe, mas dava para o gasto. Um deles com um bastão maior que o meu e o outro com seis apitos pendurados no pescoço e oito tacos enfiados em um cadarço. Se ele começasse a apitar seria um inferno na minha rua.

             Com a dinheirama que eles tem em caixa nem de avião fomos. Levaram-me em um fusca Velho, verde e amarelo que queimava óleo “prá dedéu”. A viagem foi um inferno. Levei meu aparelho de inalação e queria a toda hora parar em um posto para inalar. Eles achavam que eu estava fazendo pirraça. Meus aparelhinhos pulmonares não ajudavam. Enfim dois dias de viagem para fazer 400 quilômetros. Fusca é fusca, mas aquele era um fusca de araque. Achei a sede nacional bonita. Bem cuidada. Pudera a dinheirama entrava a rodo. Eu sabia das taxas de tudo. Perguntei se havia taxa para entrar como o Edir Macedo cobrava no seu novo templo. Eles fecharam a cara e me jogaram em uma saleta. – Aguarde! “A Comissão de Ética” já vai chegar. O que? Comissão de Ética? O que eu fiz? Sou inocente. Juro por Deus e Nossa Senhora. Sou apenas um Velho Chefe Escoteiro Gagá e dizem que pé de chinelo dos bons! Eles nem respostas deram.

            Ouvi vozes em uma sala ao lado. Quem seriam? O DEN? O CAN? Este povo não trabalha e só faz reunião? – Uma voz disse: - Precisamos aumentar as mensalidades e taxas conforme o dólar! – Outro disse, nem pensar, o dólar sobe e desce e não podemos arriscar. Nosso caixa está ficando baixo! E o Euro? Ou melhor, a Libra? – Bah! Então era assim as decisões? Não prometeram transparência? Eu sabia que isto nunca existiu na UEB, Cacilda, esqueci, agora é EB. – Outro disse: Ele já chegou? – Tente usar a técnica da CIA nele. Se não der certo veja o manual da KGB. – Minha nossa! Seria eu? – Bem não demorou e entrou um deles. Vestido com a indefectível vestimenta, calça bombacha, tênis branco, camisa fora da calça, com aquele ar de Velho Lobo todo poderoso me olhou de alto a baixo. Pensei comigo: - Atuo como o Velho Vado Escoteiro bom de briga, ou fico naquela de santinho do pau oco? Ele sentou a minha frente. – Chefe, anda dizendo que seus escritos são melhores que da EB, diz também que é de graça, comenta sobre patrulhas, monitores, comenta sobre Baden-Powell como se fosse o tal. E termina dizendo: - Tudo de graça!  

           Olhei para ele e não disse nada. – Sabe que está tirando o pão da UEB? E o leite das crianças? Nossa cantina tem tudo, os melhores livros escritos por gente que sabe o que queremos. Precisamos vender. Já temos mais de nove funcionários para atender a todo Brasil. E vem você com esta conversa mole de PDF, gratuito, como se você fosse o papa do escotismo! Agora vem com um papo que nossa vestimenta é mal feita, desbota, não tem uma boa confecção. O que pretende? Acha que este caqui fajuto que veste serve para alguma coisa? Se ele custou cem reais e daí? Nossa vestimenta tem 19 tipos, cada um com um preço. Com quaisquer trezentas pilas você adquire um. Compra quem quiser! – Olhei para ele. Ele me olhou. – Quem quiser? Perguntei. Ele virou a cara. – Continuei compra que precisa, não tem outro lugar para vender e nem pode fazer! – Ele se levantou e gritou: Entre a comissão! A técnica da CIA e da KGB não adiantou. Mande entrar também um soldado graduado do Estado Islâmico. Se possivel aquele que usa a espada para decepar pescoço de chefes escoteiros fajutos!

           Meu Deus! Onde estava? Na Síria? No Iraque? Em Fallujah? – Tentei fugir e não deu. Um deles disse? Amarre-o bem. Use um nó de escota, outro de arnês. Se precisar um volta do fiel triplo. Nas pernas um nó de frade e outro de volta da ribeira bem apertado. Para ele não fugir, faça um Balso pelo seio com alças corrediças. Leve-o na Ponte das Bandeiras sobre o Rio Tietê. Cubra-o com folhas de bananeiras e enfie em sua goela uma porção de abobora seca. Depois jogue-o no rio. Deixe que as piranhas nos livre dele! – Chefe Doutor Mortalha, no Tietê não tem Piranhas! Disse um membro da Comissão. – Então faça-o viver o som da mata ouvindo o rio feder em seus ouvidos. Faça-o cantar embaixo d’água no meio da sujeira. Dizem que lá tem capivara e Jacaré, quem sabe eles o comem vivo? – Minha Nossa Senhora! B-P que me proteja. Morro gritando ou morro como herói? A porta abriu. O Presidente entrou. O presidente da EB e não o Michel Temer o interino brasileiro. – Cala-te ele gritou. Morra como homem! Chefe Doutor, eu sou só um Velho Escoteiro e olhe fajuto mesmo! Ele sorriu. Aquele sorriso que só Hitler sabia como fazer.


          Gritava e gritava. Berrava: - Tietê não! Me leve para o São Francisco, lá em Pirapora. Lá eu conheço as barrancas, as fazendas os peixes e as embarcações. Eles riam a valer. – Célia como sempre a me salvar – Marido! Marido! De novo não! Precisa acabar com estes pesadelos infernais! Acorda! Acorda! – Minha linda Célia sempre me salvando. Levantei suado. Não sei por que dormi com meu caqui querido. Celia preciso a partir de hoje só dormir com meu bastão de ponteira de aço ao meu lado. Ela sorriu aquele sorriso que só ela sabe dar. Acalmei. Escotismo? Bom demais, mas sempre digo Vado Escoteiro, fale menos e escreva mais!