domingo, 17 de julho de 2016

De ilusão e sonhos também se vive.


Conversa ao pé do fogo.
De ilusão e sonhos também se vive.

                         Minha mente volta no tempo para lembrar os belos acamamentos que um dia participei. E quantos iguais a mim fazem o mesmo? Antes de partir a imaginação vai além da realidade. Muitos dizem que o hoje não foi o ontem e o amanhã ninguém pode saber. Verdade, mas se somos escoteiros não vivemos de sonhos? De sonhar em ser um cavaleiro andante? De montar em uma águia e partir em busca da terra do nunca? Quantos ainda ficam dias sonhando para a próxima aventura, em explorar a floresta, subir em árvores enormes, quem sabe fazer uma bela pioneiria que seja um ninho de águia ou uma ponte pênsil? E cantar? Sim isto mesmo, cantar na jornada, cantar no campo nos vales nas trilhas incríveis que percorreu? Cantar em volta uma fogueira com velhos amigos, a contar “causos” rir das piadas alegres, e os olhos perdidos a acompanhar fagulhas que explodem no céu? – Alguém me diz sem eu esperar: - Chefe, isto não mais existe, hoje os jovens nem pensam mais nisto. Será mesmo? Não seria nossa culpa ao aceitarmos sem mesmo saber se eles pensam assim? Quem sabe falamos por eles, impomos um programa que achamos bom sem consultar?

                         Quem sabe vemos apenas nossos sonhos e os deles não? Quem sabe falamos por eles esquecendo que eles também têm sonhos? É fácil levar meninos e meninas para o campo, tentar contar histórias, esticar uma corda para nos divertimos com o magro, com o gordo que não consegue passar? Ou então sem programa especial deixá-los divertir na lama, e outras atividades que não eram o que esperavam? Se for assim o tempo passou e o sonho desmoronou. Pergunto-me se um dia na hora certa, no lugar certo, em uma sombra de uma grande árvore eles em silencio tentarem ouvir os sons da floresta, o cantar dos pássaros sentir o perfume da relva das flores e o som de um regato ao lado, uma bela cascata, a noite ver estrelas quem sabe um acampamento impossível em uma delas? Sonhos são assim, criados por eles e eles se sentirem realizados com a realização dos sonhos.

                      A visão é uma dádiva que Deus nos deu. Deixar que a mente de cada um escolha o melhor caminho, ensinar seus monitores e deixar que eles ensinem a trilha perfeita aos seus patrulheiros então a Tropa será perfeita e vai viver na natureza os sonhos de heróis que eles um dia tiverem. Aprendendo a fazer fazendo, subir montanhas, atravessar rios e tendo o Chefe como um observador para as horas difíceis? Ninguém descobre o vento, ninguém vai descobrir por que as estrelas brilham, ninguém vai deixar o medo quando ouvir um ribombar de um trovão e assustados pensam como se defender da chuva. Bendita chuva que ao cair cria na mente de cada um a vontade de se tornarem heróis aventureiros. Esta quem sabe é a hora certa para contar uma história, chovendo cântaros e suas mentes criam situações impossíveis para se safar daquela chuva como os grandes aventureiros fizeram um dia.

                   Escotismo é ter o espírito de aventura, ter a liberdade de fazer, aprender errando e dando um passo certo sob a orientação do Chefe, este sim é o verdadeiro caminho a seguir. “Deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido”! (Kipling). Deixe a visão deles percorrerem a trilha da imaginação. Este é o melhor caminho para orientar a cada um na escolha de sua vida e de sua maneira de ser. Faça exatamente como o Código Samurai – A perfeição é uma montanha impossível de escalar e ela deve ser escalada um pouco a cada dia. Sem perceber estamos discordando sempre destes sonhos em achar que eles são impossíveis de realizar.

                 Nenhum escoteiro vive sem ilusões. Sua imaginação é única. Ele cria sem ninguém saber uma fantasia ou devaneio. Deixe que eles façam desta miragem a realidade que podem e devem criar. Aquele poeta não disse que a vida é feita de ilusões, mas não é das ilusões que saem os melhores momentos da vida? Não diga não aos sonhos deles e se eles não têm sonhos mostre a eles como criarem os seus. Todos os jovens querem viver o sonho de ser herói. Tiraram isto dele e nós podemos devolver em forma de escotismo perfeito dentro do que pensou nosso Chefe Mundial. Não faça das aventuras que eles irão fazer uma fila interminável por uma estrada com você determinando aonde ir. Não tenha medo do que vai acontecer. Haja sim com cautela, mas sem tirar o espírito aventureiro. Lembre-se ali são eles os donos dos sonhos, os donos da aventura, você é um mero coadjuvante que tenta a sua maneira passar para eles o que um dia viveu. Agora o momento é deles e você deve aplaudir isto.

            Ninguém gosta de sonhar e ficar acordando vendo o tempo passar. Ver o vento vir e ir sem ter ao menos possibilidade de tocá-lo. Sem poder ouvir o som da floresta, sem sentir o orvalho da madrugada a cair suavemente no rosto. Sem saber o que os pássaros dizem sem sequer reconhecer o cantar do regato que lhe forneceu a água para sobreviver. Deixe-os ver o vento balançar as árvores, deixe que eles descubram o caminho a seguir, deixe-os descobrirem como podem viver sonhando com os pés no chão. Esqueça a modernidade por alguns minutos, tente não se preocupar com as adversidades dos novos tempos, oriente-os, mas faça tudo para que eles andem sozinhos. E quando se tornarem adultos eles não terão de viver sozinhos? Belas são as palavras de Kipling que escreveu um dia quem sabe para nós chefes – Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite...  

            Precisamos deixar que nossos jovens sonhem. Deixá-los descobrir o que é realidade e o que é um sonho. Precisamos pensar que o mundo é como um acampamento em que montamos nossa tenda podemos apreciar a natureza, e depois voltamos para a nossa casa que é a eternidade. E finalmente me lembrei das palavras de um poeta que escreveu dizendo que podemos acreditar em nossos sonhos:


- Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Coragem! Avance firme e torne-se Oceano!