segunda-feira, 25 de julho de 2016

O meu "Velho" livro de Atas.


Conversa ao pé do fogo.
O meu "Velho" livro de Atas.

                            Muitos não gostam do livro de Atas. Acham enfadonho e sem graça. Sempre que convidava pais para participarem da diretoria do Grupo Escoteiro quando comentava sobre as atas um olhava para o outro como a dizer – Faça você – Prefiro outro cargo. Não sei por quê. Afinal atas tem uma importância enorme na vida de um Grupo Escoteiro. Esqueça a tecnologia moderna de hoje. Pense como um aventureiro que quer deixar uma história do que aconteceu com seu grupo, com sua tropa, com sua patrulha para ser conhecido nos anos futuros. Eu sei que nos grupos que vocês atuam elas são feitas assiduamente. Eu sempre gostei de atas. E gostava e ainda gosto de escrever, afinal fui escriba na patrulha e nem lembro mais quantas atas e relatórios eu fiz. Colocar ali o que cada um diz sua opinião seu estilo de interpretar uma situação, é como sentir a vida dentro daquelas páginas que um dia irão ser lembradas como um fato histórico. Experimente ler uma ata alegre, cheia de sabor, escrita por alguém que dá um toque especial. Vale a pena. As lembranças se você esteve ali naquele dia irão trazer de volta tudo que foi falado, anotado e escrito.

                     Sempre acreditei na importância das atas. Gostaria de voltar a minha cidade e ver se as da Patrulha que participei elas ainda existem. Acho que não. Eu era o escriba e quando passei para Sênior ficou na mão de João Mindinho. Se ele cuidou bem eu não sei. Sei que o grupo não mais existe, mas quem sabe tem alguns vivos lá? Seria uma grata surpresa. Já pensou? Ler o que escrevemos durante todos aqueles anos como escoteiros e seniores? Sempre acreditei que não devia existir um modelo de estilo de escrita em atas. Dizem que hoje tem até cursos para os “Ateiros” risos. Tem tanta exigência que dá medo. Não pode pular linhas e nunca esquecer dos parágrafos.  Os espaços vazios devem ter um traço diagonal. Mas boa mesmo é a ata tipo história, cheia de adornos e Volante da Touro fazia e desenhava em cima.

                   A patrulha tinha dois bons escribas. Eu era um deles. Enfeitava muito no que escrevia. Claro nossas atas contavam sempre tudo que fazíamos em acampamentos, excursões, entrada e saída de escoteiros. Não faltava a entrega de distintivos, estrelas, etapas e tudo que se relacionasse a patrulha. Decisões da Corte de Honra (quando podíamos saber). Claro que a Corte de Honra tinha a sua trancada a sete chaves. As reuniões de Patrulha nunca eram feitas sem uma boa ata. E olhe, chegamos a ter mais de dois livros de atas por ano. Uma vez contei oito em cinco anos. Alguns dizem que na Patrulha não são atas e sim diário ou relatório. Se fazem e ficam gravados para sempre não discuto, mas que vale a pena vale. Quando os anos passam você pode ver ali o cargo de cada um na Patrulha, o dia da promessa, o dia da estrela de um ano, dois, três e os cordões, as classes e especialidades. Os acampamentos, as eficiências de campo, as histórias que surgiram e aconteceram e ufa! Até mesmo os fogos de Conselho.

                  São tantas coisas que valem a pena anotar que poderia escrever várias páginas sobre o tema. Por toda minha vida vivi junto a um livro de ata. Nunca deixei de ter uma para anotar e lembrar-se do dia em que foi escrita. Eu acredito que os livros de atas devem ficar a disposição de todo o Grupo Escoteiro e dos visitantes que se interessarem em ler. Nada do Diretor Administrativo levar para a casa, deixar a sete chaves em uma escrivaria qualquer.

                 Uma vez, quando fui nomeado Comissário Regional em Minas Gerais fiquei três fim de semana inteiro na sede regional a base de lanches para não perder o fio da meada, lendo atas que ali encontrei. Uma verdadeira historia contada por um simples livro do escotismo no estado. Tinha um livro de atas de 1930! Falava coisas que sequer poderia imaginar. Quando deixei o cargo deixei lá os livros de ata. Onde foram parar eu não sei, mas ali estava escrito a saga de um estado e sua história na sua formação escoteira.  E olhem, é ruim quando você pergunta se o grupo tem tudo isto e a resposta é negativa. Fica como se o grupo não tivesse história, memória, como se seu passado fosse suprimido para a posteridade.

                 Eu se pudesse iria visitar grupo por grupo e dizer da importância das atas. Atas das Assembleias, da diretoria, do Conselho de Chefes, das patrulhas e por que não da Alcatéia? Tão fácil ensinar os escribas os diretores administrativos a fazer uma ata gostosa e cheia de frases para abrilhantar um dia um ano e a vida de um Grupo Escoteiro para sempre. Nem me venha com formalidades. Está no POR? Atas formais são tediosas e muitas vezes elas nos dão preguiça ou sono quando há lemos.  Sempre digo que devemos procurar dar uma conotação especial ao fato. Claro não é uma narrativa de uma partida de futebol e nem tampouco um conto das mil e uma noites. Leva-se tempo para aprender a escrever com transparência e fazer do acontecido um espelho do real.

               Gosto de ver Grupos Escoteiros que tem história, que através de suas atas ficamos sabendo de sua saga, de sua vida e de como o tempo mudou para um e outro dos que estão e dos que já se foram. As atas tem papel fundamental. Na minha humilde opinião até mais do que fotos. Um livro de ata da Patrulha, da Corte de Honra, no caso dos seniores/guias do Conselho de Tropa, do Conselho de Chefes do Grupo e da diretoria do grupo, das assembleias tem uma importância fundamental. Muitas? Não. Cada uma tem sua particularidade. Cada uma tem sua história. Espero que isto faça aqueles que ainda não tem pensar mais no assunto. Colocar o supérfluo é fácil difícil é criar uma surpresa, uma maneira alegre da escrita onde às personagens ficam simpáticas a todos que leem.

Espero ter contribuído para que o Grupo em que colaboram possa ter sua história contada em seus detalhes mais lindos e suas mais loucas aventuras! 

- A noite escura jogava sombras na patrulha que tentava dormir. Um uivo ao longe fazia que pensamentos abstratos levassem até a porta da barraca um lobisomem, um fantasma e o medo aflorava a pele do noviço que se arriscou a acampar conosco. Depois de tudo, da risada normal quando o medo passou eu fiquei pensando como acabar com o medo. Fácil disse Jairo, apenas aprendemos a lidar com ele e aguentamos firme. A vida é uma grande e gigantesca confusão. Mas essa é também a beleza dela – De um livro de ata que se perdeu no tempo e na memoria de um escriba que nunca esqueceu suas histórias.