quarta-feira, 1 de abril de 2020

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro em quarentena. Afinal para que serve o Escotismo?




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro em quarentena.
Afinal para que serve o Escotismo?

... – Boa pergunta. Quantas vezes somos indagados sobre esta frase? Moço, para que serve o escotismo? A gente olha quem nos “pregunta”, fuça na mente e procura uma resposta de acordo com quem nos arguiu. Se for em tom de troça dá vontade de soquear, se é sério respondemos sério e tem aquele Chefe que em passeio no parque com seus jovens, abre um sorriso, bate nos joelhos e diz: - Pelo amor de Deus! Não sabe quem somos nós? E aí ele começa a palrear esquecendo dos seus jovens e tentando convencer o impoluto perguntador que não existe nada igual ao Escotismo, seu duvida seu moço só entrando para ver e entender! – Tem aqueles mais catedráticos, mensurados na ideologia escoteira que chamam de pedagogia (tão em moda) e vão lá no fundo do site Uebeano e respondem: - Senhor! (tem uns que dizem Sir!) É um movimento onde os jovens são protagonistas. Constroem um mundo melhor. Adoram a natureza. Fazem questão de trabalhar em equipe. Ajuda o próximo. Saiba Sir que o escotismo tem uma proposta educativa própria, mantem os jovens motivados com jogos e atividades! Ufa! Depois dessa ele agora é um mestre escoteiro sem saber!

- Mas tem outros, os mais novos, imbuídos no espírito de fraternidade escoteira, são jovens são senhores e senhoras imberbes com seus vinte quarenta anos, alguns motivados pelo calor da juventude, se orgulhando de seus filhos escoteirando e sorrindo completa, Moço eles adoram. – E vão mais além... Escotismo? Respondem com um sorriso franco, gostoso, ajeitam o lenço e declamam em versos como se fossem Olavo Bilac nos seus tempos a palrear sobre Escotismo... - O Escotismo é um movimento que tem como principal objetivo ser uma atividade educacional voltada exclusivamente para crianças e jovens. E dá aquele sorriso como se agora ele também é um daqueles que pertencem a Grande Fraternidade Mundial. Veja que até agora nenhum falou em Baden-Powell. A maioria já ouviu falar, mas tem alguns que não gostam de Generais, de desfile, de treinos de ordem unida e soube de outros que tremem quando o Monitor diz: - Patrulha firme! Cobrir! Descansar!

- Mas eu gosto mesmo é do Zé das Quantas, aquele carroceiro vendedor de areia retirada do Rio das Velhas, morador de Brejo Seco que adora o Escoteirinho sonhador. Quando vai até Jardim das Piranhas (existe e é no Rio Grande do Norte) para comprar coisas que em Brejo Seco não tem, sempre vai de uniforme. Afinal roupa de missa é prá missa e fora ela só tem o calção que ganhou do Seu Zé Pindoba e a camisa ganha do Prefeito Picolé Azedo. É comum perguntarem a ele o que é escotismo. Ele gosta, ri, olha direto nos olhos (aprendeu que assim há mais sinceridade) e diz: - Moço foi um tal de um General Inglês de nome Baden-Powell (o nome ele sabe, aprendeu e leu) foi em 1909 que ele viu meninos correndo nos bosques de sua cidade por causa dos livros que escreveu chamado de “Aids to Scout” Escotismo para rapazes. Ele dizia que para ser escoteiro tem de cumprir uma lei que é linda demais, a gente faz uma promessa prometendo pela honra para cumprir a lei amor à pátria e a Deus.

E ele continua... Moço o que se precisa saber para ser um bom escoteiro é que acampar é a parte mais alegre da vida de um escoteiro. Viver neste ar livre que Deus nos deu, entre colinas e árvores, pássaros e animais, junto ao mar e aos rios, viver com a natureza tendo sua pequena casa de lona, preparando sua própria comida e explorando a florestas para aprender mais.  Aprende-se a fazer fazendo e se educa a cada dia que vive escoteirando. Isso moço trás saúde e felicidade num grau que nunca se consegue entre tijolos e a fumaça da cidade. Excursionar, e quando penetramos cada vez mais longe, explorando cada dia, novos lugares, é uma gloriosa aventura que nos torna mais fortes e rijos, insensíveis ao vento e a chuva, ao calor e ao frio. Aceitamos moço com uma consciência de nossa capacidade que nos possibilita enfrentar qualquer dificuldade com um sorriso, pois sabemos que venceremos no fim. Aprendemos a armar uma barraca, preparar um abrigo, cozinhar, amarrar troncos a fim de fazer uma ponte ou jangada, e encontrar o caminho a seguir dia ou de noite, em lugares estranhos... Moço, amamos a noite as estrelas e o firmamento.

Era assim Zé das Quantas, afinal pouco leu no site dos escoteiros, das palavras bonitas e da tal Pedagogia Escoteira. Ele poderia se tivesse lido completar dizendo: Moço afinal o que nos faz quando jovens sermos escoteiros é que nossa atividade nos garante a diversão, já que o local onde se pratica o escotismo é em regiões afastadas como se fossem uma selva e ali realizamos nosso desejo de aventura, fazemos brincadeiras e esquecemos das facilidades tecnológicas tão oferecidas a juventude de hoje. Lembrei que há algum tempo um Chefe escoteiro lendo um artigo meu, me disse: - Chefe, não vejo a diferença onde está o escotismo simples de raiz de outrora comparado com o de hoje. Sou novo no escotismo, cinco anos, pedagogo e estudioso da metodologia escoteira. Eu amo o escotismo como qualquer um. Estudei cada livro de Baden-Powell, fiz curso, atuo em um grupo e posso me comparar a um antigo escoteiro, portanto não aceito o termo que diz que o melhor escotismo era o de antigamente. Pensei com meus botões, ele estava certo. Pena que isso foi há seis anos e hoje não está mais no escotismo. Pois é...

Às vezes tento imaginar o novo escotismo e compará-lo ao antigo. Não dá para comparar. Cada tempo tem seu tempo. Cada jovem vive seu momento e o escotismo do jovem de hoje é tão bom como foi o meu do passado distante. Mas este não é o tema que pretendo narrar aqui. O tema é que como dizemos aos convivas cidadãos o que é o Escotismo. Se perguntarmos a cada um dos chefes o que é teremos centenas de respostas. Deixo de lado aquelas padrões, modelos tão sobejamente utilizados. Tive a felicidade de ver muitos sorrindo dizer seu amor ao escotismo que praticam. Nem pretendo discorrer do porque a maioria dos nossos poetas, pensadores, doutores e docentes nos meios educacionais e filosóficos não tem aquela fleuma de outros em um passado distante que diziam que o escotismo é lindo, deveria ser praticado por toda a juventude, mais valorizado e que sua metodologia tem por base o que de mais lindo existe no mundo... “A Fraternidade”.

Não sou um filosofo escoteiro para narrar suas potencialidades competência em formar jovens, de uma maneira diferente de tudo que se conhece. Em um tempo muito distante fui convidado várias vezes para falar de escotismo em diversas cidades mineiras. Eu fechava os olhos e voltava no meu tempo de menino, correndo pelas campinas, marchando em um vale, subindo montanhas e parando a noite, deitava na grama e perplexo com minha pequena compreensão, olhava o brilho das estrelas, assoviava baixinho uma canção e sonhava em voar para além daquela fantástica imaginação. Ah escotismo! Quem é você? O que nos faz assim tão “abobado” a amar algum que mora dentro do coração? Aquele amor de menino imberbe, que cresceu e virou homem continua impoluto, casto nos seus princípios, integro nas suas leis e ainda puro dentro do possível nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações.