Conversa ao
pé do fogo.
Fizeram-me de
gato e sapato. Tem vingança?
Tentava me esconder atrás de
árvores e me descobriram. Saltei uma enorme cachoeira mergulhando em águas poluídas
e me acharam. Pulei sobre um penhasco dentro de um regato de águas profundas e lá
estavam eles. Segurei nas garras de enormes gaviões morcegos e mesmo assim não
conseguia fugir deles. Será possivel? Eu não merecia isto. Fiz tudo pelo
escotismo em toda minha vida, agora me crucificam deste jeito? Nem me avisaram
que fui condenado pela Comissão de Ética e todos foram a favor sem me dar
nenhuma chance? Esperava pelo menos que me dessem tempo para me armar.
Precisava de uma bom Rifle Assault AK-47, ou quem sabe a lendária pistola colt 1911, calibre .45? Quem sabe se eles
me vissem com um Lança-Foguetes MI 36AT-4 em iria me safar desta perseguição
implacável? Não sabia. Os homens de preto da Direção Nacional não perdoavam.
Tudo começou quando disse que nem morto iria vestir a tal vestimenta negra que
impuseram a todo mundo. Logo o telefone tocou – Velho! É você? – Sou eu sim. –
Sou o Presidente Geral do Escotismo, vou lhe dar um ultimatum, ou você coloca a
vestimenta ou vai com ela para o diabo que o parta!
Deus do céu! E agora? Tinha que
fugir, afinal era um profundo conhecedor de locais inóspitos, montanhas
inacessíveis, gigantescos penhascos intransponíveis, conhecia com a palma da
mão todas as grutas e cavernas das mais simples com cobras venenosas as mais
perigosas com os famosos morcegos negros de dentes cariados. Uma dentada e sem
dentista era morte certa. Mas a turma de negro era das boas. Lembrei-me do jogo
da Serra do Espinhaço. Vai ter espinhos assim na Tonga da milonga do cabuletê!
Foi lá que fiquei preso por dois dias comendo frutinhas venenosas o que me
transformou no Super Homem que sou hoje. Não disse nada no telefone. Já tinha
metido o pau tantas vezes nesta vestimenta que agora perdi a vontade de
criticar. Só disse pelo telefone: - Não vou colocar esta vestimenta, nem morto!
Gritei a ultima palavra e desliguei o telefone. Comecei a receber e-mails
ameaçadores – Vais morrer Velho Escoteiro decrépito e amaldiçoado. Nada vai te
salvar. Não adianta seus 66 anos de escotismo, está condenado ao fogo do
inferno! Só tem uma saída, compre logo a sua vestimenta, aquela da camisa solta
com bolsinhos gigantes e calcinha curta, e quero ver você de meinha branca seu
babaca!
Pensei logo em mandar um e-mail
para Bilbo Bolseiro, um Hobbit meu amigo há séculos. Lembro-me dele quando me
convidou para uma tarde com Baden-Powell em seu chalé no Quênia, e nunca
esqueci o panorama maravilhoso. BP tinha um sorriso encantador e ele conversava
animadamente com Bilbo. Acho que foi ele que disse que “eu não sei metade a
metade tão bem quanto eu gostaria, e eu gosto menos da metade do que vocês
merecem”! O cara era bom. Ele podia me ajudar a encontrar o Mago Gandalf e
iriamos jogar pó na turma dos homens de preto da liderança Escoteira nacional.
Se pelo menos quando fugi tivesse levado minhas armas tudo bem, mas não levei
nada, mal deu tempo de colocar minhas cuecas e nem meu fabuloso uniforme caqui
eu coloquei. Ele sim poderia fazer mágicas e me levar pelos ares longe daquela
turma que só queria me ver com a vestimenta que detestava!
Tentei voltar a respirar, pois o
ar me faltava. Eles me encontraram. Eram mais de vinte. Uns com camisa para
fora, outros de calça curta, outros de compridas, meias de todo tipo, uns de
tênis, outros de sandálias, e cada um com cada chapéu esquisito que fazia medo.
Não tremi, enfrentei todos como um Velho Escoteiro faz. Levantei-me. Olhei nos
olhos de cada um – Quem quiser morrer primeiro que se aproxime! – Nem terminei
de falar e caíram sobre mim como abelhas no mel. Malditos. Vestiram-me aquela
coisa horrenda! Tentei desvencilhar e nada. E foi então que o grande e belo
mago Gandalf apareceu com aquelas barbas enormes, com seu sorriso mateiro,
soltando faíscas no ar – Chefe! Ele gritou, vista logo seu adorado caqui, eles
quando o virem orgulhosamente com ele irão correr como o diabo correr da cruz.
Só vi as peças no ar em minha direção. Como o Super Homem Velho Escoteiro o
vesti com galhardia. Quando coloquei o chapéu tremi de emoção. Meus velhos
tempos de homem mau voltaram. Agora sim era um Escoteiro badeniano.
Comecei a gritar Anrê, gritei em
alto e bom som o grito da minha patrulha Escoteira – “Comemos e bebemos, a Deus
agradecemos” adorava este grito. Eles se assustaram. A turma dos dirigentes de
preto gritaram de medo a mais não poder. Afinal quem pode com um caqui
badeniano? Dei uma bela gargalhada. Só vi quando eles corriam feito uma gazela
pela trilha do Cavalo Morto. O Mago Gandalf sorriu e disse – Precisando é só me
chamar. Sou assim com Baden-Powell. Ele é um cara legal. E Bilbo Bolseiro
sorria deu as mãos a Gandalf e partiram. Enfim mantive meu palavra de usar meu
caqui até morrer. Comecei a sorrir, do sorriso virou uma gargalhada e uma voz
me dizia para acordar. Abri os olhos. Era a Celia. Minha princesa veio me
salvar. Era só um sonho, mas que passei apertado passei. Espero nunca mais
sonhar assim, ainda bem que no sonho era amigo de Bilbo Bolseiro e o Mago
Gandalf. Quer saber? Nem assisti bem todos os filmes de O Hobbit, Bilbo Bolseiro e nem sei por que eles
me salvaram no sonho.
Nota – Apenas um conto para
divertir. Nada contra a vestimenta. Claro que nem morto vou usar, mas você meu
amigo novo no escotismo ou não se adotou este uniforme que a UEB diz chamar
vestimenta, conte com meu apoio. Não é porque não gosto dele que vou desmerecer
os meus amigos e amigas que gostam. Afinal o que seria do azul celeste se tem
tantos para gostar do roxo? Risos. Abraços fraternos aos caqueanos e por que
não os de negro cinza?