sábado, 17 de janeiro de 2015

Pequeno por fora e grande por dentro. Parabéns Chefes


Crônicas de um Velho Escoteiro.
Pequeno por fora e grande por dentro. Parabéns Chefes

               Tirei o dia para meditar. Levantei cedo e fiquei pensando, porque existem tantos chefes como eu? Será porque não sou tão grande por fora como outros? Sei não. Tenho amigos entre os grandes chefes e os pequenos. Os grandes sabem como sou, não dou parabéns a quem não merece, mas não os desmereço. Cada um faz o escotismo que acredita e isto ninguém duvida. Você pode fazer parte de um grupo escoteiro com uma perfeita estrutura empresarial e acreditar que este é o caminho para o sucesso. Vou mais além, acho que você está certo. Mas pense! Pense calmamente e não se segure em seu sucesso. Temos pouco mais de mil grupos no Brasil e quantos são iguais ao seu? Você é um Escoteiro de coração e sabe que são poucos, pois a maioria são pequenos, quase nada. Eles são culpados? Acredita mesmo nisto? Lembro-me de uma canção de Armando Cavalcante e Klecius Caldas maravilhosamente interpretada por Luiz Gonzaga, ela falava em ser pequeno e acreditar que vida é bela assim.

¶ Vai, boiadeiro, que a noite já vem, guarda o teu gado 
E vai pra junto do teu bem 

              Eu admiro os grupos escoteiros pequenos. Cada um com sua peculiaridade. Tem aqueles de poucos chefes, que lutam de sol a sol para aos sábados tentar ensinar aos poucos Escoteiros o maravilhoso método de BP. Como fazem, se em pé ou deitado não importa. A luta é constante. Destes pequenos grupos, cuja estrutura é mínima costuma sair grandes homens que nunca esquecerão seu tempo de escotismo. Eles sobrevivem aos trancos e barrancos. O material de campo é mínimo, a sede mal tem alguns bancos e muitas vezes a Bandeira Nacional do qual se orgulham tanto está velha e esbranquiçada. Adoro-os. Eu fui um deles no passado. Uma sede de seis metros quadrados. Uma escrivania, duas cadeiras e um armário. O material de campo ficava guardado em uma saleta no fundo da igreja. Reuniões no campinho de futebol atrás da igreja. Nossa! Tempos bons demais!

¶ De manhãzinha quando eu sigo pela estrada
Minha boiada pra invernada eu vou levar 
São dez cabeças, é muito pouco, é quase nada 
Mas num tem outras mais bonitas no lugar 

             Quem sabe se eu tivesse participado de um Grupo Escoteiro, com sede própria, almoxarifados com todas as patrulhas cobertas por caixas patrulhas enormes, abastecidas de bom material, bandeiras em profusão, doutores nos olhando com aqueles olhos de quem produziu bons frutos eu também poderia pensar diferente? Poderia até ter gostado, ninguém sabe o caminho que não escolhemos como devia ser hoje. Mas conheci centenas de Grupos Escoteiros humildes, chefes simples, alegres, e o melhor sempre bem uniformizados, Como era bom chegar a sede com seu cantil novo, sua faca nova, seu chapéu tinindo com as abas largas e retas adquiridas com muito suor. Passado de novo Chefe Osvaldo? Entre na trilha do presente, hoje somos modernos!

¶ De tardezinha quando eu venho pela estrada 
A fiarada tá todinha a me esperar, 
São dez "filhim", é muito pouco, é quase nada 
Mas num tem outros mais bonitos no lugar 

                    Eu torço mesmo que estes pequenos, que lutam para alcançar o sucesso como os demais que chegaram lá. Mas creiam, eles dificilmente irão ter esta oportunidade. O mundo vai passando, as épocas vão mudando e quase não deixamos frutos que irão dar a eles a oportunidade que merecem, afinal não são doutores, não tem a experiência de quem está mais próximo do poder. Eles são simples, acreditam nisto, ficam sorrindo quando recebem uma visita de alguém importante. Você pode dar a eles o caminho a seguir e eles irão sorrir com suas palavras. Sabem que eles não têm condições de dar o passo do sucesso que você ensinou. Cursos? Alguns deles fazem, tem aqueles privilegiados que um dia conseguem ter a Insígnia de Madeira, mas sempre serão os mesmos do passado. Eles gostam assim e porque tentar mudá-los?

E quando eu chego na cancela da morada 
Minha Rosinha vem correndo me abraçar 
É pequenina, é miudinha, é quase nada 
Mas num tem outra mais bonita no lugar!

                   É, é isto mesmo. Eu também fui assim. Bom demais, preocupar com burocracias? Entrar no SIGUE? Deus do céu! Meu caso era outro bem diferente e por favor meu querido amigo, não repita para mim novamente que agora os tempos são outros, os jovens querem outro programa, os jovens não são os mesmo de outrora. Pode ser, quem sabe acredito nisto. Quem se interessa em ser também um herói da floresta? Quem se interessa em dormir sob as estrelas? Quem se interessa a aventurar numa trilha de uma floresta inexpugnável? Quem poderia imaginar fazer uma jangada e descer por quilômetros em um rio? Quem poderia pensar num grande jogo em um vale cheio de perigos? É hoje os tempos são outros. Idiotice pensar que acender um fogo, cantar em volta dele, dançar como os índios faziam, pular o fogo e receber um nome de guerra, e entrelaçar as mãos cantando uma canção e contar estrelas no céu são coisa de maluco na floresta dos sonhos.   

¶ Vai, boiadeiro, que a noite já vem, guarda o teu gado 
E vai pra junto do teu bem ¶.


            Poxa chefe, muito do que o senhor falou ainda se faz, isto não desmerece a estrutura perfeita! Será? Ainda me lembro com saudades quando dávamos as mãos para ajudar uns aos outros com atos e não com palavras. Quem sabe falta isto nos nossos dirigentes para que aqueles mais simples possam alcançar o seu caminho para o sucesso? Mas pelo sim pelo não, ainda escolheria outro caminho para ser um Escoteiro. BP dizia que se fosse menino seria Escoteiro do Mar, eu repito se fosse menino seria Escoteiro como fui. Amante da natureza e das estrelas no céu sem nenhuma burocracia a me prender. Livre e solto e seguir o vento onde ele for!