UM TRIBUTO A
BADEN-POWELL.
LORD ROBERT BADEN-POWELL E LADY OLAVE BADEN-POWELL.
Manhã de céu azul. Convite
a uma boa leitura. Na minha pequena biblioteca peguei um livro qualquer, há
tempos que não lia uma boa história e estava precisando. “Não matem as flores”
de J.M. Simmel. Antigo e já tinha lido, mas fazia tanto tempo que resolvi ler
de novo. A praça era perto da minha casa. Lá muitas árvores e minha preferida
era um Jacarandá centenário. Vazia a praça. Cedo ainda e o banco que gostava de
ficar não havia ninguém. Sentei. Abri o livro na primeira página. Comecei a ler
e parei. Uma senhora simpaticíssima de uma idade indecifrável me interrompeu. –
Boa tarde Senhor! Olhei para ela, me levantei e retribui – Boa tarde senhora! –
Ela sorriu. Nunca vi um sorriso tão lindo. Cabelos brancos em um coque muito
bem feito. Vestia um simples vestido azul celeste, gola alta e manga até o
tornozelo. Uma botinha preta enfeitava seus pés. – Posso me sentar ao seu lado?
– Sorri. – Porque não Senhora? Uma honra para mim! Ela sentou devagar. Sentada
parecia uma Lady. Seria que não era uma?
- O Senhor sabe que dia é
hoje? – Olhei espantado para ela – dia oito de janeiro senhora. – O Senhor não
se lembra de nada? – Olhei para ela novamente. Teria que me lembrar e não sabia
do que ela falava – Oito de Janeiro Senhor Chefe Osvaldo! – Nossa! Ela sabia
meu nome e que era Escoteiro. – E agora lembra? Continuou? – Data que
Baden-Powell faleceu? Isto mesmo Senhor Chefe Osvaldo. Faz setenta e quatro
anos que ele se foi! – Levantei as sobrancelhas e não disse nada. Ele foi para
as estrelas na madrugada do dia oito. Dizem que morreu dormindo. Será? Ela
continuou. – Uma parte da história que não conhecia – Pois é Senhor Chefe
Osvaldo, ele se foi segurando a mão de Olave, o senhor sabe que eles se amavam?
– Outra parte da história que eu desconhecia. – Pois é veja bem, falava a
Senhora. - Ele já estava com cinquenta e cinco anos e ela com vinte e três
quando se casaram. Conheceram-se em uma viagem as Índias Ocidentais. Viajavam
no mesmo navio. O “Arcadian”. Ela já sabia de sua fama no exército e no novo
movimento de jovens que surgia. Foi um amigo de seu pai que a apresentou a
Baden-Powell. Foi ali que nasceu um grande amor, pois eles possuíam as mesmas
idéias e aspirações.
Eu não dizia nada. A senhora me
dava uma verdadeira aula de história de Baden-Powell e Lady Olave. – Ela sorria
um sorriso maravilhoso. - Pois é Senhor
Chefe Osvaldo, mesmo sendo de boa família, seu pai Professor catedrático em
Oxford e sua mãe filha de um grande Almirante Inglês lhe deram uma educação
primorosa. Quando pediu Olave em casamento ouve um reboliço não só na
Inglaterra, mas em várias partes do mundo onde já nascia o Escotismo. Afinal havia uma grande diferença de idade e
muitos disseram que ele fez isto porque precisava mostrar ao Movimento
Escoteiro que seu líder mundial devia dar o exemplo de Deus, Pátria e Família.
Mas olhe meu Amigo Senhor Chefe Osvaldo eles se amavam e eu sou testemunha. O
Senhor sabe que eles tiveram três lindos filhos? – Betty Clay, Peter
Baden-Powell e Heather Grace Baden-Powell. Quando se casaram foram passar a lua
de mel na África. A segunda pátria dele. Muitos anos depois ele e ela
resolveram fixar residência no Quénia. Escolheram um lugar lindo, panorama
maravilhoso, floresta de quilômetros de extensão e picos cobertos de neve.
- Eu estava embasbacado. Como
aquela senhora conhecia tanto da vida de BP? – Ela sorria, que sorriso
maravilhoso meu Deus! Quem era ela? – Ela continuou - Nyeri nunca foi esquecido
por ele. O Senhor sabe que existem mais de trinta e sete milhões de Escoteiros
no mundo? Agora pense em todos que um dia passaram nas fileiras Escoteiras,
qual seria o número exato? Difícil de imaginar! Quando ele faleceu, Olave
estava ao lado dele, segurou sua mão e ele deu um sorriso. Ela prometeu a ele
continuar sua obra e assim o fez até sua morte em vinte e cinco de junho de
1977. Faleceu rodeada de entes queridos na Capela de Westminster, presentes
membros da nobreza, corpo diplomático e oficiais ingleses amigos de
Baden-Powell. - Ela sorria para mim e eu cada vez mais abismado com aquela
mulher. Deus meu! Quem era ela? – Pois é Senhor Chefe Osvaldo, vim aqui para
falar de Baden-Powell e acabei falando de Olave. Sabe que ela pediu que não enviassem
flores e nem presentes na hora de sua morte? Pediu insistentemente que
enviassem sim para um fundo especial, pois gostaria de ver terminado a sede da
WAGGGS em Londres. Depois de terminada foi batizada de Centro Olave em
recordação a sua residência no Quênia com seu amado esposo que tinha o nome de
PAXTU!
Ela se levantou. Levantei-me
também. Ela sorriu para mim. Hora de partir! Ele me espera! Hoje temos de ir a
vários lugares, rever amigos, abraçar outros tantos! – Ele quem Senhora? – Ora
ela disse o Senhor não o conhece? Lá está ele! – Olhei espantado, na esquina da
rua que morava alguém me acenava com a mão. Olhei melhor, era ele! Impossível
mas era ele! Lord Robert Baden-Powell! Quase chorei de emoção. Ela sorria para
mim. Peguei a mão daquela senhora e dei um beijo suave. Ela pôs a mão na minha
cabeça e disse – Fique com Deus Chefe! E partiu devagar. – Gritei alto, e a
senhora qual o seu nome? – Senhor Chefe Osvaldo, não me reconheceu? Eu sou Lady
Olave Baden-Powell! Deu as mãos ao seu amado e olhando para trás falaram juntos
calmamente com uma simpatia que nunca mais esqueci – Sempre Alerta Chefe
Osvaldo. Esperamos o senhor em breve na estrela Paxtu! – Somos muitos lá!
Sorriram e pegaram carona em uma nuvem branca que desceu do céu especialmente
para transportá-los!