Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
A saga do
uniforme caqui. Capítulo 8.375.
Mais um capítulo. Quando vai se
encerrar esta saga? Bem eu já devia ter encerrado há muito tempo. Só não o fiz
por que apareceram novos saudosistas e eu não podia deixá-los sós. Eles como eu
têm sonhos, tem lembranças, são tradicionais ao seu modo. Para eles pouco
importa o que hoje os valorosos lideres Escoteiros em nosso país façam. Eles
sabem que não podem esmorecer e continuam sua luta. Luta inglória. Luta difícil,
é uma história diferente onde eles não tem valor para a alta direção. Ela não
prestigia seus colaboradores voluntários. Não acredita na palavra deles. Faz
gato e sapato com exigências incabíveis e muitas vezes não aceita. Para mim isto
é um absolutismo incomparável. Qualquer um que acompanhou a história sabe que a
vestimenta foi imposta, foi quase obrigatória, condições? Duas: - Podem usar o
caqui quem quiser. A vestimenta será padrão que a UEB já escolheu. Não
acreditam? Conhecem algum dirigente ou formador que ainda usa o caqui?
Foram dois anos ou mais discutindo,
montando peças, dando liberdade a um órgão que nem eleito foi para a escolha.
Depois em uma longínqua Assembléia jogaram aos presentes o fantástico
espetáculo de apresentação copiado do Faschion Week, um desfile de modas que
todos conhecem. Espetáculo para ninguém colocar defeito. Planejado nos seus
mínimos detalhes. A apresentação dos modelos e das modelos vendeu a todo Brasil
um novo estilo, uma nova moda, uma nova apresentação que no dizer dos lideres seria
a revolução do escotismo Brasileiro. Deu certo, a maioria aprovou sem
pestanejar e tem muitos que se sentem ofendidos quando se comenta o histórico.
E aqueles que alardeiam que houve consultas? Que houve transparência? E os
preços? E a confecção de péssima qualidade? Coisas que acontecem dizem com
qualquer roupa dizem. Que o digam os que esperam meses e recebem tudo errado.
Mas não é o tema de minha crônica.
O que queria escrever e defender é
o meu tradicional uniforme caqui. Sei que não é tão tradicional assim houveram
outros antes dele. Estão martelando situações que eu não conhecia sobre ele.
Dizem que o brim é quente, que não é bom para andar no mato, que no frio as
pernas de fora gelam. Outros disseram que é démodé, que ninguém gostava que a
meninada sempre pedia para mudar o uniforme. Interessante que eu nos meus 66
anos de escotismo nunca ouvi isto. Quando a UEB abriu a participação feminina a
tão falada coeducação a UEB determinou um uniforme. Era até simpático e
palatável ao meu modo de ver. Mas a partir da década de noventa começaram as
mudanças. Disseram que as moças queriam ficar iguais aos rapazes. Muitas
partiram para o traje e outras para o caqui dependendo o que o Grupo usava. A
UEB como sempre deixou as águas rolarem. Bagunçaram tudo. Não entendo esta
posição em relação ao caqui. Afinal eu o uso deste que passei para a Tropa
Escoteira. E olhe que os meus amigos da tropa e de outros grupos amigos nunca
reclamaram. Naquele longínquo tempo nunca vi um Adestrador, um membro dirigente
da UEB ou da Região se posicionar contra o caqui. Eles usavam sorrindo!
Afinal sem me considerar o melhor
Escoteiro, com o brim caqui passei noites em invernos rigorosos no Pico da
Bandeira. Noites no Pico do Itatiaia, e nas Agulhas Negras, na Serra do Cipó, e
em locais cujo frio pela manhã a gente via o gelo se formando no capim. Nem
comentar de São Lourenço. Poucos conhecem. E tudo isto em barraca de duas
lonas. Afinal para que serve um Fogo Espelho? Cruzei matas, florestas enormes,
cai em rios, lagos, despenhadeiros e o uniforme secando no meu corpo. Eu mesmo
aprendi a lavar e passar no campo (passar a moda Escoteira). Andei com ele pelo
Vale do Rio Doce com sol de quarenta e cinco graus. Dei voltas no Vale do Aço,
do Jequitinhonha, e tantos outros vales deste Brasil. Fui a Teófilo Otoni e de
lá a cidade de Canavieiras na Baia voltando por Vitória no Espírito santo de
Bicicleta. Sempre com ele. Calor? Frio? Para que a manta? Para que a camiseta
quando precisava? Contar o que fiz com meu brim caqui que durava mais de oito
anos enquanto a gente não crescia é impressionante. Será que a vestimenta fará
o mesmo? Quem sabe fará. Hoje o programa é outro, e aquele de aventuras ficou
no passado.
Comentar que antes os chefes vinham dos lobos,
dos Escoteiros, dos seniores era meio caminho andado. Depois tudo mudou. A
evasão chegou fazendo alarde. São poucos que chegam à idade adulta em um grupo
Escoteiro. A maioria hoje são pais voluntários que acompanhando os filhos
resolveram colaborar. Bem vindos, no entanto alguns poucos resolveram se tornar
porta voz da UEB. Denigrem um uniforme que não conhecem a tradição. Que nunca
usaram como os antigos. Calça comprida no caqui? Só fui ver isto na década de
oitenta. Vergonha? Sei não, eu nunca usaria, mas aceito quem o faz. Para a
vestimenta não vou e nem sonho em ir. Os poucos novos (de oitenta para cá) denigrem
o caqui, o chapéu, o meião e dizem que não gostam e agora estão contentes com a
vestimenta. São mestres em dar explicações sobre o escotismo moderno e vejo
alguns deles dizendo que se BP fosse vivo faria isto também. Coitado do BP.
Deve estar lá em cima em volta do fogo em uma estrela perdida no universo a
ruminar onde ele guardou seu chapéu.
Eu sei que é fato consumado a
vestimenta. Não tem volta. E querem saber mais? Não dou dez anos para que o
caqui desapareça. Quem sabe ficará uma minoria de cinco por cento do efetivo com
ele. Quem viver verá. Esta conversa que a UEB liberou os dois não dá para
engolir. Quando foi lançado todos os dirigentes e formadores foram “intimados”
a dar exemplo. Chefes sem a menor consideração passaram a usar em suas tropas
ou Alcateia isto sem a liberdade de escolha conforme é determinado pela UEB.
Agora deram liberdade! Democracia arrostam os politicamente corretos. Você só
usa se o Grupo votar sim. Balela! Conheço uma infinidade de grupos que surgiu
cisões, muitos foram contra, muitos resolveram sair do escotismo, mas a vestimenta prevaleceu. Se o Grupo ainda
não tem o domínio ou a emancipação democrática; seja através de um Conselho de
Primos, de Tropa; Conselho de Patrulha; Corte de Honra e Conselho de Chefes
onde todos aprenderam a discutir votar e aceitar o veredito, não adianta
insistir que a liberdade foi completa para quem escolheu a vestimenta.
Se você não gosta do caqui é um
direito. Pena que o direito no escotismo é só da UEB que determina, manda,
resolve o que vai fazer sem nenhuma transparência. Dizer que ela não costuma ser
transparente, democrática, que faz pesquisas de qualidade não é verdade. Nunca
em tempo algum agradeceram aos voluntários antigos ou os novos de alguma
maneira. Quem já recebeu algum e-mail, uma cartinha ou algum parecido? Alguém foi
contemplado sem primeiro fazer um dossiê ou processo? O que muitos receberam e
que agora são obrigados a fazer uma documentação com firma reconhecida se
quiserem fazer o registro. Como sempre o Chefe não tem palavra, tem de provar
que é honesto.
Eu sei que a vestimenta já é fato consumado. Aceito a escolha de quem a
usa. Mas se possivel que tenham mais seriedade, mais apresentação pessoal com
seus jovens e maior orgulho da vestimenta. Foram dezenove tipos. Porque isto
nunca entendi. Já ouvi de amigos muitos comentários jocosos da vestimenta.
Ainda a tempo de consertar isto. Nem sei se a UEB viu ou vai tomar alguma
providência. Uma coisa garanto, não precisa ir longe para saber por que
partiram os seis mil Escoteiros no ano passado.
Perguntem a vestimenta! Ela sabe até onde tem culpa.