quinta-feira, 18 de junho de 2015

É este o escotismo que queremos?


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
É este o escotismo que queremos?
                
                            Pois é, ainda estou em duvida. Escrevo esta crônica por causa de uma notícia que os jornais rádios e TVs anunciaram nestes últimos dias. Um fato interessante: - Uma senhora sócia do Clube Pinheiros da Capital de São Paulo, apesar de pagar uma taxa para sua babá, pois tinha filhos pequenos, o clube exigiu que ela só poderia entrar se portasse um uniforme branco próprio para pessoas não sócias. Ela advogada se revoltou e procurou a justiça. Lembrei-me de um fato acontecido neste mesmo clube. Lá pelos idos de 1979/83 andei dando uma colaboração a um Comissário Distrital. O Clube Pinheiros tinha um grupo Escoteiro e lá fomos nós. Quanta burocracia para entrar e só na porta dos fundos. A sede um cantinho junto ao muro. Os meninos na maioria eram filhos de sócios e os que não eram só pela portinha dos fundos podiam entrar. Discriminação? Sei não. Mas isto ainda acontece pelos relatos que recebo.

                            De lá para cá se passaram mais de 45 anos. Melhoramos? Necas boy Scout! Continuamos ainda sendo um movimento de segunda classe. Faça um périplo por todos os Grupos Escoteiros brasileiros. Todos repito. A maioria tem uma sede pequena, (Isto quando tem), escondida no fundo de alguma organização religiosa, educacional ou empresarial. Muitos tem hora para entrar e sair. São vigiados e quando muda a diretoria podem ir parar na rua! O bom de tudo que a maioria dos humildes chefes se sentem satisfeitos. Melhor que nada. Sei de muitos grupos que o material fica guardado nas casas dos chefes. Eles procuram um lugarzinho qualquer para fazer suas reuniões. Bem tem sua vantagem, pelo menos são vistos. Mas e o prefeito não vê? Os vereadores? Estes passam longe. Sem sombra de dúvida é uma lástima tudo isto. Mas nossa preocupação em termos uma barraca para dormir é tanta, que qualquer tapera serve. E agora José, onde anda a UEB e seus tentáculos regionais? Onde anda a tal frente parlamentar Escoteira?

                             Ainda desconheço o programa que a UEB realizava no Escotismo nas Escolas. Um bom programa na verdade, mas dependente de um politico. Ele se vai? Acabou todo trabalho. Somos ou não um movimento de segunda classe?                           Ninguém está nem aí. A UEB sempre se exime de tudo. Joga a culpa nos chefes e sempre a pedir que eles façam o que é obrigação dela. Veja o que escrevem aos grupos e distritos sobre isto: - “Protocolo de Relacionamento Político dos Escoteiros do Brasil”. Este é um guia que pretende nortear os Grupos Escoteiros do Brasil a desenvolverem um relacionamento positivo com as forças políticas das esferas municipais, estaduais e federal. Contar com o apoio do Poder Público pode trazer muitos benefícios para o seu Grupo Escoteiro, então é importante ficar atento ao cenário político em volta da sua organização e estabelecer diálogo com tom todas essas forças”. É um calhamaço de mais de 14 páginas. Quer fazer? Quer ajudar? Quer ter apoio? Melhor ler o manual “Faça você mesmo”.

                           Sei que muitos irão dizer: - Quem quer faz quem não quer só reclama! Risos. E daí? O voluntário entra para o escotismo pensando que vai ajudar a meninada, que vai formar cidadãos e cidadãs, e o que encontra? Nada. Ele tem de fazer tudo e ainda mais. Ele tem que ver sede, tem que ver materiais necessários para que o grupo se desenvolva; tem de manter bons relacionamentos, tem de ser um bom relações publicas para ter pais na ativa, tem de se humilhar para um politico qualquer atrás de uma sede, de uma ajuda de transporte e outras mais. E tudo sem garantia nenhuma! Sei que tem vários grupos com sua sede própria, tem em suas fileiras uma estrutura de dar inveja. Os demais são considerados uma chaga no escotismo, não querem nada, só favores e que alguém faça por eles! Verdade isto? Bem assim são tratados a maioria dos voluntários Escoteiros no Brasil.

                          Ficar em cima de atas, fazer instruções e normativas, decidir qual a programação nacional no ano que vem até eu. Cobrar taxas para tudo, mudar o que não precisa ser mudado só para alardear que fez eu faço de olhos fechados. É preciso entender que não só a UEB tem responsabilidade. As regiões também. O voluntário chega com cara de quem não quer nada, se motiva, compra a ideia que o escotismo é bom, ensinam a ele tanto em cursos (pago por ele é claro) a ser obediente e disciplinado, obrigam a ele a dizer no final da promessa que vai “Servir a União dos Escoteiros do Brasil”; (pensei que era servir aos jovens, mas não é) e nem uma cartinha o “cara” recebe. – Oi seu Zé das Quantas, obrigado por ser mais um de nós. Contamos com você. Seja bem vindo! – Eu pergunto quem já recebeu isto? Que raios de diretriz é esta que temos que a ajuda que precisamos não é esta?  Que só cobra, que só exige como se fossemos marginais? Chega de Jamborees caros, chega de alardear os que vão para as “Oropa”, quem vão representar A e B. Isto é coisa de ricos.

                         Já é hora de virar a página. É hora de valorizar o voluntário. O que precisam fazer é estar do lado dele ajudando ombro a ombro, fazendo e ensinando na sua morada e não através de atas, de normativas e coisa e tal. Perguntam por que tantos adultos voluntários estão deixando o movimento. Só eles que não sabem? Chega de distâncias entre um e outro. Ninguém discute o valor de uma liderança em uma organização. Ela tem de existir sim, mas para servir aos seus associados e não o contrário. Chega de perder quase seis mil associados em um ano. Escotismo que não cresce que não tem valor entre os educadores, que é esquecido pelas autoridades do país. Escotismo onde poucos decidem tudo, onde não existe pesquisa séria, onde não existe uma troca de opiniões, onde se muda tudo sem perguntar. Onde alguns poucos se acham os tais, onde tratam os voluntários e associados como empregados.

                           Aldous Huxley em livro Admirável Mundo Novo, escreveu o que pensava sobre a forma de uma organização. - Uma organização não é consciente nem viva. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si; É boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do todo. Dar primazia às organizações sobre às pessoas é subordinar os fins aos meios. Tudo estaria a salvo se toda a população fosse capaz de ler e se permitisse que toda espécie de opiniões fosse dirigida aos homens, pela palavra ou pela escrita, e se pelo voto, os homens pudessem eleger um legislativo que representasse às opiniões que tivessem adotado!


                 E para terminar esta crônica, porque não escrever o que pensava BP sobre a democracia? - “A maior ameaça a uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo; e não quer aprender a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta”. A democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos mentais não forem salvos de si mesmos. Eles não querem pensar, desejam apenas ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes, alguém os guia puxando-os pelo nariz! Saia da sua estreita rotina se quer alargar sua mente. BP.