Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
É este o
escotismo que queremos?
Pois é, ainda estou
em duvida. Escrevo esta crônica por causa de uma notícia que os jornais rádios
e TVs anunciaram nestes últimos dias. Um fato interessante: - Uma senhora sócia
do Clube Pinheiros da Capital de São Paulo, apesar de pagar uma taxa para sua
babá, pois tinha filhos pequenos, o clube exigiu que ela só poderia entrar se
portasse um uniforme branco próprio para pessoas não sócias. Ela advogada se
revoltou e procurou a justiça. Lembrei-me de um fato acontecido neste mesmo
clube. Lá pelos idos de 1979/83 andei dando uma colaboração a um Comissário
Distrital. O Clube Pinheiros tinha um grupo Escoteiro e lá fomos nós. Quanta
burocracia para entrar e só na porta dos fundos. A sede um cantinho junto ao
muro. Os meninos na maioria eram filhos de sócios e os que não eram só pela
portinha dos fundos podiam entrar. Discriminação? Sei não. Mas isto ainda
acontece pelos relatos que recebo.
De lá para cá se
passaram mais de 45 anos. Melhoramos? Necas boy Scout! Continuamos ainda sendo
um movimento de segunda classe. Faça um périplo por todos os Grupos Escoteiros brasileiros.
Todos repito. A maioria tem uma sede pequena, (Isto quando tem), escondida no
fundo de alguma organização religiosa, educacional ou empresarial. Muitos tem
hora para entrar e sair. São vigiados e quando muda a diretoria podem ir parar
na rua! O bom de tudo que a maioria dos humildes chefes se sentem satisfeitos.
Melhor que nada. Sei de muitos grupos que o material fica guardado nas casas
dos chefes. Eles procuram um lugarzinho qualquer para fazer suas reuniões. Bem
tem sua vantagem, pelo menos são vistos. Mas e o prefeito não vê? Os vereadores?
Estes passam longe. Sem sombra de dúvida é uma lástima tudo isto. Mas nossa
preocupação em termos uma barraca para dormir é tanta, que qualquer tapera
serve. E agora José, onde anda a UEB e seus tentáculos regionais? Onde anda a
tal frente parlamentar Escoteira?
Ainda desconheço o
programa que a UEB realizava no Escotismo nas Escolas. Um bom programa na verdade,
mas dependente de um politico. Ele se vai? Acabou todo trabalho. Somos ou não
um movimento de segunda classe? Ninguém está nem aí.
A UEB sempre se exime de tudo. Joga a culpa nos chefes e sempre a pedir que
eles façam o que é obrigação dela. Veja o que escrevem aos grupos e distritos
sobre isto: - “Protocolo de Relacionamento Político dos Escoteiros do Brasil”.
Este é um guia que pretende nortear os Grupos Escoteiros do Brasil a
desenvolverem um relacionamento positivo com as forças políticas das esferas
municipais, estaduais e federal. Contar com o apoio do Poder Público pode
trazer muitos benefícios para o seu Grupo Escoteiro, então é importante ficar
atento ao cenário político em volta da sua organização e estabelecer diálogo
com tom todas essas forças”. É um calhamaço de mais de 14 páginas. Quer fazer? Quer
ajudar? Quer ter apoio? Melhor ler o manual “Faça você mesmo”.
Sei que muitos irão dizer: - Quem quer faz
quem não quer só reclama! Risos. E daí? O voluntário entra para o escotismo pensando
que vai ajudar a meninada, que vai formar cidadãos e cidadãs, e o que encontra?
Nada. Ele tem de fazer tudo e ainda mais. Ele tem que ver sede, tem que ver
materiais necessários para que o grupo se desenvolva; tem de manter bons
relacionamentos, tem de ser um bom relações publicas para ter pais na ativa,
tem de se humilhar para um politico qualquer atrás de uma sede, de uma ajuda de
transporte e outras mais. E tudo sem garantia nenhuma! Sei que tem vários
grupos com sua sede própria, tem em suas fileiras uma estrutura de dar inveja. Os
demais são considerados uma chaga no escotismo, não querem nada, só favores e
que alguém faça por eles! Verdade isto? Bem assim são tratados a maioria dos
voluntários Escoteiros no Brasil.
Ficar em cima de
atas, fazer instruções e normativas, decidir qual a programação nacional no ano
que vem até eu. Cobrar taxas para tudo, mudar o que não precisa ser mudado só
para alardear que fez eu faço de olhos fechados. É preciso entender que não só
a UEB tem responsabilidade. As regiões também. O voluntário chega com cara de
quem não quer nada, se motiva, compra a ideia que o escotismo é bom, ensinam a
ele tanto em cursos (pago por ele é claro) a ser obediente e disciplinado,
obrigam a ele a dizer no final da promessa que vai “Servir a União dos Escoteiros
do Brasil”; (pensei que era servir aos jovens, mas não é) e nem uma cartinha o “cara”
recebe. – Oi seu Zé das Quantas, obrigado por ser mais um de nós. Contamos com você.
Seja bem vindo! – Eu pergunto quem já recebeu isto? Que raios de diretriz é
esta que temos que a ajuda que precisamos não é esta? Que só cobra, que só exige como se fossemos
marginais? Chega de Jamborees caros, chega de alardear os que vão para as “Oropa”,
quem vão representar A e B. Isto é coisa de ricos.
Já é hora de virar a
página. É hora de valorizar o voluntário. O que precisam fazer é estar do lado
dele ajudando ombro a ombro, fazendo e ensinando na sua morada e não através de
atas, de normativas e coisa e tal. Perguntam por que tantos adultos voluntários
estão deixando o movimento. Só eles que não sabem? Chega de distâncias entre um
e outro. Ninguém discute o valor de uma liderança em uma organização. Ela tem
de existir sim, mas para servir aos seus associados e não o contrário. Chega de
perder quase seis mil associados em um ano. Escotismo que não cresce que não
tem valor entre os educadores, que é esquecido pelas autoridades do país.
Escotismo onde poucos decidem tudo, onde não existe pesquisa séria, onde não
existe uma troca de opiniões, onde se muda tudo sem perguntar. Onde alguns
poucos se acham os tais, onde tratam os voluntários e associados como
empregados.
Aldous Huxley em livro Admirável Mundo Novo,
escreveu o que pensava sobre a forma de uma organização. - Uma organização não
é consciente nem viva. Seu valor é instrumental e derivado. Não é boa em si; É
boa apenas na medida em que promoveu o bem dos indivíduos que são partes do
todo. Dar primazia às organizações sobre às pessoas é subordinar os fins aos
meios. Tudo estaria a salvo se toda a população fosse capaz de ler e se
permitisse que toda espécie de opiniões fosse dirigida aos homens, pela palavra
ou pela escrita, e se pelo voto, os homens pudessem eleger um legislativo que
representasse às opiniões que tivessem adotado!
E para terminar esta crônica,
porque não escrever o que pensava BP sobre a democracia? - “A maior ameaça a
uma democracia é o homem que não quer pensar pôr si mesmo; e não quer aprender
a pensar logicamente em linha reta, tal como aprendeu a andar em linha reta”. A
democracia pode salvar o mundo, porém jamais será salva enquanto os preguiçosos
mentais não forem salvos de si mesmos. Eles não querem pensar, desejam apenas
ir para frente, seguindo a ponta do nariz através da vida. E geralmente, estes,
alguém os guia puxando-os pelo nariz! Saia da sua estreita rotina se quer
alargar sua mente. BP.