70 anos
depois... Nada mudou!
Muitos ainda
não podem ir a um Jamboree.
Quanto tempo nas quebradas
escoteiras. Quanto vento bateu firme em meu rosto nos vales e nas escaladas,
quantos acampamentos, quantas amizades, quantas canções, quantos fogos de
conselho, quantas vezes dei as mãos entrelaçadas para dizer que não é mais que
um breve adeus. Foram tantas que nem sei mais contar. E as vezes que encontrei
obstáculos, dificuldades de andar com as próprias pernas, sempre encontrei
pessoas interpondo querendo me forçar o que não era... Tantas e tantas que
prefiro deixar escondido no meu passado distante. E quando menino quantos
sonhos não consegui realizar, quantas vontades em ter o que nunca tive para
gritar bem alto: - Eu também consegui! Doía demais em saber que não podia ser
mais um.
Setenta anos depois vejo que
pouco mudou. Antes éramos gritantes nas estradas de terra, nas trilhas, nas
subidas de montanhas a cantar o Rataplã. Mas o sonho de todos escoteiros em
estar em um Jamboree nunca aconteceu. O que dizer de ser pobre? O que é um
pobre? Aquele que não nasceu em berço de ouro? Aquele que não procurou viver
melhor e trabalhou por isto? Quem sabe o desprovido ou mal provido do
necessário? Ou aquele de poucas posses, que aparenta ou revela sua pobreza? Sem
explicação. Setenta anos depois vejo escoteiros como eu dizendo as mesmas
coisas.
Implico com meu abstrato
invisível a dizer que aceitamos sem reclamar. Temos direitos? Escolhemos
aqueles que viveram como nós e confiamos? Sempre bati na mesma tecla que nossa
maior fraqueza no escotismo está em não desistir. O caminho mais certo de
vencer é tentar mais uma vez... Verdade? Vamos catar latinhas, limpar quintal,
lavar carros e assim de passo em passo iremos realizar nosso sonho para encher
os cofres de alguém. Que liderança temos que nunca lutou e nem luta para fazer
realizar o sonho de muitos. Que liderança temos que não procura dar condições a
que o pobre tenha as mesmas possibilidades do rico?
Eu ainda me pergunto quando iremos
nos tocar e brigar para mudar este estado de coisas e eleger quem realmente se
preocupa por nós? Por acaso seria os pobres escoteiros do Brasil? Afinal quem
elegeu esta liderança que esquece que o escotismo é feito de sonhos de pobres e
acreditam que alguém pode ajudar a realizá-los. Para que serve um Presidente
Escoteiro das mais altas esferas? Para que serve um grande chefão que pode
brigar para abrigar aqueles que querem sorrir em um Jamboree e não faz nada por
isto? 70 anos depois eu continuo incrédulo, mas nunca desisti. Um sábio disse
que um homem não está acabado quando enfrenta a derrota. Ele está acabado
quando desiste.
Estou lendo em páginas
invisíveis que o Jamboree está chegando. Valor? Apenas R$650,00 sem incluir
refeição. Nossa! Sem a boia? Vamos levar uma marmita para tantos dias? Ou vamos
gastar na cantina para que o lucro seja maior? Que taxa é esta? E o percurso da
cidade até onde se realiza o evento? E o transporte entre cidades e estados?
Pagar R$650,00 para que? Para um chapéu de pano? Para um lenço? Para um
distintivo do Jamboree? Para um monte de papeis que será jogado no lixo horas
depois? Não tem patrocínio? Se nos anteriores tiveram com as taxas absurdas
para onde foi parar a arrecadação?
Ora, ora fico pasmado que
alguns reclamam e outros não dizem nada. Sempre foi assim. Os Risonhos chefes
da Liderança Escoteira, aqueles que quando candidatos juraram ter ética, se
preocupar e mostrar ser transparente onde estão hoje? Será que eles esqueceram
tudo e sabem do seu potencial de mando, de suas decisões que nunca serão
discutidas e... Cacilda, aceitas por todos sem reclamações publicas? Quando
teremos direitos de todos escolherem seus representantes de maneira democrática
e não isto que vemos hoje?
Setenta anos depois...
Sempre foi assim. A plebe escoteira sabe onde é o seu lugar. Se quiser tem de
aceitar ou se não quiser é melhor sair. Os Lideres terão tudo pago. Não irão
gastar um vintém. Darão e receberão medalhas. A realização do sonho será de
alguns poucos que não precisam lutar para estar lá. Alguns pobres irão fazer
das tripas o coração para juntar o rico dinheirinho que irá sustentar a riqueza
de uma liderança que nem se preocupou em trabalhar para dar condições aqueles
que nunca poderão pagar. Setenta anos depois sempre foi assim. Continência para
uma liderança que não quer prejuízo em nenhuma atividade e que não sabe o valor
de um menino pobre que sonhou em brincar de escoteiro em um Jamboree...
Relembrando o poeta, difícil
não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que mais se ama. Eu
não desisti, mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não
ter mais condições de sofrer!
Ah! Pena que não tenho mais idade para
montar uma estrutura “Jamboriana” e colocar lá os escoteiros pobres do Brasil.
Pena que minhas forças e minhas ideias não coadunam com os poderosos que sabem
que nunca iriam me convidar e quiçá me deixar participar. Eles em suas
lideranças não ouvirão a plebe, não ouvirão o clamor dos grupos humildes que tentam
ao seu modo fazer um escotismo nas cidades pequenas ou grandes deste nosso
País!