Conversa ao
pé do fogo.
Cavalos a
trotar.
“Quando se
quer do frio esquentar,
Põem-se os
cavalos todos a trotar!
Cavalos,
trotando uma pata...
Ummmmmm!
Ops! Minha nossa! Esqueci
que sou Velho com um pulmão treteiro. Pensei que era menino Escoteiro nos
acampamentos e me escondia do frio em um fogo espelho e deixava a geada cair.
Não era mais. Eu era forte, sabia me esconder do frio e um fogo Espelho nas
noites geladas tinha seu lugar. Eu nunca tive um Sleeping Bag (Saco de dormir) por dois motivos: a)
Não existia na época em minha cidade; b) se tivesse não tinha “tutu” para
comprar. Eu ainda acho que é um trambolho para levar e carregar. Mamãe costurou
dois sacos de linhagem e eu tinha meu colchão. Era encher de grama ou folhas
secas e dormia a sono solto.
Havia muitos truques para se
esquentar nas noites geladas em uma barraca. Jornais, preparar o lugar de
dormir com brasas quentes e depois retirar. As mães dos escoteiros mais
cuidadosas enchiam seus filhos com cobertor e mantas. Ele chegava à sede e só
se via sua tralha e mais nada! Eu aprendi muito e sabia como me virar em noites
de frio e, por favor, nada melhor que um Fogo Espelho. Era só fazer uma parede
de pequenos trocos meia cônica em frente à barraca (mais ou menos um metro e
meio) fazer um fogo em uma pequena vala, deixar a porta aberta aposentar a
manta e o cobertor e dormir sossegado.
Sei que cada escoteiro tem
seu truque para o frio. Eu nunca gostei de encher minha mochila se tinha como
fazer fogo. Afinal andava quilômetros e peso nas costas não era minha escolha
pessoal. Costumo dizer que acampamento não é camping. Se vamos nos encher de
bugigangas nunca vamos aprender a ser mateiros e bons acampadores. Temos que
aprender a improvisar e para isto vamos deixar a mente pensar e fazer o que
bolamos. Lá pelos idos de 1954 acampei com Escoteiros de Vitoria da Conquista e
todos eles com redes. Juntei tostões e comprei uma. Foi um desastre. Um frio de
fazer gelo! A rede não era boa para isto. Fiz fogo de um lado ainda frio, do
outro frio, fiz do na frente e o frio continuava por baixo. “Tenha dó”! Desisti.
Lá no nordeste a rede tem seu lugar. Sempre está quente.
Agora já idoso e velhote,
todo ano que o frio chega eu me aconchego nos meus “trecos” para me proteger. É
um desastre e mesmo com uma manta e dois cobertores ainda fico tremendo gelado.
Ontem resolvi fazer o velho truque dos “Cavalos a Trotar”. É uma canção supimpa
para suar! Mas me fiz de novo um desafio. Limpei o centro da sala. Célia me
disse que eu não ia aguentar. Velho teimoso tirei o agasalho e comecei a
trotar. Já sonhava ao terminar o trote estar suando em bicas. Afinal o frio
estava de rachar. Cantei uma, duas tremendo e na terceira perdi a voz. Na
quarta cai ao chão feito tomate maduro. Platibum! Esborrachei-me. Célia me
ajudou a ficar em pé. Não deu. Arrastou-me até o sofá. Perdi a fala, perdi a
voz. “Mama mia” e o frio?
Marido, seu tempo já passou! Melhor
comprar um aquecedor, ela disse. - E como pagar a conta Célia? Conheci há
tempos àquelas lareiras de ferro fundido ótimas para esquentar o ambiente.
Havia também as Salamandras uma beleza para fugir de frio nas noites de inverno.
Do tombo que levei fiquei quase uma hora para voltar a respirar novamente. “Rataplã
do Arrebol”! Eu não sou mais aquele. Pelas Barbas do Profeta, que Chefe sou eu?
Risos. Apenas um velhote que não aguenta dar um “puleco” sem cair. Pois é,
saudades do meu Fogo Espelho nas noites de inverno e dos desafios que fazia
para a escoteirada no Cavalos a Trotar. Belos acampamentos. E durma-se com um
frio desses.
nota - Cavalos a trotar é uma canção muito conhecida
por todos os membros do escotismo. Para quem consegue chegar até o fim não tem
como não esquentar. Quando ao fogo Espelho pouco conhecido tem grande valia
para noites de frio seja em barraca ou pequenos abrigos. Meu fraterno abraço
Chefe Osvaldo