terça-feira, 20 de junho de 2017

Conversa ao pé do fogo. Cavalos a trotar.


Conversa ao pé do fogo.
Cavalos a trotar.

“Quando se quer do frio esquentar,
Põem-se os cavalos todos a trotar!
Cavalos, trotando uma pata...
Ummmmmm!

                   Ops! Minha nossa! Esqueci que sou Velho com um pulmão treteiro. Pensei que era menino Escoteiro nos acampamentos e me escondia do frio em um fogo espelho e deixava a geada cair. Não era mais. Eu era forte, sabia me esconder do frio e um fogo Espelho nas noites geladas tinha seu lugar. Eu nunca tive um Sleeping Bag (Saco de dormir) por dois motivos: a) Não existia na época em minha cidade; b) se tivesse não tinha “tutu” para comprar. Eu ainda acho que é um trambolho para levar e carregar. Mamãe costurou dois sacos de linhagem e eu tinha meu colchão. Era encher de grama ou folhas secas e dormia a sono solto.

                   Havia muitos truques para se esquentar nas noites geladas em uma barraca. Jornais, preparar o lugar de dormir com brasas quentes e depois retirar. As mães dos escoteiros mais cuidadosas enchiam seus filhos com cobertor e mantas. Ele chegava à sede e só se via sua tralha e mais nada! Eu aprendi muito e sabia como me virar em noites de frio e, por favor, nada melhor que um Fogo Espelho. Era só fazer uma parede de pequenos trocos meia cônica em frente à barraca (mais ou menos um metro e meio) fazer um fogo em uma pequena vala, deixar a porta aberta aposentar a manta e o cobertor e dormir sossegado.

                    Sei que cada escoteiro tem seu truque para o frio. Eu nunca gostei de encher minha mochila se tinha como fazer fogo. Afinal andava quilômetros e peso nas costas não era minha escolha pessoal. Costumo dizer que acampamento não é camping. Se vamos nos encher de bugigangas nunca vamos aprender a ser mateiros e bons acampadores. Temos que aprender a improvisar e para isto vamos deixar a mente pensar e fazer o que bolamos. Lá pelos idos de 1954 acampei com Escoteiros de Vitoria da Conquista e todos eles com redes. Juntei tostões e comprei uma. Foi um desastre. Um frio de fazer gelo! A rede não era boa para isto. Fiz fogo de um lado ainda frio, do outro frio, fiz do na frente e o frio continuava por baixo. “Tenha dó”! Desisti. Lá no nordeste a rede tem seu lugar. Sempre está quente.                        

                      Agora já idoso e velhote, todo ano que o frio chega eu me aconchego nos meus “trecos” para me proteger. É um desastre e mesmo com uma manta e dois cobertores ainda fico tremendo gelado. Ontem resolvi fazer o velho truque dos “Cavalos a Trotar”. É uma canção supimpa para suar! Mas me fiz de novo um desafio. Limpei o centro da sala. Célia me disse que eu não ia aguentar. Velho teimoso tirei o agasalho e comecei a trotar. Já sonhava ao terminar o trote estar suando em bicas. Afinal o frio estava de rachar. Cantei uma, duas tremendo e na terceira perdi a voz. Na quarta cai ao chão feito tomate maduro. Platibum! Esborrachei-me. Célia me ajudou a ficar em pé. Não deu. Arrastou-me até o sofá. Perdi a fala, perdi a voz. “Mama mia” e o frio?


                    Marido, seu tempo já passou! Melhor comprar um aquecedor, ela disse. - E como pagar a conta Célia? Conheci há tempos àquelas lareiras de ferro fundido ótimas para esquentar o ambiente. Havia também as Salamandras uma beleza para fugir de frio nas noites de inverno. Do tombo que levei fiquei quase uma hora para voltar a respirar novamente. “Rataplã do Arrebol”! Eu não sou mais aquele. Pelas Barbas do Profeta, que Chefe sou eu? Risos. Apenas um velhote que não aguenta dar um “puleco” sem cair. Pois é, saudades do meu Fogo Espelho nas noites de inverno e dos desafios que fazia para a escoteirada no Cavalos a Trotar. Belos acampamentos. E durma-se com um frio desses.

nota -  Cavalos a trotar é uma canção muito conhecida por todos os membros do escotismo. Para quem consegue chegar até o fim não tem como não esquentar. Quando ao fogo Espelho pouco conhecido tem grande valia para noites de frio seja em barraca ou pequenos abrigos. Meu fraterno abraço
Chefe Osvaldo