Conversa ao
pé do fogo.
Cursos para
chefes escoteiros.
Os
primeiros cursos experimentais para a formação de Chefes e Dirigentes
Escoteiros iniciaram-se em 1910, mas se tratavam apenas de “experiências”.
Assim, a grande maioria dos adultos que praticavam o Escotismo colaborando com
as recém-formadas Patrulhas e Tropas de meninos não possuía treinamento algum,
o que dificultava o aproveitamento integral do Programa Escoteiro. Baden Powell conhecia
este problema e pensava em aplicar um programa de treinamento de chefes
semelhante àquele que obtivera sucesso com os garotos, na Ilha de Brownsea e
para isso necessitava de um local fixo onde pudesse haver atividades práticas
ao ar livre. Esse lugar é
Gilwell Park adquirido pelo amigo W. de Bois MacLaren em 1919 e chamado assim
em homenagem a Lord Baden Powell of Gilwell.
O primeiro curso de Chefes em Gilwell aconteceu no mesmo ano de 1919, entre 8 e 19 de setembro. Ao final do curso Baden Powell queria dar uma lembrança aos Escotistas ali presentes, algo que tivesse um significado maior do que um mero certificado e representasse o compromisso com os ideais Escoteiros. Trajava naquele momento um grande colar de contas de madeira que ganhara no seu tempo de Exército de Dinizulu, rei de uma tribo africana. Deu então para cada chefe uma das contas do colar, iniciando assim uma Tradição Escoteira que vive até hoje. Com o passar do tempo os cursos foram sendo aprimorados e modificados. Os resultados esperados não estão sendo alcançados, haja visto que muitos chefes ainda não estão preparados para liderar ou conduzir uma tropa escoteira.
Se no passado o primeiro
curso (CAB – Curso de Adestramento Básico) para chefes escoteiros sem
considerar o preliminar era realizado em cinco dias corridos hoje quando muito
se leva três dias para um IM muitas vezes em fins de semanas alternados. Se no
passado (não digo que era o melhor meio de treinar e adestrar chefes
escoteiros) havia uma preocupação constante na formação do Chefe pensando no
conhecimento da metodologia Badeniana, hoje nota-se que os cursos foram bem
modificados na sua apresentação, no seu curriculum e no método desenvolvido.
Um curso de cinco dias era
feito em regime de acampamento. Os chefes viviam e sentiam o que os jovens
iriam sentir em uma patrulha. Seja no campo ou na sede. O Sistema de Patrulhas,
o Aprender Fazendo, A fraternidade, A liderança e a vivencia escoteira era uma
constante em todos os momentos. As patrulhas eram formadas, escolhia-se o
grito, o lema e seu símbolo maior, na figura do nome com seu respectivo
emblema, seja um pássaro, um animal ou outro que representa a natureza.
Montava-se o campo, construíam-se pioneirías, todos dormiam em suas barracas no
campo de patrulha, cozinhavam-se revezando sem esquecer as unidades didáticas
importantes para o conhecimento e discussão dos Chefes Escoteiros.
O tempo era corrido sim, mas
tudo feito dentro do sistema de patrulhas, no campo tendo a natureza ao redor.
O Monitor era escolhido por voto direto e para que todos pudessem sentir a
responsabilidade o revezamento não só na monitoria como os demais cargos de
patrulha eram feitos em períodos pré-determinados. Era um curso provido de
códigos simples, tais como a camaradagem em primeiro lugar, a boa ação mesmo
ali em plena natureza, repensar a Lei e a Promessa Escoteira, no período
noturno respeitar aquele que estava ao seu lado e claro, a disciplina mostrando
que a patrulha e o Monitor eram uma equipe pronta para agir.
As conversas entre patrulha nas
horas de tempo livre, onde se fazia as refeições e os jogos eram considerados
por todos como um fato importante no crescimento do jovem. Dificilmente
ficávamos mais que dez minutos em palestras há não ser em casos especiais. As
dinâmicas de grupo eram constantes e a troca de conhecimentos eram fatos
normais. A Equipe se entrosava com os alunos chefes e o respeito era
considerado como condição importante para estar ali dirigindo. O curriculum era
perfeito para que o Chefe pudesse adquirir os conhecimentos necessários na sua
labuta em uma tropa escoteira. Lei e Promessa, Corte de Honra, Sistema de
Patrulhas, Fazer fazendo, Programando o programa, O adolescente, Técnicas
Escoteiras, Orientação, Percurso de Gilwell e muitos outros eram realizados.
O uso e a manutenção do
material de sapa, pioneiras, latrinas, fazer fazendo talas, sinais de pistas
criados pela patrulha, técnicas de aproximação de animais e pássaros, Leitura
de literatura escoteira, conhecimento do POR e por fim uma exigência que nunca
passou em branco. A apresentação. O uniforme devia estar sempre impecável
quando exigido. Aprendia-se a lavar e passar na moda escoteira. O sapato
engraxado. A fivela do cinto brilhando e o chapéu com as abas perfeitas. Hoje
isto foi alterado. Os cursos foram investidos em técnicas modernas que muitos
dirigentes escoteiros aprenderam em suas empresas ou em seus currículos
universitários.
Nota-se a preocupação dos
lideres formadores de curso em dar uma formação mais neoliberal ou mais voltada
para as normas gerais que regem os Estatutos da Criança e do Adolescente. O que
antes era considerado como perfeito para a autoformarão do jovem, já que ele
mesmo era responsável pelo seu desenvolvimento hoje pouco se vê nas tropas
escoteiras. A preocupação com o jovem o leva a outros extremos como se a
natureza, as descobertas, as grandes aventuras foram esquecidas. Falam-se em
outra juventude. Uma juventude que busca outro tipo de entretenimento. Ouvir o
ponto de vista do rapaz deixou de ser uma maneira simples de atingir o método
escoteiro. Agora se discute o que é bom para ele sem perguntar se ele quer
realmente aquilo que está sendo dado.
Se este é o que precisamos
para desenvolver o método escoteiro, se isto leva a manter o jovem por mais
tempo no escotismo, se isto irá trazer os resultados que esperamos de homens e
mulheres dignos para a nação fico em dúvida. Estamos fazendo um escotismo para
jovens de maior poder aquisitivo e esquecendo o que Baden-Powell disse quando criou
as bases para o movimento. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se
economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e
espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam
do Escotismo.