quarta-feira, 14 de junho de 2017

Cursos para chefes escoteiros.


Conversa ao pé do fogo.
Cursos para chefes escoteiros.

                  Os primeiros cursos experimentais para a formação de Chefes e Dirigentes Escoteiros iniciaram-se em 1910, mas se tratavam apenas de “experiências”. Assim, a grande maioria dos adultos que praticavam o Escotismo colaborando com as recém-formadas Patrulhas e Tropas de meninos não possuía treinamento algum, o que dificultava o aproveitamento integral do Programa Escoteiro.  Baden Powell conhecia este problema e pensava em aplicar um programa de treinamento de chefes semelhante àquele que obtivera sucesso com os garotos, na Ilha de Brownsea e para isso necessitava de um local fixo onde pudesse haver atividades práticas ao ar livre.  Esse lugar é Gilwell Park adquirido pelo amigo W. de Bois MacLaren em 1919 e chamado assim em homenagem a Lord Baden Powell of Gilwell. 
 
              O primeiro curso de Chefes em Gilwell aconteceu no mesmo ano de 1919, entre 8 e 19 de setembro. Ao final do curso Baden Powell queria dar uma lembrança aos Escotistas ali presentes, algo que tivesse um significado maior do que um mero certificado e representasse o compromisso com os ideais Escoteiros.  Trajava naquele momento um grande colar de contas de madeira que ganhara no seu tempo de Exército de Dinizulu, rei de uma tribo africana. Deu então para cada chefe uma das contas do colar, iniciando assim uma Tradição Escoteira que vive até hoje. Com o passar do tempo os cursos foram sendo aprimorados e modificados. Os resultados esperados não estão sendo alcançados, haja visto que muitos chefes ainda não estão preparados para liderar ou conduzir uma tropa escoteira.

                   Se no passado o primeiro curso (CAB – Curso de Adestramento Básico) para chefes escoteiros sem considerar o preliminar era realizado em cinco dias corridos hoje quando muito se leva três dias para um IM muitas vezes em fins de semanas alternados. Se no passado (não digo que era o melhor meio de treinar e adestrar chefes escoteiros) havia uma preocupação constante na formação do Chefe pensando no conhecimento da metodologia Badeniana, hoje nota-se que os cursos foram bem modificados na sua apresentação, no seu curriculum e no método desenvolvido.

                  Um curso de cinco dias era feito em regime de acampamento. Os chefes viviam e sentiam o que os jovens iriam sentir em uma patrulha. Seja no campo ou na sede. O Sistema de Patrulhas, o Aprender Fazendo, A fraternidade, A liderança e a vivencia escoteira era uma constante em todos os momentos. As patrulhas eram formadas, escolhia-se o grito, o lema e seu símbolo maior, na figura do nome com seu respectivo emblema, seja um pássaro, um animal ou outro que representa a natureza. Montava-se o campo, construíam-se pioneirías, todos dormiam em suas barracas no campo de patrulha, cozinhavam-se revezando sem esquecer as unidades didáticas importantes para o conhecimento e discussão dos Chefes Escoteiros.

                   O tempo era corrido sim, mas tudo feito dentro do sistema de patrulhas, no campo tendo a natureza ao redor. O Monitor era escolhido por voto direto e para que todos pudessem sentir a responsabilidade o revezamento não só na monitoria como os demais cargos de patrulha eram feitos em períodos pré-determinados. Era um curso provido de códigos simples, tais como a camaradagem em primeiro lugar, a boa ação mesmo ali em plena natureza, repensar a Lei e a Promessa Escoteira, no período noturno respeitar aquele que estava ao seu lado e claro, a disciplina mostrando que a patrulha e o Monitor eram uma equipe pronta para agir.

                   As conversas entre patrulha nas horas de tempo livre, onde se fazia as refeições e os jogos eram considerados por todos como um fato importante no crescimento do jovem. Dificilmente ficávamos mais que dez minutos em palestras há não ser em casos especiais. As dinâmicas de grupo eram constantes e a troca de conhecimentos eram fatos normais. A Equipe se entrosava com os alunos chefes e o respeito era considerado como condição importante para estar ali dirigindo. O curriculum era perfeito para que o Chefe pudesse adquirir os conhecimentos necessários na sua labuta em uma tropa escoteira. Lei e Promessa, Corte de Honra, Sistema de Patrulhas, Fazer fazendo, Programando o programa, O adolescente, Técnicas Escoteiras, Orientação, Percurso de Gilwell e muitos outros eram realizados.

                  O uso e a manutenção do material de sapa, pioneiras, latrinas, fazer fazendo talas, sinais de pistas criados pela patrulha, técnicas de aproximação de animais e pássaros, Leitura de literatura escoteira, conhecimento do POR e por fim uma exigência que nunca passou em branco. A apresentação. O uniforme devia estar sempre impecável quando exigido. Aprendia-se a lavar e passar na moda escoteira. O sapato engraxado. A fivela do cinto brilhando e o chapéu com as abas perfeitas. Hoje isto foi alterado. Os cursos foram investidos em técnicas modernas que muitos dirigentes escoteiros aprenderam em suas empresas ou em seus currículos universitários.

                  Nota-se a preocupação dos lideres formadores de curso em dar uma formação mais neoliberal ou mais voltada para as normas gerais que regem os Estatutos da Criança e do Adolescente. O que antes era considerado como perfeito para a autoformarão do jovem, já que ele mesmo era responsável pelo seu desenvolvimento hoje pouco se vê nas tropas escoteiras. A preocupação com o jovem o leva a outros extremos como se a natureza, as descobertas, as grandes aventuras foram esquecidas. Falam-se em outra juventude. Uma juventude que busca outro tipo de entretenimento. Ouvir o ponto de vista do rapaz deixou de ser uma maneira simples de atingir o método escoteiro. Agora se discute o que é bom para ele sem perguntar se ele quer realmente aquilo que está sendo dado.


                  Se este é o que precisamos para desenvolver o método escoteiro, se isto leva a manter o jovem por mais tempo no escotismo, se isto irá trazer os resultados que esperamos de homens e mulheres dignos para a nação fico em dúvida. Estamos fazendo um escotismo para jovens de maior poder aquisitivo e esquecendo o que Baden-Powell disse quando criou as bases para o movimento. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam do Escotismo.

 Comparar o passado com o presente é esquecer que devemos evoluir sempre em busca de novos caminhos e conhecimentos. Entretanto o escotismo que B.P criou em 1907 é considerado como ultrapassado e ineficaz por muitos dos Lideres Escoteiros de hoje. Como a grande maioria não teve a vivencia escoteira quando jovem se apegam em uma metodologia moderna tentando provar que agora o escotismo tem um novo caminho uma nova concepção. Verdade?