Crônicas de
um Chefe escoteiro.
Finalmente
cheguei a Gilwell Park.
Duas da manhã. Cochilando ainda
escrevia meu novo livro. O telefone tocou. Parei de escrever pensando se o
titulo era correto: - “Dez passos para ser um Politicamente Correto da UEB”.
Atendi. Surpresa, nada mais nada menos que o Scout Bear Grylls, celebre
Escoteiro Inglês e muito meu amigo. – Chefe Vado Escoteiro, desculpe incomodar
esta hora, mas recebi da Rainha Elizabeth Alexandra Mary Windsor Isabel II para
convidar o Senhor a uma recepção no Palácio de Buckingham. Estarão presentes
toda a realeza e o Principe Willian me incumbiu de dizer que é seu fã. Conversamos
como bons amigos no idioma inglês no melhor estilo Oxfordiano. Confirmei minha
ida.
Em Cumbica tomei meu lugar na
primeira classe em um voo da British Arways. A simpática Flight Attendant
(aeromoça) me recebeu como se eu fosse um Chefe de Estado. – Sir Osvald!
Desculpe chamá-lo assim, mas me disseram que receberá o título das mãos da
Rainha e saiba que também sou sua fã! – Demais. Linda, simpática, graciosa
falando assim com o Chefinho Vado matuto das Minas Gerais. Foi um voo tranquilo.
Durante a viagem beberiquei um autêntico Ballantines que escolhi dentre os
Blach and White, Buchanans e Burrberrys. No almoço Pedi uma Omelete de cinco
mil dólares, igual a que comi no Norma’s Restaurante e no Hotel Le Parker
Meridien em Nova York.
Pousamos as 6:15hs no
Aeroporto Heathrow. Gosto da pontualidade britânica. Atrasamos seis segundos e
o Comandante Ehlmut Wick, filho do célebre aviador da Segunda Guerra Major
Helmut Wick pediu desculpas pelo atraso. Eita povo de Baden-Powell, são demais!
Uma limusine me esperava e fui direto para o Palácio da Rainha. Soube que a
Câmara dos Lords iria formalizar meu titulo de Lords cujo certificado já recebera
via Correios com seis meses de atraso. Eita correio do Brasil não tá com nada! Porque
tanta homenagem? Será pelo fardão que me entregaram com o titulo dado pela
Academia Escoteira de Letras? Ela ainda não existe e tem muitos dando palpite.
Fiquei pouco tempo no Palácio. Meu intuito
era ir direto a Gilwell Park para o Fogo de Conselho do Ano. O convite era de
Baden-Powell meu velho amigo a quem admiro muito. Bear Grylls fez questão de me
levar. Estava sem graça ao dizer: - Chefe Sir Vado, recebi um telegrama das
autoridades escoteiras brasileiras. Disseram que o senhor não tem registro,
veste o caqui em vez da vestimenta, não usa a camisa prá fora e não pagou a
taxa de viagem a eles em dólares. Pediram para não receber o senhor. Pensei
comigo: - Que autêntica palhaçada! Risos.
No célebre portão de entrada
de Gilwell, vi o machado cravado num tronco, idealizado por Francis Gidney a
quem todos chamavam carinhosamente de “homem-rapaz”. O machado se tornou um
símbolo do Parque de Gilwell. Foi construída uma cabana no parque com o nome do
seu benfeitor Francis Gidney que até hoje é usada. O pior estava a acontecer.
Não sei se à custa deles ou da UEB diversos dirigentes brasileiros estavam lá gritando
que eu não poderia entrar. Cambada de idiotas! Foi então que Percy Bantock
Nevill, um espirito amigo me levou por outra trilha onde confirmei que é mais
verde a grama lá em Gilwell.
Minha visão se estarreceu. Em
volta de um pequeno fogo sentados em tocos de madeira lá estavam: - Lord
Baden-Powell, Percy Bantock Nevill, John Gayfer, Francis Gidney, o escoteiro americano
Frederick Russell Burnham, Sir William de Bois Maclaren, a esposa de BP Olave
St. Clari Soames, a Chefa americana Juliette Lowe, a Srta. Vera Barclay, Sir Percy Everet, Jonhn Thurman e
muitos outros. Ops! Esqueci-me do meu amigo Floriano de Paula e Darcy Malta. Estava
embasbacado! Não merecia tamanha honraria. Aproximei-me deles, todos ficaram de
pé e vieram me abraçar. Chorei. Isto sim era fraternidade diferente dos dirigentes
e donos do poder do escotismo no Brasil e em alguns países do mundo.
Baden-Powell com seu sorriso
cativante me convidou a sentar ao seu lado. Quando ele ia fazer a abertura do
fogo, quando começou a chamar os Ventos do Norte, os Ventos do Sul eis que uma
cambada de Politicamente Corretos da Escoteiros do Brasil invade o campo. Aos
gritos de acabem com o Vado Escoteiro, acabem com esta tradição besta, eles não
estão registrados e não tem direito de se chamar escoteiros. Nós sim, temos
registro no IMPI! Quanta boçalidade. Graças a Deus que ao meu lado estava meu
bastão escoteiro de um metro e setenta, duas e meia polegadas com ponteira de
aço. Eles iriam ver como eu era no jogo dos bastões que aprendi com um Zulu nas
Matas de Luanda.
A coisa começou a pegar fogo.
Levei um catiripapo na orelha. Tentei revidar, mas nunca vi tantos puxas saco
da UEB reunidos. A gritaria era demais. Os Grandes chefes do Passado estavam
perplexos com tudo aquilo. Eles eram fraternos, irmãos, davam as mãos a todos
que amavam o escotismo independente de sua condição, raça, cor ou escolha
pessoal da associação. Tremia de raiva, não sabia mais o que fazer. Apanhava e
batia. Gritava feito um louco. Uma vozinha doce e suave me chamava:
- Vado Escoteiro, acorda! Acorda
meu querido. Outra vez estes pesadelos? Marido, você precisa ter mais calma,
afinal aprendeu que a fraternidade não é só uma palavra é muito mais. – Sábia a
minha mulher. Perdi o melhor de tudo, o fogo de conselho que sempre imaginei
participar. Mas me desculpem estes politicamente corretos, será este mesmo o
escotismo que querem fazer?
Nota de rodapé: - Ops! Não se revoltem. Calma, é apenas
um artigo divertido e sem nexo do Chefinho Vado. Sem ofensas. Não me levem a
mal. Sou um pobre escoteiro metido a escritor que gosta de escrever sobre tudo.
A história é inverossímil e sem cabimento. Assim não me processem, pois os que
me conhecem sabem que não posso ser processado. Sou duro, não pago advogado e
nem tenho onde cair morto! Kkkk. E viva Baden-Powell!