Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
O azulão que
fez história.
Quem não se lembra? Quando
surgiu? Os antigos escoteiros contam que sempre existiu com a mesma cor e o
mesmo brim. Tem cem anos? Não sei, mas eu e muitos que estão lendo e que foram
lobinhos sabemos e conhecemos bem o azulão. Um uniforme que deixou saudades. Hoje
sei que algumas alcateias estão mudando para a vestimenta. Já aparecem lobinhos
e lobinhas com a camisa fora da calça, roupa larga, sem medida própria que
desfigura quem a veste. Afinal o exemplo é o Chefe. Sem desmerecer, o preço da
vestimenta daria para comprar três azulões. Mas isto é outra história. Aqui a
intenção é falar do azulão.
Onde quer que você fosse, onde
quer que você ouvisse falar eles os azulões eram idênticos em todos os cantos
do Brasil. Se você visitasse uma alcateia no sul ou no norte do Brasil não iria
encontrar diferença. Sempre com suas meias cinza, seus calçados pretos, sua
calça e camisa de brim azul, e seu boné de lobo. Quem os visse sorrindo uniformizado
sabiam que eles eram perfeitos no dobrar do lenço e na imagem da apresentação
pessoal que faziam quando uniformizados. Notaram que eles eram quase todos
iguais? Não havia moda de cobertura. Era o boné e pronto! Dava gosto de ver os
azulões. Brincavam, cantavam, corriam, faziam caminhadas e sempre com aquele
uniforme bem postado que dava gosto ver o garbo e boa ordem.
No passado não havia camisetas
com logotipo do Grupo ou da Região sem contar agora os da Escoteiros do Brasil.
(Sempre tem um querendo faturar). Voce via os azulões nas reuniões, nas
atividades sociais, nos acantonamentos, nas excursões nas viagens de trem ou
ônibus sempre impecáveis em seus uniformes. Lembro que até a criação do famoso
traje que a Escoteiros do Brasil enterrou a sete palmos, as chefes usavam
também o azulão. Como sempre lindas, impecáveis, sem invenções de cobertura.
Algumas até usavam o boné de lobo, mas a maioria não.
O azulão seguia a sina de bons
lobinhos. Quando você adentrava em uma sede e via alguns lobos com seus
uniformes azuis já desbotando era bom sinal. Sinal que ele tinha tempo de
lobinho. Lá estava suas estrelas de atividade, sua 2ª Estrela no Boné de lobo,
e claro ele podia ser um Segundo ou um Primo com suas tiras amarelas no braço
esquerdo. Ou será o direito? Não me lembro mais. A mamãe ou a titia cortava um
triangulo pequenino em feltro para identificar a cor da Matilha. Houve uma
época que existia o Mor. Escolhido entre os mais antigos dos lobos. Depois um “çabio”
da UEB achou que não devia ter mais.
Tudo muda. Dizem que a
modernidade se obriga a todos mudarem. O passado é passado dizem os novos
pensadores e pedagogos escoteiros. Lembro que em uma década fizeram mais de
seis tipos do “Manual do Lobinho”. Cada líder de lobinhos querendo ficar na
história (ou faturar?). Para que? O de BP não bastava? Para mim sempre foi
aquele que usei e ajudei a formar lobos por anos e anos de atividade como Chefe
deles. Chamam-me de saudosista, será que sou? Se for amo ser um deles. Afinal
quantos vestiram seus azuis e hoje não voltam ao passado para lembrar dos
velhos e lindos tempos?
O que importa a saudade? O que importa a tradição? Afinal porque ser
diferente em pleno século XXI? Li outro dia um comentário de uma Chefe entendida
em uniforme que dizia ou respondia a uma dúvida de algum Chefe: - Todos mudam.
Mais de 20 países já fizeram mudanças no uniforme. Não podemos ficar atrás.
Afinal é uma escolha e devemos abraçar esta escolha. Parece aquele politico
puxa-saco que dizia: - O que é bom para a Inglaterra, para os Estados Unidos é
bom para o brasil!
Pois é. Poderia dizer muito
sobre estes dizeres de mudança. Quá! Já disse e escrevi muito sobre tradição. Como
sou antigo, do tempo da onça e como dizem alguns Papas-escoteiros modernos, eu
ainda vivo no Tempo das Diligências. Será? Como sou brasileiro e aqui nunca
andei de diligencia, eu só as conheci através dos filmes de “faroeste” onde a
Wells Fargo era uma companhia de diligências do Velho Oeste. “Tempo bão sô”!
Mas do azulão não
esqueço nunca. O usei por quase quatro anos. Amo este uniforme como amo o
caqui. Posso dizer que sou um azulão e um caqueano de coração, afinal fui um
deles com muito orgulho. Deixo aqui meu fraterno abraço e meu Melhor Possível
aos lobos azulões. Eles nas suas trilhas da Jângal seguem a orientação de Akelá
de Balu da Bagheera da Kaa, da Raksha e de tantos que lá estão ao seu lado
mostrando que a vida na selva é linda e entre amigos ela é mais fácil de ser
vencida.
Azulões, lobos, boné típico, primeira e
segunda estrela, quantos anos? Sei não. Cada um sabe contar como foi e o que
sentiu quando vestiu pela primeira vez aquele lindo uniforme azul. Saudades de
um Azulão que mantém ainda em alguns a velha saga das tradições que muitos não
querem esquecer.
Nota de rodapé: - Um domingo qualquer. Sol, chuva,
nuvens escuras no céu. Diz à meteorologista que vai chover a cântaros no final
da tarde. Que venha a chuva gosto dela. Sentei na poltrona, liguei meu
computador, minha máquina de sonhos e fiquei pensando. Escrever o que neste
domingo? Pum! Eureka! Porque não escreve dos azulões? Afinal eles estão aí até
hoje e mesmo que alguns chefes estão impondo a vestimenta, os que já foram
nunca esqueceram dos tempos que portavam com orgulho seus azulões. “Bom demais
sô!”.