domingo, 8 de outubro de 2017

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O azulão que fez história.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O azulão que fez história.

                Quem não se lembra? Quando surgiu? Os antigos escoteiros contam que sempre existiu com a mesma cor e o mesmo brim. Tem cem anos? Não sei, mas eu e muitos que estão lendo e que foram lobinhos sabemos e conhecemos bem o azulão. Um uniforme que deixou saudades. Hoje sei que algumas alcateias estão mudando para a vestimenta. Já aparecem lobinhos e lobinhas com a camisa fora da calça, roupa larga, sem medida própria que desfigura quem a veste. Afinal o exemplo é o Chefe. Sem desmerecer, o preço da vestimenta daria para comprar três azulões. Mas isto é outra história. Aqui a intenção é falar do azulão.

                Onde quer que você fosse, onde quer que você ouvisse falar eles os azulões eram idênticos em todos os cantos do Brasil. Se você visitasse uma alcateia no sul ou no norte do Brasil não iria encontrar diferença. Sempre com suas meias cinza, seus calçados pretos, sua calça e camisa de brim azul, e seu boné de lobo. Quem os visse sorrindo uniformizado sabiam que eles eram perfeitos no dobrar do lenço e na imagem da apresentação pessoal que faziam quando uniformizados. Notaram que eles eram quase todos iguais? Não havia moda de cobertura. Era o boné e pronto! Dava gosto de ver os azulões. Brincavam, cantavam, corriam, faziam caminhadas e sempre com aquele uniforme bem postado que dava gosto ver o garbo e boa ordem.

                No passado não havia camisetas com logotipo do Grupo ou da Região sem contar agora os da Escoteiros do Brasil. (Sempre tem um querendo faturar). Voce via os azulões nas reuniões, nas atividades sociais, nos acantonamentos, nas excursões nas viagens de trem ou ônibus sempre impecáveis em seus uniformes. Lembro que até a criação do famoso traje que a Escoteiros do Brasil enterrou a sete palmos, as chefes usavam também o azulão. Como sempre lindas, impecáveis, sem invenções de cobertura. Algumas até usavam o boné de lobo, mas a maioria não.

                 O azulão seguia a sina de bons lobinhos. Quando você adentrava em uma sede e via alguns lobos com seus uniformes azuis já desbotando era bom sinal. Sinal que ele tinha tempo de lobinho. Lá estava suas estrelas de atividade, sua 2ª Estrela no Boné de lobo, e claro ele podia ser um Segundo ou um Primo com suas tiras amarelas no braço esquerdo. Ou será o direito? Não me lembro mais. A mamãe ou a titia cortava um triangulo pequenino em feltro para identificar a cor da Matilha. Houve uma época que existia o Mor. Escolhido entre os mais antigos dos lobos. Depois um “çabio” da UEB achou que não devia ter mais.

                 Tudo muda. Dizem que a modernidade se obriga a todos mudarem. O passado é passado dizem os novos pensadores e pedagogos escoteiros. Lembro que em uma década fizeram mais de seis tipos do “Manual do Lobinho”. Cada líder de lobinhos querendo ficar na história (ou faturar?). Para que? O de BP não bastava? Para mim sempre foi aquele que usei e ajudei a formar lobos por anos e anos de atividade como Chefe deles. Chamam-me de saudosista, será que sou? Se for amo ser um deles. Afinal quantos vestiram seus azuis e hoje não voltam ao passado para lembrar dos velhos e lindos tempos?

                 O que importa a saudade? O que importa a tradição? Afinal porque ser diferente em pleno século XXI? Li outro dia um comentário de uma Chefe entendida em uniforme que dizia ou respondia a uma dúvida de algum Chefe: - Todos mudam. Mais de 20 países já fizeram mudanças no uniforme. Não podemos ficar atrás. Afinal é uma escolha e devemos abraçar esta escolha. Parece aquele politico puxa-saco que dizia: - O que é bom para a Inglaterra, para os Estados Unidos é bom para o brasil!

                  Pois é. Poderia dizer muito sobre estes dizeres de mudança. Quá! Já disse e escrevi muito sobre tradição. Como sou antigo, do tempo da onça e como dizem alguns Papas-escoteiros modernos, eu ainda vivo no Tempo das Diligências. Será? Como sou brasileiro e aqui nunca andei de diligencia, eu só as conheci através dos filmes de “faroeste” onde a Wells Fargo era uma companhia de diligências do Velho Oeste. “Tempo bão sô”!

                 Mas do azulão não esqueço nunca. O usei por quase quatro anos. Amo este uniforme como amo o caqui. Posso dizer que sou um azulão e um caqueano de coração, afinal fui um deles com muito orgulho. Deixo aqui meu fraterno abraço e meu Melhor Possível aos lobos azulões. Eles nas suas trilhas da Jângal seguem a orientação de Akelá de Balu da Bagheera da Kaa, da Raksha e de tantos que lá estão ao seu lado mostrando que a vida na selva é linda e entre amigos ela é mais fácil de ser vencida.


                Azulões, lobos, boné típico, primeira e segunda estrela, quantos anos? Sei não. Cada um sabe contar como foi e o que sentiu quando vestiu pela primeira vez aquele lindo uniforme azul. Saudades de um Azulão que mantém ainda em alguns a velha saga das tradições que muitos não querem esquecer.

Nota de rodapé: - Um domingo qualquer. Sol, chuva, nuvens escuras no céu. Diz à meteorologista que vai chover a cântaros no final da tarde. Que venha a chuva gosto dela. Sentei na poltrona, liguei meu computador, minha máquina de sonhos e fiquei pensando. Escrever o que neste domingo? Pum! Eureka! Porque não escreve dos azulões? Afinal eles estão aí até hoje e mesmo que alguns chefes estão impondo a vestimenta, os que já foram nunca esqueceram dos tempos que portavam com orgulho seus azulões. “Bom demais sô!”.