Conversa ao
pé do fogo.
Lembranças que
marcam.
Eu
acredito e tenho certeza que você já teve a oportunidade de em volta de um
fogo, descansando de um jogo em um curso, sentado em uma pedra no alto de uma serra,
descansando na trilha de uma montanha, ou mesmo a pé sentindo o vento o sol ou
a chuva, e em noites escuras olhando a trilha ouvindo os amigos que vão
desfiando o porquê são escoteiros e outros afirmando do que mais vibraram
nestes anos que estão participando e amando o que fazem. Surgem causos, surgem
notas, surgem trolas e tem até aqueles que gostam de ouvir sem falar. Surgem contos
estupendos, comentários maravilhosos tudo que o escotismo tem a “audácia” de
oferecer.
O Fogo de Conselho é o
campeão. Cada um tem uma história para contar, tem uma canção para lembrar, tem
uma esquete para comentar. Muitos nunca esquecem a cadeia da fraternidade. Eita!
Dá até vontade de chorar. Tem os Fogos em família, em Patrulha, em tropa ou alcateia
e tem até os que se sentaram em volta dele nos mais estranhos lugares. Outros
se esbaldam em contar como entraram o motivo, a ansiedade, a dúvida e quando
sentiram no peito o amor pela causa escoteira se sentiram realizados. Tem causos
e causos. Do amigo, do Chefe, do curso da jornada, da chuva intermitente do
fogo que pegou na barraca, do lampião que não quis acender. Até mesmo o calo da
jornada é motivo de piada para nunca mais esquecer.
Tem aqueles que são filósofos,
contam seus causos em prosa para demostrar sabedoria e procuram cativar a todos
na sua realidade empírica e mostrando sua aparência como se tivesse sido um Friedrich
Nietzsche ou até mesmo um Platão que submergiu do passado para o presente. A
gente ouve embasbacado o que ele diz e conta. Quanta sabedoria! E o calado que
resolveu falar. Ninguém riu quando ele disse que até hoje não sabe por que é
escoteiro e o que houve de mais belo em sua vida escoteirando.
Juventino Loperácio, um Chefe de
olhos simples, sem muita afetação contou para nós um dia lá pelos lados da
trilha do Elefante (não me peça para explicar) que sua maior lembrança era do
apito do Chefe! Isto mesmo. Ele era intendente e ficava de olhos e ouvidos
abertos o tempo todo no canto de Patrulha só para saber quando seria chamado.
Todos gostavam do apito. Afinal era hora de receber a ração alimentar, ver o
que seria deglutido e ver o tempo de preparar. Juventino Loperácio gostava de
ouvir os quatro apitos longos. Eu sei que muitas tropas fogem da rotina de
apitos. É como se o Chefe quisesse dizer o que iria fazer e para quem.
Chefe, disse Juventino Loperácio,
eu sei que um apito longo é para fazer silencio, dois apitos chamando o Monitor,
três a tropa e quatro alvorada. Mas Chefe, o meu Chefe chamava o intendente com
quatro apitos. E quer saber a Patrulha adorava o apito do Chefe. Muitas vezes passávamos
horas sem vê-lo e só por sinais de apito sabíamos que ele ainda estava vivo! A
gente ouvia Juventino Loperácio e ria sem desmerecer. Ele contava com uma
simplicidade de matuto que sua história era assimilada sem risos ou troladas.
Eu conheci tropas onde um
apito era para chamar o intendente. Dois era para chamar os monitores. Três
para toda a tropa e quatro para a chefia se reunir com o Chefe do Grupo ou
atual Diretor Técnico. E para complicar tudo uma tropa do Alto Rio Doce não
usava apito. O Chefe gritava imitando um enorme chifre do Kudu. Eu fico me
perguntando por que no Brasil não pegou muito o uso do Chifre do Kudu. Não sei por
que, pois BP o usou por muito tempo assim como até hoje é usado em Gilwell
Park. Mas voltemos ao tema, às lembranças que marcam. São tantas que ouvir aos chefes
em rodas de fogo dariam um belo livro para contar.
Eu já ouvi histórias marcantes dos
motivos que levaram os amantes do escotismo porque estão aqui até hoje ou
porque mesmo saindo nunca jamais esqueceram os belos tempos. Mas a melhor de
todas sem desmerecer outras que estão por vir foi do Chefe Manoel da Hora Pontual.
Não riam. É verdade. Ele mesmo contou que seu pai quase deu um tiro no responsável
do cartório. Mas vamos para sua história. Chefe entrei no escotismo por causa
da Dolores minha mulher! Um amor “mais maior de bão”! Ninguém entendeu nada.
Ele continuou: - Ela era Assistente de lobinhos. Disse que só namoraria comigo
se eu entrasse para os escoteiros e fizesse a promessa. Fiquei dois meses
pensando o que fazer e então eis-me aqui, de calça curta e tudo!
Eu gosto de ouvir histórias,
contar histórias, criar da minha imaginação. Se me perguntarem por que sou
escoteiro eu fico sem jeito para contar. Uma “bolinha de gude”. Isto mesmo! Mas
hoje não vou contar, quem sabe um dia? E agora meu amigo ou minha amiga, não
deixe de comentar aqui o porquê entrou para ser escoteiro ou se tiver uma
lembrança que nunca esqueceu, “chamegue” sua história sem reclamar! Risos.
Nota de rodapé: - Contar história pode ser uma sinfonia.
Desde que nesta sinfonia, orquestrada com palavras, entrem todos os
instrumentos: do sopro da respiração, ao metal da voz; do dedilhar do corpo, ao
ribombar do olhar. Contar histórias pode ser uma opereta. Musica gostosa para ouvir,
as partes embaladas pelo ritmo da fala se alternem com o que se narra com alma.
E você? Não tem uma historia para contar porque é um Escoteiro? Entre na roda,
tome um cafezinho e traga sua palavra encantadora, tire do coração... Palavra
de Contador de História!