Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Onde a
natureza existe, ainda temos motivo para viver.
Tenho sentido que nos dias de hoje, onde a
máquina da modernidade faz parte da vida de todos a natureza, os sonhos, o
acreditar que existe algum além da realidade está se tornando uma ilusão.
Chefes dizem que seus jovens não pensam mais em aventuras, de serem heróis na natureza,
de sentir o cheiro do mato, o cheiro da terra, das flores do campo e das
florestas. Quem já teve o privilégio de acordar na madrugada para ver um nascer
do sol, subir em uma montanha para ver o vermelho do sol por, rir do vento que
sopra e trás pingos de chuva molhada, deitar em uma relva a noite e admirar a
dança das estrelas isto ficou no passado?
Quem um dia teve o privilegio
de ver lobos olhando no alto das árvores, bivaqueando em uma floresta só para
se sentir um Mowgly, eles de olhos arregalados ao adentrar em uma gruta porque
pensaram que ali era a morada de Akelá, Raksha e seus irmãos lobos. Quem um dia
subiu com escoteiros e seniores montanhas e picos incríveis porque disseram a
eles que a vista era admirável para ver rios serpenteando montanhas, por do sol
portentoso e nascer do sol inesquecível? Quem um dia pelo menos tentou a andar
com o vento a favor ou contra só para se aproximar de um animal amigo, um pássaro
ou mesmo um peixe a procura de um lugar para desovar na época da Piracema?
Tive a alegria de ver patrulhas
criarem dogmas, místicas e símbolos que todos faziam questão de aplaudir. Vi
Pioneiros se aventurando em grutas, passando noites em vigília, conversando
acordado sobre os princípios que BP deixou em seu Caminho para o Sucesso. Vi
criações conforme as lendas dos Cavaleiros da Távola redonda, realizadas por sêniores
e guias, por pioneiros e pioneiras. Vi archotes sapecando o vento em plena
floresta, e muitos jovens recebendo nomes pomposos tirados da imaginação. Vi Monitores
fazendo juras de cumprir a lei, com chefes e uma espada rodopiando no ar,
bandeiras desfraldadas em picos incríveis só para que para que possam fazer
juras de seu amor ao escotismo.
Vi fogos de conselhos em lugares
impossíveis com fogos surgido do nada, apenas com um gritar de um escoteiro ou sênior
ou pioneiro que em gestos grandiosos e eloquentes tirados da imaginação gritando:
“Que os ventos do norte, que os ventos do sul, do leste e do oeste tragam os
bons espíritos para esta família de Baden-Powell” – Ascenda-te fogo! E o fogo
explodia em chamas iluminando a escuridão da mata, da montanha ou da caverna. Contei
histórias e vi outros também contando em noites sem lua ou com luar, onde a
mente dos jovens viajavam em busca das personagens, vivendo um sonho que ainda não
aconteceu.
Hoje tento pisar no meu
chão escoteiro que me dizem existir. Asfalto sem natureza, sem sonhos sem
ilusão. Procuro ver onde estão os sonhadores, os criadores de sonhos, de heróis
escoteiros, vivendo ou criando místicas, fazendo realizar seus dogmas,
acreditando que lendas podem se realizar. Quem não pode criar ou vender seus sonhos
deixa de viver como escoteiro. Onde estão os Cavaleiros do Rei Arthur? Onde esta
a espada mágica do Reino? E Merlin não pode fazer a mágica de criar um fogo
escoteiro místico feito para marcar e ser inesquecível?
Onde estão os lobos, os
escoteiros, os seniores ou pioneiros que ainda acreditam que podem voar em um
Gavião-Real ou montar um Condor dos Andes que só perde em tamanho para o Condor
Marabu ou uma Águia de Mar de Steller, com seus 87 a 105 metros de envergadura?
Quem um dia conseguiu acariciar as asas do Albatroz errante que pode viajar até
300 quilômetros em um dia? São sonhos? Mas não é bom sonhar e tentar quantas
vezes for preciso para realizar seus sonhos? Tentemos ver um acampamento, onde
se construiu uma Ponte Pênsil, um Ninho de Águia, um forno para iguarias nunca
antes navegadas. Seria este o começo de tudo?
Precisamos de chefes que
façam seus escoteiros viajar na imaginação para dar um toque da realidade e da
fantasia acontecer. Deixar que eles procurem o alvorecer de um novo dia, uma
jornada sem hora de parar, uma sombra gostosa para descansar. E se ao lado
correr um regato tocando aquela música maravilhosa do Chuá... Chuá é hora do Chefe
sorrir e dizer: - Meus jovens amigos se preparem, pois à noite iremos viajar
pelas estrelas cintilantes do céu! Não deixem que os sonhos fiquem na miragem
de um computador. Nós chefes temos a obrigação de abrir mentes para mostrar que
a natureza existe de forma palpável, no perfume da floresta que só pode ser
sentido a quem estiver junto dela.
Não
podemos deixar de sonhar, de realizar e mesmo que seja um numero concreto que
ele seja elevado com os ventos que sopram vindo do mar. Tentem mostrar a chuva,
seja ela uma pequena aragem seja ela uma tempestade, pois só assim iremos lembrar
e dar valor aos sonhos sonhados. Sim,
mostrar que eles podem ser aventureiros sem tolher seus cantos suas vontades
seus caminhos por onde vão percorrer. Escotismo ainda é cheio de cantos, de
sonhos, de dogmas de místicas e de seduções das miragens das lendas que não se
pode duvidar que possam acontecer. Só o Chefe pode mostrar e criar tudo isto,
pois este é o verdadeiro sentido de ser escoteiro.
Nada impossível se ensinar
como o Código Samurai exemplifica: – “A perfeição é uma montanha impossível de
escalar e ela deve ser escalada um pouco a cada dia”. Nós chefes não podemos
discordar destes sonhos e achar que são impossíveis de realizar. Temos que
deixar correr na imaginação tudo que possa dar uma fantástica guarida para se criar
a fantasia como disse aquele poeta: - Ninguém vive sem ilusões, sem uma bela
imaginação, sem criar uma fantasia ou devaneio.
Enquanto nos mantivermos
apáticos, sem sonhos, sem ilusões deixando que a modernidade nos façam esquecer-se
do simbolismo e a beleza da natureza, deixaremos de acreditar no verdadeiro
sentido escoteiro. Devemos sim ensinar aos jovens que a natureza é a verdade da
vida. Neste exato momento, onde você está e com a natureza ao seu lado. Ela não
é uma tela, uma máquina um programa ou um perfil uma imitação de imagem. Assim
como a natureza é nossa maior virtude, ela está na simplicidade e nos olhos de
quem realmente pode ver, e quando não exploramos as belezas ao nosso redor,
perdemos a capacidade de sentir, de filosofar e nos tornamos estrangeiros em
nossa própria terra.
Nota de Rodapé - Conta-se que,
mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para
toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das
florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que
entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em
frente. Se tivesse cem anos para viver, nem sempre teremos o tempo
para fazer. Às vezes, podemos passar anos sem viver em absoluto, e de repente
toda a nossa vida se concentra num só instante. Deixe os nossos jovens viverem
e aprenderem fazendo, errando até fazer o certo.