segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Conversa ao pé do fogo. Os pais dos escoteiros.


Conversa ao pé do fogo.
Os pais dos escoteiros.

                      Era uma noite calma, até quente para aquele mês, eu e mais doze chefes estávamos sentados em volta de um foguito quando o Chefe Popeye soltou esta: - Seria muito bom se não tivéssemos pais para encher a paciência! Olhamos espantados para ele. – Não se fez de rogado – Veja só continuou quando chegam ao grupo temos que perder um enorme tempo para explicar as vantagens do escotismo. Depois mais um tempo enorme para mostrar o que podemos fazer para ajudar. E olhe, tem muitos que nem prestam atenção só olhando para o relógio como se ele fosse mais importante com a formação do seu filho. Perdemos um enorme tempo tentando incutir em suas cabecinhas o método Escoteiro e o principio de aprender fazendo. Quando comentamos sobre os acampamentos é um Deus no acuda! – Tem cobra? Tem carrapato? Tem Leão e onça? Mas Chefe ele vai comer a comida lá do mato? Quem é o cozinheiro? E os remédios dele? E se ele tiver fome? Coitadinho do meu filhinho!

                      Queira ou não nenhum Chefe deixou de pensar e concordar em parte com o que o Chefe Popeye dizia. Seria muita pretensão pensar que eles um dia pudessem ter sido escoteiros e já chegassem sabendo de tudo. – Afinal continuou o Chefe Popeye – Já contaram o tempo que perdemos com eles? Fazemos visitas em suas casas e eles dificilmente vão às nossas. Motivamos sua presença na reunião de pais que de pais só tem nome, pois a maioria que aparecem são mães. Todo sábado a maioria leva seus filhos na reunião e muitos nem terminou o tempo ficam no pátio a olhar para o relógio como se estivéssemos atrasados! Sorri para mim mesmo. Nesta parte eles tinham razão. E nos acampamentos? A mãe a abraçar o filho ou a filha, o pai nos olhando como se fossemos fazer uma sopa do filho dele. E os avisos? – Meu filho tem isto e aquilo! Qualquer coisa corra com ele para o hospital e nos avise!

                   Ninguem cortou o Chefe Popeye. Ele de cabeça baixa, olhando a grama molhada da noite enluarada sorria baixinho. – Sabem, tem uma mãe que teve a pachorra de me dar uma enorme sacola com tudo que ele comia, pois era enjoado e não comia qualquer coisa! – E a lista dos remédios? Enorme. As tantas deem isto a ele, as tantas mais estas e assim vai a lista sendo programada para os três dias de acampamento! E se você precisar deles? Tem alguns que aceitam logo seu convite. Querem ficar perto dos filhos e se resolvem participar como chefes tome cuidado. A proteção que dão nos faz ficar vermelhos de raiva. Afinal ele não foi ali para aprender a viver a vida como ela é? Aprender a se virar sozinho? Aprender a fazer fazendo?

                  Pois é, não tiro a razão do Chefe Popeye. Claro que tem muito do que ele disse que não é assim, mas tem outras que ele está inteiramente certo em suas ponderações. Como somos um movimento quase desconhecido, nossos marketing deixa a desejar. A maioria dos pais nem sabem para que serve o escotismo. Sempre é o menino ou a menina que se entusiasma e na primeira vez recebe um senão dos pais. Eles não desistem e um dia lá está ele com seu filho para matriculá-lo. Os pais não a mãe. O pai sempre está ocupado. Não dizem que mãe é mãe? Olhei para o Chefe Popeye e na minha mente completei um pouco de suas ponderações. Realmente na maioria dos grupos é uma dificuldade arregimentar os pais. Quando fazemos uma Assembleia não perguntamos qual seria o melhor horário e dia. Nunca chegaríamos a um consenso comum.

                     Hoje com a entrada de milhares de pais tudo tem mudado um pouco. Mas ainda vejo comentários deles dizendo o que fizeram com seus filhos, que eles são prejudicados, que o Chefe tal não os ensina que o monitor é mal educado e assim vai. Será que estes pais que chegaram agora estão mesmo ajudando ou prejudicando a formação do seu filho conforme preceitua o método Escoteiro? Sei que teremos leitores mil a dizerem e até aconselharem a melhor forma de agir. Eu posso até concordar em tese, mas não sei se na prática seria assim mesmo. Posso afiançar que nenhum Grupo Escoteiro dentro do pensamento da UEB através dos seus estatutos pode viver sem eles. Os pais são o baluarte e a segurança de uma unidade escoteira. Mas lembremos que pai é pai, Chefe é Chefe. O respeito de ambos deve ser fato primordial e até não vejo dificuldade de uma conversa franca para amenizar discórdias.

                               Já pensaram continuou o Chefe Popeye se os pais tivessem sido escoteiros? Beleza! Meio caminho andado. Hoje se não tivermos uma comunidade local que dá apoio à maioria dos grupos não sei se teríamos escotismo em muitas cidades brasileiras. A manutenção do Grupo Escoteiro não é fácil. Parodiando o Chefe Popeye se os chefes não andarem com suas próprias pernas o sucesso será impossível. O convencimento, o trabalho individual com cada um deles, o apoio para arregimentação de fundos, os planos de sede própria tudo deveria ser de responsabilidade dos pais ou da comunidade próxima onde vivem. Mas não é assim que acontece em muitos Grupos Escoteiros. Tive experiências em diversas comunidades com Grupos Escoteiros. Em qualquer uma é possível fazer um bom escotismo, mas insisto, o trabalho não pode de maneira nenhuma sem a cooperação dos pais. Falta a presença de um profissional competente para fazer o marketing necessário onde todos pudessem ver as vantagens educacionais do escotismo.

                                 As regiões tentam a sua maneira colaborar, mas esta é mínima. Dar uma Autorização Provisória, ter a presença de um Escotista na abertura do grupo é muito pouco. Logo ele terão de andar com suas próprias pernas, os lideres correrem atrás de cursos, de literatura e a falta de um conhecedor do escotismo, bom conferencista para atender a demanda dos grupos em suas cidades é nula. Os distritos não vou a tanto. Eles salvo raríssimas exceções não tem meios financeiros de sobrevivência. Se não é o altruísmo e a força de vontade em ajudar do Comissário Distrital nem sei se existiriam distritos. Seria maravilhoso se os pais viessem já sabendo das vantagens do escotismo. Mas muitos deles olham com desconfiança, pois sabem que seus filhos precisam estar em mãos de pessoas competentes e o Chefe seria responsável a ponto de confiar?


                     Afinal quem iria ganhar com isto não é o Chefe e sim ele próprio e seu filho. Sei que existem diversas formas para arregimentar e motivar os pais. Mas sei também por experiência própria que sem o trabalho do Chefe nada irá dar certo. Chefe Popeye tem razão em muitas coisas. Ser Chefe Escoteiro hoje em dia não é fácil. Tem que ter altruísmo e abnegação se não desiste logo. Penso como o Chefe Popeye. Falta ação dos nossos dirigentes. Afinal valorizar os nossos voluntários escoteiros deveria ser uma norma diária na formação de um Grupo Escoteiro.

Nota de rodapé: - Você é pai de um escoteiro ou escoteira? Quem sabe de um lobinho ou Lobinha, pode até ser pai de sênior ou guia não importa. O importante mesmo é que haja diálogo, troca de ideias e respeito entre o Chefe e os pais. Participar é válido desde que pense que vai ajudar a todos e não ao seu filho ou filha. O artigo não diz muito, talvez falte mais dados e olhe eu não tiro a razão do Chefe Popeye. Leia e veja se estou errado ou não.